Apaixonada por tricô e crochê, Priscila Biriva, 44 anos, deparava com uma dúvida ao final de cada produção com lãs e linhas: o que fazer com as sobras dos novelos? O último inverno lhe deu uma ideia que ganha mais força neste ano. A empresária, proprietária do Café da Pri, na cidade de Arroio dos Ratos, a 55 quilômetros de Porto Alegre, resolveu pedir ajuda a amigos e clientes para a campanha batizada de Tricô no Café. Separou um cesto para receber doações, fez postagens no Facebook e começou a formar uma rede de tricoteiras que confeccionam blusões, casacos, sapatos e mantas para crianças carentes da cidade.
– Fiquei sabendo de um bebê de nove meses que não tinha roupa e era enrolado em toalhas. Vi umas crianças, em pleno frio, só de camisetinhas. E como elas crescem muito rápido, às vezes as roupas não servem de um ano para o outro. Doamos amor em forma de lãs, pontos e cores– diz Priscila, moradora de Eldorado do Sul.
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Pode-se contribuir com novelos de lã de qualquer tipo e cor – novos ou com parte já utilizada – e mão de obra, além de peças prontas. Voluntárias ajudam a localizar as famílias mais necessitadas que receberão os presentes. Uma das primeiras a se entusiasmar com o projeto foi a mãe de Priscila, a professora aposentada Marta Lima Guwzinski, 65 anos, com décadas de experiência no manuseio das agulhas. Marta aprecia modelos bem elaborados e capricha nos pontos: faz tranças grandes, tranças pequenas, laçados. Contribuiu com mais de 10 peças no ano passado e já está compondo a primeira unidade desta estação, um blusão verde para a faixa dos seis anos.
– Precisa ver que coisa mais encantadora – vibra.
A aposentada calcula investir 30 horas de trabalho e sete novelos de 50 gramas, ao preço médio de R$ 5 cada, em uma peça como a que desenvolve agora.
– Gosto muito de ajudar. E dou uma finalidade para o meu tempo ocioso.
Cliente do café, Vitor Paulino Ribacki, 31 anos, detém o título de maior doador de novelos: em torno de 40 até aqui. Vitor compra os fios na Capital, onde a mãe mora e encontra preços mais baixos, e os leva até Priscila.
– Tem muitas pessoas necessitadas. Já que a gente não pode ajudar todo mundo, se cada um fizer uma partezinha, já ajuda – afirma Vitor.
Inara Lobo Pereira, 60 anos, além de contribuir com lãs, entrega os tricôs de autoria da mãe, Maria Jose de Souza Lobo, 82 anos. Empolgada, Inara planeja:
– Agora que me aposentei, estou pensando até em aprender a tricotar.
Andando pelas ruas de Arroio dos Ratos, Priscila já avistou crianças com as roupas distribuídas a partir da corrente de solidariedade formada no café.
– Penso que, além de ficarem aquecidas, elas ficam felizes por terem ganhado uma peça nova, e não algo usado – diz a empresária.
Em 2016, 58 peças de roupa foram encaminhadas para doação. A meta para este ano é alcançar o dobro disso. Atualmente, cerca de 10 tricoteiras colaboram com a iniciativa. Aceitam-se, além de novelos, mais mãos interessadas em contribuir.
COMO DOAR
– Comece pensando na instituição e no público que você gostaria de ajudar – crianças, idosos, pessoas com deficiência, moradores de rua. Informe-se sobre o histórico de trabalho da entidade.
– Faça contato com a administração para descobrir quais itens – e de que tamanho – estão fazendo falta no momento. As necessidades podem variar bastante ao longo do ano, principalmente com a troca das estações.
– Pergunte se outros artigos também poderão ser doados. Há muitos locais que organizam brechós com o que não pode ser aproveitado para angariar fundos.
– Ao avaliar o conteúdo do seu guarda-roupa, preste atenção no estado das peças que serão encaminhadas para as instituições. Estão limpas e em bom estado? Doação não é descarte.
– Pequenos reparos, como pregar um botão ou refazer uma costura que se abriu, provavelmente poderão ser realizados na entidade de destino, mas evite levar peças muito danificadas.
Fonte: Lisete Aparecida da Silva Felippe, assistente social da Casa do Menino Jesus de Praga
CAMPANHA DO AGASALHO
– Doações para a Campanha do Agasalho 2017 do governo do Rio Grande do Sul podem ser entregues na Central de Doações da Defesa Civil do Estado (Avenida Borges de Medeiros, 1.501, Porto Alegre), de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, ou nos órgãos públicos estaduais, quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, supermercados Zaffari e nas rodoviárias municipais. Além de peças de roupas, são aceitos alimentos não perecíveis, água, materiais de higiene e limpeza, livros, brinquedos, fraldas e ração animal. Mais informações pelo telefone (51) 3288-6781.
– Em Porto Alegre, a Campanha do Agasalho vai até 31 de agosto. Ao longo desse período, serão realizadas ações pela cidade para alertar a população sobre a importância das doações. Confira os pontos de coleta acessando bit.ly/coletaroupas