O Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) recebeu, pela primeira vez em 21 meses, uma colação de grau de turma em suas dependências, nesta quinta-feira (16). Os primeiros a participarem das formaturas presenciais foram os 38 alunos concluintes do curso de Medicina Veterinária. Na sexta (17) será a vez dos 63 formandos de Medicina.
O número de convidados foi restrito. Houve, ainda, exigência de apresentação do comprovante vacinal contra a covid-19 e do uso de máscaras PFF2 ou N95.
Com cadeiras no palco posicionadas com distanciamento, grupos de convidados de duas a três pessoas na plateia e todos os formandos usando máscaras pretas, o Salão de Atos exalava o sentimento de vitória e alívio. O fato de aquela ser a primeira turma a se formar de modo presencial após as restrições sanitárias foi lembrado nos discursos da oradora dos novos médicos veterinários, Lauren Fontella Margoni, e da professora paraninfa, Ana Cristina Pacheco de Araújo. A docente destacou as superações que o grupo enfrentou até chegar à formatura.
— Perdemos parentes e amigos sem podermos nos despedir. O mundo mudou e mostrou como somos frágeis, mas seguimos lutando contra a desigualdade, a miséria e a fome, que também matam. A ciência sempre foi, é e será o caminho da esperança — resumiu Ana Cristina.
Em meio a incertezas quanto às condições sanitárias que permitiriam uma retomada segura das cerimônias de colação de grau, a UFRGS anunciou há pouco mais de um mês o retorno do formato. Até então, as formaturas estavam ocorrendo em gabinete – individualmente ou em pequenos grupos – e online. Os formandos de Medicina Veterinária e de Medicina relatam que organizaram suas colações prevendo celebrações em pequenos grupos em gabinete, mas receberam a liberação da instituição para usar o Salão de Atos em meados de novembro.
— Foi muito corrido. A UFRGS me deu retorno da data para a cerimônia presencial na penúltima semana de novembro, mais ou menos. Então tivemos que correr para ajustar tudo e gerenciar a produtora, a faculdade e o pessoal do cerimonial — conta Karina Oberrather, 25 anos, que faz parte da comissão de formatura da Veterinária.
Inicialmente, a data prevista para a formatura da Veterinária era julho deste ano. Em função da pandemia, porém, a cerimônia foi adiada. Em dezembro, ocorrerão somente as colações dos dois cursos. Entre fevereiro e maio de 2022, porém, há outras 48 formaturas previstas, ainda que nem todas necessariamente presenciais. Todas as diretrizes de funcionamento do Salão de Atos estão no site da universidade. O espaço está com autorização de uso de um terço de seus 1.174 lugares.
Para Karina, a cerimônia presencial é a “cereja do bolo” de quase todo estudante universitário:
— Depois de anos de dedicação, poder subir no palco com teus colegas e ter tua família e amigos ali junto é muito especial.
A formanda em Veterinária Sarah do Prado Ribeiro, 25 anos, revela que já estava aceitando que a formatura seria em gabinete, mas que a liberação, especialmente podendo chamar convidados, foi uma surpresa maravilhosa.
— A UFRGS, para a maioria, é uma conquista difícil. A aprovação no vestibular já é uma vitória. Durante a graduação em uma universidade pública em turno integral, as exigências são grandes. A conclusão do curso de forma presencial é a concretização do sonho. Poder estar com a turma, familiares, professores que estiveram conosco no percurso é incrível — avalia Sarah.
Queli Dorn, 34 anos, que também está concluindo o curso de Veterinária, diz ainda não acreditar que realmente está se formando presencialmente. Para ela, a ocasião é importante devido à “emoção do momento, às memórias criadas, às fotos e para ver os colegas e professores, fazendo, assim, um fechamento de toda a trajetória da graduação”.
Medicina terá turma dividida
A colação de grau de Medicina será um pouco diferente da de Medicina Veterinária. Como a turma é maior – há 63 formandos –, foi necessário dividir o grupo em dois. Enquanto uma parte estiver no palco, a outra estará na plateia, aguardando ser chamada. De resto, os protocolos serão os mesmos.
Segundo Maurício Picolo Menegolla, 24 anos, um dos formandos, a turma acreditava que se graduaria em gabinete, em grupos de até quatro pessoas, nos moldes das colações que a Faculdade de Medicina (Famed) promoveu durante a pandemia. No entanto, com a liberação da realização de eventos pelo governo do Estado, surgiu a expectativa de poder se formar no Salão de Atos. A turma chegou propor uma colação ao ar livre.
— Queríamos uma formatura da turma inteira porque era o momento de reunir todos. Passamos a pandemia meio afastados, dispersos nos estágios no hospital. Nos últimos meses, começamos a ir bastante atrás, falar com a Famed para ver se conseguiríamos algum jeito de fazer a colação de toda a turma. Quando a UFRGS nos deu o ok, ficamos superfelizes — comenta Maurício.
Para o formando, o momento da formatura é de uma “emoção muito grande”. Ele conta que esta será a oportunidade de seus pais, que moram em Erechim, entrarem na UFRGS pela primeira vez.
Colega de Maurício, Leonardo Grabinski Bottino, 24 anos, relata que os formandos já estavam com contrato assinado com a produtora da formatura para fazer o evento em gabinete. Em novembro, porém, o anúncio de liberação das cerimônias no Salão de Atos fez com que a turma mudasse seus planos. Com as restrições, não foi possível seguir todas as tradições das formaturas em Medicina, como fazer fotos vestindo toga nos prédios da Famed e do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) – o registro foi feito em um sítio – e nem a festa a fantasia cem dias antes da cerimônia. No entanto, considera a colação em si no Salão de Atos importante.
— Quando houve essa mudança, eu fiquei bem feliz, e o resto do pessoal também. São seis anos de faculdade, mais alguns anos de preparação para entrar na faculdade. É um envolvimento bem longo, e a cerimônia serve para coroar esse momento tao importante — analisa Leonardo.