Começar um novo relacionamento é tudo de bom. O que mais se quer é curtir ao máximo e gritar aos quatro ventos que a paixão chegou. Mas, quando esse momento vem depois de uma separação que deixou como fruto uma criança, cautela se torna palavra-chave.
A professora do curso de Psicologia da UniRitter Luciana Tisser orienta sobre a hora certa de contar aos filhos que a mamãe ou o papai está namorando e sugere a melhor maneira de fazer com que essa revelação se dê de forma natural e sem traumas. Conheça, ainda, a história de quem já passou por essa experiência com sucesso.
Revelação feita aos pouquinhos
Quando o relacionamento de três anos da autônoma Júlia Azevedo Mariano da Rocha, 24 anos, chegou ao fim, em 2014, o filho dela, Heitor Mariano da Rocha Subilhaga, hoje com quatro aninhos, tinha apenas um. Dois meses depois, ela começou a namorar o analista de TI Sérgio Breno Abi dos Santos, 54, mas optou por não contar imediatamente ao pequeno sobre o novo amor e fez questão de manter a relação da criança com o pai inabalada.
– Não toquei no assunto porque ele era muito novinho. Avisei a escola sobre a separação, e eles me ajudaram a cuidar o comportamento do Heitor, que reagiu muito bem. Também tentei manter o pai dele próximo, mantendo o elo entre eles vivo – explica.
A imersão de Sérgio no cotidiano de Heitor aconteceu aos poucos. Como ele e Júlia trabalhavam juntos, não causou estranheza no menino, que já o conhecia. O casal ainda teve o cuidado de não expor o relacionamento na frente da criança, evitando beijos e abraços, mas priorizando o convívio frequente entre eles.
– O Sérgio começou a almoçar lá em casa, íamos ao parque, levávamos o cachorro para passear. Mas eu sempre deixei claro quem era o pai do Heitor, explicando que o Sérgio era um amigão. Tanto que, até hoje, ele o chama assim, de amigão – conta Júlia.
Em maio de 2015, ela e Sérgio passaram a morar juntos, e, em setembro, veio o pedido de casamento. Era chegada a hora de uma conversa entre mãe e filho:
– Expliquei que ia ter um casamento, que ele ia levar as alianças, sempre cuidando para que ele tivesse certeza de que a relação com o pai não mudaria. Levou um tempo essa transição, para que ele entendesse que a família em casa era uma e que o pai era externo a isso. Ele confundiu por um tempo, mas hoje é bem tranquilo.
Agora casados, a relação da nova família vai de vento em popa:
– A relação deles é a melhor possível. Adoram estar juntos.
A hora certa de contar
O método utilizado por Júlia vai ao encontro do que orienta a psicóloga e professora da UniRitter Luciana Tisser, que explica:
– A apresentação do novo parceiro tem que ser gradual. O mais indicado é que a criança comece a conviver com a amiga do pai ou com o amigo da mãe até que eles conquistem essa criança para, só depois, se tornarem namorados diante dela. É importante criar um vínculo, aos poucos, para que a criança entenda que não está diante de um rival, com quem terá de dividir o pai ou a mãe ou enfrentar mais uma perda, como eles entendem que acontece numa separação.
Segundo a especialista, a “hora certa” de contar ao filho sobre um novo parceiro não está relacionada a prazo, mas, sim, á solidez da nova relação.
– O mais importante é o quanto a relação está sedimentada a ponto de formar um novo vínculo para a criança. O momento ideal é quando o casal tem certeza, ou pelo menos a intenção, de que não é algo passageiro. Do contrário, a criança se apega e logo perde de novo, o que gera uma insegurança muito grande para ela – explica Luciana.
Cautela nunca é demais
– É importante que a separação esteja bem resolvida na cabeça dos pais e que a nova relação seja sólida.
– Dê tempo para que a criança se sinta segura com a nova configuração familiar.
– A partir dos três anos, já é possível conversar com os filhos sobre o fim de um relacionamento e o começo de um novo, respeitando a capacidade de compreensão de cada faixa etária.
– Fique atento a mudanças de comportamento: quando está sofrendo e não está entendendo o processo, ela apresenta agressividade, dificuldade de sono, passa a ser mais desafiadora e tem dificuldade de relacionamento e rendimento escolar.
– O parceiro tem que ser apresentado de forma gradual. Primeiro, como amigo, depois, com o vínculo estabelecido, como namorado.
– As individualidades devem ser respeitadas, mas, dentro do possível, é importante o ex saber do namorado e que o filho vão conviver com ele.