Helena correu sua primeira meia maratona aos quatro meses. Já venceu distâncias em Buenos Aires, na Patagônia, no Chile e volta e meia está em mais um desafio Brasil afora. Helena está com dois anos e meio e tem esse currículo invejável nas corridas graças à mãe, a assessora jurídica Joana Nyland, uma aficionada pelo esporte. A parceria de ambas pode até não render muitas medalhas, mas a dupla de mãe e filha já é conhecida entre os atletas da modalidade – tudo porque Joana nunca entendeu a maternidade como um limitador da prática esportiva, tampouco a prática esportiva como prejudicial à maternidade.
Quando soube que estava grávida, Joana já corria nas ruas. Foi correndo, aliás, que descobriu a gestação. Sentiu um mal-estar durante um treino e acabou sabendo que havia deslocado a placenta. Precisou maneirar – mas não parar – até o nascimento da filha. Tempo suficiente para matutar como incluiria a bebê nas corridas. Evidentemente, buscou orientação de médicos e outros profissionais para que nem ela nem Helena corressem riscos.
A internet foi uma mão na roda. Por ali, ela descobriu um carrinho especial para levar a filha nas provas – o veículo tem rodas maiores e uma suspensão que permite encara terrenos menos amistosos do que uma pista asfaltada. A menina tem a opção de "correr" coberta por uma proteção ou curtindo o vento no rosto. Água e bichos de pelúcia dividem espaço e também estão firmes no cinto de segurança. Frutas e barrinhas de cereal entram na mochila das maratonistas.
— A maternidade não pode ser uma desculpa para tu deixar de fazer as coisas de que gosta. Eu adoro correr e não quero deixar de acompanhar o crescimento da minha filha. Não pensei duas vezes antes de incluir a Helena no meu esporte e tem sido maravilhoso — conta Joana, eufórica, enumerando todas as aventuras da dupla.
Joana foi adaptando a parceria com a filha à medida que a menina foi crescendo. Primeiro correu com bebê-conforto – sim, ela conseguia! –, levando a garotinha nas costas. Depois veio a "facilidade" do carrinho. A bandeira do Brasil é a fiel escudeira subindo ou descendo ladeiras. Em uma das mais recentes empreitadas, elas encararam 21 quilômetros na Patagônia. Achou difícil? Foi montanha acima, com carrinho, ursinho, garrafinha e brinquedos.
— Nossa, o pessoal gritava "única madre con una hija na montana!". Foi muito bacana. E a Helena adora uma medalha — diz Joana.
E tem mais. Joana ainda amamenta no peito a filha, então, nessas corridas pelo mundo, ela faz pit stops para dar de mamar. Neste momento, além da perseverança que acompanha a atleta, surge outra relação bacana proporcionada pelo esporte: solidariedade entre corredores.
— Todo mundo sempre pergunta se ela tá bem, se eu preciso de alguma coisa. É muito engraçado, porque o pessoal ajuda a levar o carrinho, incentiva, gritando "Vamos lá, Helena". Todo mundo já nos conhece — diverte-se a mãe atleta.
Mas a crítica também está no meio desse caminho. Joana já deparou com questionamentos sobre sua responsabilidade caso a menina se machuque, sobre expô-la a perigos ou até sobre "obrigar" a menina a participar das corridas. Acostumou-se aos olhares inquisidores, mas apoia-se na satisfação que a filha demonstra em estar nas provas ao lado da mãe e no acolhimento que encontra em cada disputa. Joana vai às lágrimas ao falar dos desafios de conciliar a prática esportiva e a maternidade, mas se sente orgulhosa da escolha que fez por conviver mais com a filha sem perder o foco naquilo que gosta.
Todo mundo sempre pergunta se ela tá bem, se eu preciso de alguma coisa. É muito engraçado, porque o pessoal ajuda a levar o carrinho, incentiva.
JOANA NYLAND
Mãe de Helena
— Não vou forçar nada na Helena, mas acho que estou dando um bom exemplo para ela, porque o esporte ensina a se colocar no lugar do outro, ensina a ganhar e ensina a perder. Acho que isso eu vou conseguir passar para ela.