Era 15 de junho quando o contador Tercio Galdino, 66 anos, e a esposa, Alicea Lima, 65, estrearam suas novas roupas à prova de coronavírus pela orla carioca. Com o coração acelerado e o temor de "pagar mico", o casal encarou a vergonha e desfilou pela Urca e por Copacabana vestido trajes de astronauta confeccionados em casa.
— A gente virou o centro das atenções. Olhei para um lado, olhei para o outro, meu coração disparou. Pensei "vamos sair por ali e voltar para o carro" — recorda Galdino.
Porém, o susto inicial logo se transformou em alívio: o público que estava pelo local se aproximou, pediu para tirar fotos e parabenizou a dupla pela atitude.
— Senti que não era mico. Quando chegamos no Leme, foi a mesma coisa, os carros voltavam de marcha a ré, não acreditando no que viam — diverte-se o contador.
Além da idade, Galdino também se enquadra no grupo de risco por ter uma doença pulmonar crônica – quando jovem, precisou tirar parte do órgão. Por essa razão, seguiu à risca todas as recomendações de permanecer em casa, com pequenas e curtas escapadas para ir ao supermercado ou farmácia.
Foi então que uma reportagem na TV lhe deu uma ideia. Ele assistira a uma matéria de um médico que se vestiu de dinossauro para encontrar a família, após 40 longos dias de distância.
— Eu gostei e pensei: "Isso vai resolver o problema para eu dar as minhas voltas. Vou bolar algo parecido".
Como gosta muito dos programas da agência espacial norte-americana, a Nasa, e das experiências atrás de vida em outros planetas, não titubeou ao eleger a roupa de astronauta como seu "uniforme" para ir para a rua. Sem ter como comprar os itens da vestimenta por conta do fechamento do comércio, apelou para uma solução caseira. Por meio de vídeos da internet, o contador aprendeu a fazer os capacetes usando balões como base recobertos de papel de jornal, resina, fibra de vidro e massa acrílica. O equipamento ficou pronto no dia 20 de maio, conta.
— Mas sair de bermuda e capacete ia ficar esquisito — ri.
Por isso comprou três macacões de TNT em uma loja que vende equipamento de proteção individual (EPI) e decorou com fitas e detalhes que remetem aos trajes da Nasa. Depois do sucesso da primeira caminhada com as roupas, o contador não parou mais. Aproveita os horários de temperatura mais amena para fazer sua caminhada na orla vestindo-se como um astronauta.
— Jamais pensei nessa repercussão. A ideia não era essa, a ideia era transmitir uma coisa positiva para as pessoas, até para destacar a necessidade de proteção. Até me senti um astronauta mesmo — finaliza.