Há poucos dias, uma mobilização encabeçada pelo Grupo de Escoteiros Georg Black ganhou força nas redes sociais. Eles pedem que a possibilidade de venda da área histórica que ocupam dentro da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) seja repensada pela diretoria do clube. Para a Sogipa, no entanto, a venda é uma opção para equilibrar as finanças, que foram impactadas com a pandemia.
Com 107 anos de história, o Georg Black é o mais antigo em atividade no país e conta com membros que são referência nacional e internacional dentro do escotismo. A trajetória do grupo está intimamente ligada ao terreno que, hoje, é alvo de discussão: uma área de 4 mil metros quadrados, próximo à Rua Dom Pedro II. Foi nesse local que, em 1916, foi erguida a primeira sede, um galpão de madeira. Nos anos 1960, uma grande campanha entre as famílias participantes arrecadou verbas que foram usadas para construir uma nova estrutura, entregue em 1963 e usada até hoje pelos escoteiros.
— Meu pai, Lino, coordenou a campanha com os pais da época para fazer a nova sede. Aquele morro sempre foi a colina dos escoteiros — recorda Sérgio Antônio Schiefferdecker, 65 anos e escoteiro desde os seis.
Desde que a possibilidade de venda veio à tona, outros representantes dos escoteiros se juntaram à causa, como foi o caso do diretor-presidente do Escoteiros do Brasil - Rio Grande do Sul, Mário Muraro. Em um ofício, ele destacou: "A manutenção da sede do 001/RS, o 'Grupo Escoteiro da SOGIPA' é a perpetuação de uma história de conquistas, de honra, de fidalguia, de demonstração da qualidade e objetivos de ambas as associações, interligadas e gemelares pelo século de existência (SIC)" , e pede que os associados do clube se unam para ajudar o grupo.
Unamiara de Almeida Antunes Heberle da Silveira, presidente do Grupo de Escoteiros Georg Black, diz que já há uma conversa com o clube para pensar em outras possibilidades que não considerem a venda da área.
— Acreditamos que a venda não é o único caminho viável. Estamos atuando com o clube para encontrar uma solução. Temos um comitê que mantém um diálogo para achar uma alternativa que não impacte no grupo de escoteiros — diz.
Apesar das indefinições, novas reuniões, marcadas para esta semana, devem ampliar o debate a fim de se chegar a um consenso.
— Da forma como ocorreu, gerou um impacto muito grande. A falta de perspectiva é muito ruim. Entendo as dificuldades, mas há de se ver que existem tradições culturais envolvendo esse processo — observa Schiefferdecker.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Sogipa confirma que analisa uma proposta de venda da área, que é de 4 mil metros quadrados. O clube tem mais de 100 mil metros quadrados de área total. A Sogipa também esclarece que o assunto está em debate na direção, e ainda deve ser pauta de, pelo menos, três reuniões do Conselho Deliberativo até se chegar a uma definição. O clube também deixou claro que não pretende encerrar as atividades do grupo de escoteiros, apenas transferir sua sede, caso a venda seja concretizada.