Há pouco mais de um ano, a porto-alegrense Paula Teponti, 25 anos, passou a postar vídeos neste perfil da rede social TikTok com o objetivo de estimular a reflexão sobre questões sociais. Primeiro, apostou num formato de conversas mais formais e obteve relativo sucesso, alcançando 300 mil seguidores em quatro meses. Mas foi quando publicou sátiras e vídeos carregados de humor, ironia e toques de picardia que ela viu sua audiência explodir, no bom sentido, chegando a ter postagens com cerca de 4 milhões de visualizações. Há poucos dias, Paula celebrou outro número simbólico: 1 milhão de seguidores.
Para transmitir suas mensagens, Paula não poupa seus alvos, independentemente do espectro político que possam ocupar. Na mesma semana, posta vídeos dos personagens Esquerdomacho/Francisco Feministo, que diz amar o feminismo, mas acha que algumas mulheres generalizam demais as críticas contra o machismo, e da Melissa Submissa, uma "antifeminista conservadora" que não entende como mulheres podem não gostar de receber assobios na rua. Além desses, também fazem sucesso na rede de Paula outras criações: Ana Luz, Burguesa Gratiluz, Débora Nobre e Coach Antipobre, entre outros.
— Fui muito bem recebida com os vídeos (com ironia), algo que nunca tinha acontecido até então. Percebi que a quantidade de ódio diminuiu e que pessoas que inicialmente não gostavam do meu conteúdo acabaram se aproximando mais. Esses personagens são estereótipos que interagem entre si — conta Paula.
Apesar da diversidade nas criações, ao ver as postagens da gaúcha, fica claro que o foco dela é na crítica ao machismo e na defesa do feminismo:
— Sou mulher e sempre me interessei e estudei muito sobre feminismo. Acredito que é o que eu mais tenho propriedade para falar, conseguindo unir duas coisas que amo: humor e crítica social.
As inspirações para os personagens vêm tanto das redes sociais quanto da vida real:
— Muitas falas usadas são literalmente coisas que as próprias "Melissas" das redes sociais já disseram. Também já me relacionei com "Franciscos Feministos" e conheço muitos em Porto Alegre.
Mas tanto humor e ironia nem sempre são compreendidos. Nesses casos, conta Paula, os próprios seguidores se encarregam de ajudar a esclarecer eventuais piadas não captadas.
— Por exemplo, muitas pessoas não entenderam o Esquerdomacho, me perguntando o que tinha de errado em ser um homem de esquerda. E não tem nada a ver com ser de esquerda ou direita, mas, sim, de ser um cara machista que usa o fato de ser de esquerda como máscara para o próprio machismo. Mas eu não explico (ironias), até porque meus seguidores sempre acabam explicando por mim (se surgem questionamentos).
Ela ainda dá o caminho para os homens apoiarem as mulheres e não repetirem o comportamento do Francisco Feministo:
— Se você realmente se importa com feminismo, você se impõe quando vê um amigo fazendo ou rindo de uma piada machista? Você passa pano para os seus amigos abusadores? Pelas estatísticas, pode ter certeza que pelo menos um amigo seu já abusou de uma menina. Você consome produtos, serviços e artes criados por mulheres? Você tem amigas mulheres pelas quais nunca teve segundas intenções? Você admira mulheres sem expectativas de possíveis futuras segundas intenções? Acredito que é buscar sempre esse tipo de reflexão que faz com que você entenda melhor o que é apoiar as mulheres de fato.
Melissa Submissa seria uma antifeminista conservadora. Não apenas não se identifica com o feminismo, mas faz questão de odiar ele."
PAULA TEPONTI
Sobre a personagem que criou
Questionada se ela não é cobrada por ironizar personagens mulheres, Paula discorre sobre sororidade:
— Algumas mulheres criticam, e eu já esperava isso. Porque o feminismo é dividido em vertentes, e existe uma, o feminismo liberal, em que existe confusão sobre esse conceito. Sororidade é sobre não criticar ou odiar outras mulheres pelo fato de serem mulheres. Mas isso não significa que devemos amar todas as mulheres independentemente de caráter e posicionamentos. Não faz sentido eu apoiar uma mulher que trabalha arduamente em diminuir e oprimir outras mulheres. Mas são bem poucas críticas na comparação com comentários positivos.
Futuro
Para manter relevância na rede, Paula adota uma rotina.
— Faço tudo sozinha em casa. Às vezes, minha mãe, meu pai ou meu namorado me ajudam a gravar. Sempre que tenho uma ideia, vou anotando. No primeiro dia da semana, monto todos os roteiros para os dias seguintes, que variam entre quatro e sete, dependendo da criatividade. No segundo dia, faço a gravação de todos os vídeos da semana. No restante da semana, tenho aula de pós-graduação e procuro desenvolver habilidades relacionadas à edição de vídeo, gravação, iluminação etc — explica a gaúcha, que é formada em Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e faz pós de Ciência Humanas, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Além do TikTok, ela posta o mesmo conteúdo simultaneamente neste perfil do Instagram, onde tem aproximadamente 84 mil seguidores.
— Antigamente, priorizava o TikTtok pelo algoritmo que entregava os vídeos para um público maior. Mas com a implementação do Reels no Instagram, agora dou atenção igual para as duas redes — conta.
Tantas postagens e seguidores geraram fonte de renda para a porto-alegrense que sempre morou no bairro Auxiliadora e estudou nos colégios Santa Doroteia e Unificado.
— Já consigo obter renda e me sustentar desde janeiro com as redes sociais e planejo tornar essa renda mais fixa, consolidando meu nome em outras redes — conta Paula.
Já o futuro inclui viagem ao Exterior e novas produções de conteúdo:
— No ano que vem, pretendo fazer intercâmbio na Austrália, que já era meu plano em 2020, antes da pandemia. Vou continuar com o meu conteúdo de humor crítico, mas quero acrescentar ao meu perfil um conteúdo de viagens também. No YouTube, pretendo entrar com esse tipo de conteúdo apenas.
Portanto, não se espante se, em breve, Francisco ou Melissa aparecerem causando na Baía de Sydney.