Há quem ame. Também tem aqueles que odeiam. Longe de ser uma unanimidade, o horário de verão impacta de forma significativa em uma boa parcela dos brasileiros. Mesmo com a diferença de apenas uma volta no ponteiro do relógio, as mudanças no corpo são grandes, especialmente para aqueles indivíduos designados como matutinos ou vespertinos.
A justificativa para essas alterações é simples: nosso relógio biológico, espécie de marca-passo do organismo que regula todos os órgãos, explica Geraldo Rizzo, coordenador do Núcleo de Distúrbios do Sono do Hospital Moinhos de Vento. Cabe a esse mecanismo ajustar os horários em que sentimos fome, em que vamos ao banheiro e em que deitamos para dormir.
Portanto, ao adiantar o relógio, algumas pessoas podem sentir dificuldade para pegar no sono, ficar mais cansadas, irritadas, ter alterações no humor e apresentar inquietude.
– Isso vai mexer com 20% da população, que são os matutinos ou vespertinos. O resto se adapta mais fácil, pois está no ramo dos indiferentes – diz Rizzo.
Para quem está incluído nesses 20%, a boa notícia é que, via de regra, o organismo leva um dia para se adaptar ao novo horário. Segundo Rizzo, a medicina calcula que, para cada hora de mudança, é preciso um dia de adaptação.
Como cada indivíduo é único, há quem estenda o "sofrimento" por mais dias ou até mesmo nunca se adeque à hora à frente.
A manutenção ou não do horário de verão tem sido debatida no Brasil e em outros países. O Parlamento Europeu, por exemplo, decidiu acabar com a mudança no relógio a partir de 2021.
No Brasil, após alguns anos sem a adequação no relógio, o Ministério de Minas e Energia deve anunciar nesta terça-feira (15) sobre a retomada da adoção do horário de verão no Brasil ainda este ano.
Caso a mudança se efetive, há algumas dicas para facilitar esse processo ou pelo menos amenizar seus efeitos sobre o corpo.
Confira dicas para se adaptar ao horário de verão:
Sono
— Nossa sociedade entende que tem mais tempo para lazer, mas acontece que, no outro dia, as coisas são iguais. Em vez de deitar às 22h, a pessoa acaba indo para cama às 23h, mas acorda às 6h, ou seja, vai dormir menos horas — destaca Rizzo.
Para evitar as horas a menos de sono, a recomendação é: mantenha o horário normal de ir para a cama. Isso significa seguir o mesmo horário de janta e de desacelerar.
A biomédica e doutora do Laboratório de Cronobiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luísa Klaus Pilz lembra que, apesar da mudança no relógio, nosso corpo é guiado pela luz, portanto, é bom evitar a exposição excessiva à luz branca ou azul no período da noite:
— Uma questão interessante é se expor mais à luz durante o dia.
Também é bom iniciar a adaptação alguns dias antes, para não ter um ajuste brusco.
Alimentação
A regra é sempre manter as horas habituais, mesmo com a hora à frente.
— O horário de dormir a gente não estabelece, mas sim o de deitar. Agora, o momento de comer é a pessoa que determina. Então, deve-se manter a rotina — ensina Rizzo.
Isso quer dizer: nada de jantar mais tarde só porque o horário mudou – isso vai fazer com que você durma mais tarde, mas acorde na mesma hora. Na prática, isso significa dormir menos.
Chás e café podem dar uma mãozinha no começo, mas funcionam só como paliativos, alerta o médico:
— Débito de sono a gente paga dormindo, não com café.
* Reportagem publicada originalmente no dia 29 de outubro de 2018.