“Tá tudo bem ser diferente” é uma frase debatida, explicada e compartilhada pelo estudante de Publicidade e Propaganda Deives Picáz, de 20 anos. Repetida, repetida e repetida. Mas sem exaustão.
– Eu não me canso de desconstruir esse preconceito que as pessoas têm. Olhar com a sensação de que a pessoa com deficiência é incapaz – explica, mais uma vez.
O influencer digital tem agenesia de membros, má formação congênita que impediu, durante a gravidez de sua mãe, a formação do antebraço direito. No perfil do Instagram @deives, ele encara sua deficiência física da maneira como as demais pessoas também deveriam tratar: uma característica do seu corpo.
– Preciso explicar que minha deficiência não é um problema. É só uma característica. Assim como meu cabelo é castanho, como meus olhos são castanhos – compara, didática e pacientemente.
Pelo Instagram, o estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) alcançou 30 mil seguidores. Uma foto em especial viralizou: em frente ao espelho, o jovem faz um sinal de “V” com a mão, enquanto apoia o smartphone no outro braço.
Em casa, na cidade de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, ele instalou equipamentos para captação profissional de vídeos. Um dos posts repercutiu e acabou compartilhado pela equipe da atriz, cantora e campeã do último Big Brother Brasil (BBB 21), Juliette.
– Mesmo sem deficiência, ela é aliada à causa e se permite a desconstruir e aprende mais sobre o que é ser uma pessoa com deficiência – relembra.
O criador de conteúdo digital virou embaixador da “Dar a Mão”, uma associação de acolhimento, apoio e suporte a pessoas com agenesia de membros.
Com a família, ele discute conceitos ultrapassados, enraizados, criados e realimentados por décadas. Na manhã desta quinta-feira (3), debateu capacitismo – ideia de que pessoas com deficiência são inferiores àquelas sem – ao vivo na Rádio Gaúcha.
– A gente tem sempre que bater nessa tecla, porque o outro sempre acha que a gente não tá apto a estar naquele lugar de destaque, que a gente não é capaz de exercer aquela função. Quando na verdade aquela função é só mais uma comum, das milhares que a gente tem no dia a dia – disse, no programa Gaúcha Hoje.
Na escola, Deives estudou em turmas regulares, sem distinção entre os alunos. Até hoje, defende, os amigos que formou nesta época compreendem que a deficiência não impõe limite a seus objetivos.
– O que me limita é o olhar do outro sobre mim, achando que sou inferior. Ou um olhar supervalorizado, “um guerreiro, um exemplo de superação”. Isso é capacitismo – repete e repete, de forma necessária.