O dinheiro é uma droga – e com o poder de viciar bem mais do que outras drogas. A definição é do neurologista e psicólogo Antoine Bechara, libanês radicado nos Estados Unidos que é um dos participantes mais aguardados do World Congress on Brain, Behavior and Emotions, congresso sobre cérebro, comportamento e emoções que se realiza em Porto Alegre, na Fiergs, até sábado (17).
Horas antes de sua primeira participação no evento, falando sobre Violência contra a Sociedade: Bases do Comportamento Imoral e Corrupto, Bechara, professor da Universidade do Sul da Califórnia, concedeu uma entrevista coletiva a jornalistas, no início da tarde desta quinta-feira (15).
Bechara discorreu sobre a disfunção na região do lobo frontal do cérebro que leva a pessoa a apresentar comportamento semelhante ao de um psicopata, praticando atos imorais e de corrupção. Mas apenas uma minoria dos corruptos têm um dano cerebral, explicou Bechara. Na maior parte dos casos, essa habilidade para corromper ou ser corrompido é aprendida e tolerada.
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– Se você está num ambiente onde a corrupção é considerada algo bom, onde não é punida, se não traz consequências para quem a pratica, e se também não há o ensinamento moral de que não é legal roubar o dinheiro dos outros ou aceitar suborno, então você vai ter uma cultura que exercita isso – disse o professor. – Você pode mudar essas pessoas se mudar a percepção de punição, se houver consequências, educação nas escolas e em casa dizendo que não é bom fazer isso – acrescentou.
A falta de empatia, que é a capacidade de se identificar com o outro e de se colocar no lugar dele, é outro traço muito marcante nos corruptos. Nos casos patológicos, em que há a disfunção no organismo, a pessoa não dispõe do sistema cerebral que dispara o gatilho da empatia – ou seja, ela não pode nem mesmo senti-la. Quanto aos demais corruptos – provável caso dos empresário e políticos brasileiros que povoam o noticiário nos últimos tempos, frisou o palestrante –, a falta de empatia resulta do controle das emoções.
– É como um cirurgião que aprende a controlar suas emoções para não se envolver quando trata um paciente. Os corruptos podem começar a sentir culpa quando começam a roubar o dinheiro de alguém, mas logo aprendem a controlar isso – exemplificou.