Desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, no dia 26 de fevereiro, gestos comuns como abraços, beijos e apertos de mão passaram a ser vetados. Os cumprimentos com os cotovelos se tornaram comuns. Também foi preciso aumentar a voz nas rodas de conversa, por conta do distanciamento mínimo recomendado entre as pessoas.
No Rio Grande do Sul, o chimarrão compartilhado de mão em mão virou cena do passado. Agora, e até quando a pandemia se estender, cada um precisa ter a própria cuia. A máscara e o tubo de álcool em gel tornaram-se acessórios indispensáveis, e lavar as mãos com mais frequência virou obrigação – o que inclusive ajudou a diminuir os índices de contaminação de outras doenças respiratórias.
Tarefas domésticas mudaram. Houve bufês distribuindo luvas aos clientes para se servirem, e almoçar em família ficou mais frequente para muita gente forçada a acrescentar o teletrabalho em seu dia a dia. A higienização de produtos comprados nas feiras e nos supermercados foi outra mudança de quem, ainda sem muitas informações sobre o vírus, priorizou a precaução. Banho reforçado em legumes e frutas, calçados do lado de fora de casa – 2020 trouxe diversas novidades incorporadas ao nosso cotidiano.
Sempre senti a condição de mãe como muito trabalhosa. Na quarentena, reconstruí a relação com meus dois filhos. Fiz as pazes com a maternidade. Meu círculo de convivência diminuiu, mas me aproximei da família.
PALAVRA DA LEITORA MARIA FRANK
Designer em Porto Alegre
Ao mesmo tempo em que pessoas se viram longe de quem gostam, a possibilidade do contato virtual ajudou a estabelecer novos relacionamentos. Talvez a grande consequência do isolamento social seja sentida no futuro próximo: pesquisadores e entidades de psiquiatria e psicologia têm alertado para um possível aumento das doenças mentais, em decorrência da imposição brusca da nova realidade.
Mas também houve quem viu na mudança repentina a possibilidade de abandonar hábitos ruins. E cuidar de si próprio. Com novos animais de estimação, mais plantas dentro de casa ou da mesma forma que se vivia antes, reinventar-se foi necessário.
E daqui para a frente?
"Um espirro nunca mais será só um espirro. na psicologia, usamos o termo 'espaço pessoal'. O brasileiro costuma ter esse espaço reduzido, ser próximo dos outros. quando interagimos com alguém que não se aproxima, tendemos a achar que a pessoa é fria ou está nos ignorando. Talvez isso mude. As interações terão uma ressignificação que falará fundo na nossa memória coletiva."
Christian Dunker, psicanalista e professor da USP