Milionária sem salário. Vivendo em um pequeno - mas aconchegante - apartamento tipo JK no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, a aposentada Maria Gisela Silva da Rosa, 77 anos, não recebe qualquer pagamento em dinheiro pelo trabalho na Campanha do Agasalho, mas faz questão de mostrar o quanto enriqueceu com o voluntariado.
— Recebo amor. Deus tá lá em cima olhando pra baixo e vendo que a gente tá fazendo um trabalho bom para os outros. Esse é o meu pagamento — conta, com um sorriso tão sincero quanto inspirador.
“Magra”, como é conhecida na sede da Defesa Civil, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), bate o ponto de segunda a sábado, do início da manhã ao fim da tarde, assiduamente. Ela comanda as equipes de triagem, que selecionam as peças doadas, separando por tamanho e por tipo de agasalho. E é aí que a vovó puxa a orelha de quem repassa roupas sem condições de uso.
— De que adianta doar roupa rasgada pra alguém que não tem condições de lavar e costurar? De que adianta? — questiona, repetidamente, para educar quem doa pensando em se desfazer.
Viúva, Maria criou oito filhos sozinha após a morte do marido. O trabalho voluntário foi a salvação para a idosa, em um quadro de depressão depois da perda de um dos meninos, vítima do diabetes.
— Estava em depressão e um amigo indicou ir na Defesa Civil. Me apresentei e já fiquei. No outro dia, levantei cedo e já estava trabalhando. Hoje não tomo mais nenhum remédio. E a minha médica disse que eu estou ótima — afirma.
Com a missão de não desmobilizar a campanha, que já atingiu um milhão de peças doadas, ela finaliza com um convite:
— Tirem um dia e vão nos visitar. A Defesa Civil é minha família, e quem conhecer já pode nos ajudar, é recompensador — finaliza, exemplar, oferecendo um “suquinho” para o mais novo neto adotivo, que escreve esta reportagem.