Todas as terças-feiras, ex-colegas de empresa aposentadas se reúnem na casa da relações públicas Gabriela Barberis, no bairro Menino Deus, para tricotar — em todos os sentidos. Enquanto uma faz o sapatinho de crochê, outra coloca o enchimento na boneca de pano, sem jamais perder o fio da meada na conversa. Nessa costura de relações, já foram mais de 500 bonecas fabricadas desde 2015, todas elas encaminhadas a associações beneficentes da Capital e da região.
A fabricação de bonecas começou com as amigas mais próximas, que frequentavam a casa de Gabriela para conversar e fazer planos para a nova vida, depois de mais de 20 anos de dedicação à mesma empresa. As primeiras bonequeiras foram a secretária Norma Jarenkow e a designer gráfica Marli Almeida. Outras ex-colegas descobriram o passatempo e resolveram se juntar. Há quatro anos, os encontros acontecem toda semana, sem falhar. O trabalho no ateliê é observado de perto pela cadela Preta, que não poupa lambidas e carinho a cada amiga que chega.
— Não temos nenhum compromisso de produção, ninguém é obrigada a comparecer, mas gostamos de estar juntas, tanto que a gente não para de conversar a tarde toda. Acaba sendo uma grande terapia — comenta Gabriela.
A socióloga Ana Silvia Teixeira explica a divisão de tarefas: quem chega no grupo sem saber costurar começa ajudando a colocar o enchimento nas bonecas. O próximo estágio é fazer os cabelinhos com lãs coloridas.
— Quem não se dá muito bem com trabalhos manuais pode ficar organizando o material, que também é uma baita ajuda — diz Ana.
Unir as habilidades de cada uma é o segredo da união do grupo, segundo a designer Marli, uma das fundadoras, que virou especialista em desenhar as carinhas das bonecas. Entre as bonequeiras com idades de 57 a 71 anos, tem as que só fazem sapatinhos, as que costuram as roupinhas, e assim por diante. Mas há um pré-requisito: só entra no grupo quem foi colega de trabalho.
Os pedidos de bonecas para doação chegam por relações pessoais de cada uma, assim como os materiais para costura, como tecidos e lãs. Cada uma leva o que tem em casa, e de vez em quando elas recebem alguma oferta de amigos. Quando faltam insumos mais específicos, como plumante para enchimento e tecidos para fazer a pele — branca e preta — elas vendem bonecas entre os conhecidos e usam o dinheiro para comprar o que precisam.
Nesta semana, com a proximidade do Dia das Crianças, foram entregues algumas dezenas de bonecas para o núcleo de oncologia pediátrica de um hospital e uma casa de acolhimento de crianças em vulnerabilidade social de Porto Alegre. A quantidade e o destino de cada doação é registrado em planilhas, organizadas por Gabriela. A entrega nunca é feita por elas, que preferem cuidar apenas da fabricação e curtir as fotos que os beneficiados mandam com os registros da entrega, mas recentemente o grupo criou um perfil no Instagram para divulgar o trabalho: @amigas_bonequeiras.
— O mais importante para nós é estarmos juntas, mas também é gratificante saber que nosso trabalho pode levar um pouco de alegria a crianças que precisam — resume Marli.