A dívida onerosa da Sogipa, que leva a direção do tradicional clube porto-alegrense a analisar proposta de venda de parte da sua área, é maior com os mutuários do que com os bancos.
Mutuários são associados da Sogipa que, desde 2013, emprestaram dinheiro à instituição a juros mais baixos do que os do mercado financeiro. Nesta rubrica, o passivo é de R$ 10.098 milhões, com taxas médias de 0.53% ao mês. Já com os bancos, a dívida está em R$ 4.790 milhões, sendo a mediana de juro estabelecida em 0,95%.
Somados os dois valores, o montante é de R$ 14.888 milhões. Até o final do ano, a projeção da diretoria é de que a dívida onerosa alcance R$ 16 milhões. Os dados foram apresentados a associados em reunião com o presidente da Sogipa, Carlos Roberto Wüppel, na noite de terça-feira (1º).
Por conta do passivo, a direção convocou uma reunião do seu Conselho Deliberativo, com 120 integrantes, para o dia 10 de dezembro. A intenção é colocar em votação a proposta de um investidor que pretende comprar área de 4 mil metros quadrados dentro do clube, onde fica instalado o Grupo de Escoteiros George Black, pela quantia de R$ 17,3 milhões. Conforme a oferta apresentada, a agremiação não precisará arcar com "comissão de corretagem" e o comprador irá bancar metade dos custos de desmembramento da área junto à prefeitura, caso haja a cobrança.
Wüppel tem defendido, nas manifestações aos associados e conselheiros feitas até o momento, que a negociação estanca a sangria financeira, envolvendo um terreno que representa 4% da área total do clube.
Uma segunda proposta de investidor imobiliário envolvia a venda não só do local dos escoteiros, mas também do campo de punhobol. Neste caso, o pagamento seria de R$ 28,4 milhões, mas a hipótese está praticamente descartada.
O local a ser alienado, próximo das vias Dom Pedro II e Américo Vespúcio, está causando comoção e reação de parte dos associados. O Grupo de Escoteiros George Black tem 107 anos, sendo o mais antigo em atividade no país. O valor sentimental, histórico e cultural está levando associados a resistirem e adotarem slogans como "nenhum metro a menos". Eles também entregaram documentos ao Ministério Público requerendo a abertura de um inquérito para apurar a situação.
A dívida atual da Sogipa remonta ao ano de 2013, quando outra diretoria estava à frente do centenário clube de Porto Alegre, um dos mais tradicionais da cidade e do Estado. Naquele ano, foram compradas duas casas contíguas à área da Sogipa, na Rua Barão do Cotegipe. As aquisições foram feitas por cerca de R$ 5 milhões, com empréstimo do Banrisul que estaria quitado. Mas, ao longo dos anos, mútuos foram feitos para liquidar parte das parcelas. Também em 2013 houve um incêndio na Sogipa, o que forçou diversas intervenções para a liberação de um novo Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Mais mútuos foram feitos para arcar com as obras de adaptação, que custaram cerca de R$ 1,5 milhão.
Conforme uma tabela apresentada pelo presidente Wüppel aos associados, a dívida com os mútuos quase quintuplicou entre 2013 e 2020, passando de R$ 2.547 milhões para os atuais R$ 10.098 milhões.