Um museu a céu aberto com mais de 300 metros de comprimento está sendo criado no que antes era apenas o muro lateral do cemitério municipal 2 de Novembro, no Bairro Santo Inácio, em Esteio. Mais de 50 grafiteiros do Estado e de outras partes do Brasil se revezaram durante o final de semana para dar vida ao Museu Aberto de Arte Urbana de Esteio (MAAUE). Na manhã deste domingo (20/8), alguns artistas ainda finalizam as obras no paredão que, até então, só era aproveitado por pichadores.
Curador do espaço, o grafiteiro Nasa Grafit, 32 anos, reforçou que a proposta de colorir o muro era um projeto antigo dos artistas da cidade. A ideia foi encaminhada à prefeitura, que aprovou a iniciativa. A única exigência era que os temas não tivessem relação com política, futebol ou que caracterizassem ofensa, preconceito e qualquer tipo de discriminação.
– O tempo é um dos temas que surgiram. Afinal, este lugar lembra saudade, lembra tempo de vida e de morte. Fizemos com muito respeito aos que estão sepultados neste cemitério, aos seus familiares e aos moradores do bairro – explicou Nasa, que há 15 anos participa de intervenções artísticas de rua em diferentes estados.
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Em junho deste ano, ele foi o único artista gaúcho a participar do Meeting of Carapicuiba, em São Paulo. Quando a atividade teve início, na sexta-feira passada, a previsão de 58 grafiteiros pulou para mais de cem artistas. Moradores de Esteio pediram para fazer parte da ação e até as crianças que passaram pela Avenida das Américas, no sábado, foram convidadas para o evento. A estudante do terceiro ano do ensino médio Alanda Marmacedo, 18 anos, foi uma das que pediu a Nasa um espaço, depois de ver o anúncio da atividade no jornal local. É o primeiro grafite da jovem, apaixonada por desenho desde a infância.
– Decidi grafitar algo alegre. Pintei uma elfa (criatura mística das mitologias nórdica e celta) porque ela lembra a paz. Estou gostando da experiência porque as pessoas param e perguntam sobre o trabalho – contou.
Ao contrário de Alanda, o professor de artes e grafiteiro Pedro Silva, 18 anos, mais conhecido como Chimia Graff, de Passo Fundo, já está acostumado a grafitar pelo Estado. A novidade para ele, porém, foi a proposta de levar cores ao muro de um cemitério. Para a atividade, ele trouxe 40 latas de spray e quatro litros de tinta látex.
– É uma oportunidade diferente. Estamos recebendo muito apoio da própria comunidade. Antes de voltar para Passo Fundo, quero gastar toda a tinta deixando a minha marca em mais uns três muros da cidade _ comentou, enquanto finalizava o "Spray World" – nome da obra.
No Museu Aberto, quem passa participa de alguma forma. O motorista de ônibus Luiz Carlos dos Santos, 51 anos, e o filho, Giovani, dez anos, fotografaram os grafites que mais gostaram. A ideia era divulgar as obras nas redes sociais.
– Moro há 28 anos no bairro e sempre achei este lugar abandonado e triste. Agora, ficará mais colorido e bonito. Dá vontade de passar mais vezes por aqui – resumiu Luiz Carlos.