O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) reuniu, em um dossiê, documentos onde alega problemas com equipamentos e com equipe de pessoal no Hospital de Pronto Socorro (HPS) e no Hospital Universitário (HU) de Canoas, na Região Metropolitana. Os registros foram enviados para análise do Ministério Público. O Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp), organização responsável pela administração dos hospitais, nega as denúncias.
A Rádio Gaúcha teve acesso aos documentos do Simers. Em uma das partes, o sindicato afirma que o Gamp fere o direito à saúde por conta da falta de itens básicos e mostra "preocupação com a falta de matérias, medicamentos e condições para o adequado atendimento da população". No dossiê, também está a cópia de um grupo de WhatsApp composto por médicos e funcionários do HPS. No grupo, eles avisam sobre a falta de remédios (imagem abaixo).
"Desde o início da gestão das unidades acima mencionadas pelo Gamp, os atrasos nos pagamentos aos trabalhadores (celetistas, prestadores vinculados por pessoa jurídica e trabalhadores autônomos) têm sido uma constante", diz outro trecho.
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Marcelo Dossena Lopes dos Santos, promotor de Justiça em Canoas, afirma que o Ministério Público investiga o caso e já pediu esclarecimentos à prefeitura e ao Gamp. O MP já pediu que as duas partes sanem eventuais irregularidades.
A prefeitura de Canoas repassa, mensalmente, R$ 16 milhões para que o Gamp faça a administração dos hospitais, das duas UPAs e dos Pronto-Atendimentos. O contrato é de cinco anos. A secretária de Saúde de Canoas, Rosa Maria Groenwald, confirmou que houve falta de medicamentos, mas garantiu que as faltas são pontuais.
Pacientes e funcionários relatam dificuldades
Duas pessoas relataram à Rádio Gaúcha que precisaram comprar itens como fraldas e gaze para os familiares, que estão internados no HPS.
– Minha mãe, de 74 anos, está internada há 10 dias devido a um AVC. Disseram que não havia fraldas nem o remédio para pressão que ela precisava. A sorte é que tínhamos em casa, mas logo precisaremos comprar – contou Everton de Melo Júnior.
Uma técnica em enfermagem do Hospital Universitário – o antigo Hospital da Ulbra –, que pediu para não ser identificada, disse que faltam itens básicos, como paracetamol (medicação para dor), soro fisiológico, antibióticos e ocitocina (medicamento usado para induzir o parto).
– Se acontece uma emergência e o paciente não tem a medicação certa, ele corre risco. Tivemos, na noite passada (quinta), o caso de uma gestante que fez uma cesariana com anestesia geral, porque não havia possibilidade de ser feita a local – disse.
Uma jovem que estava no Hospital Universitário na tarde desta sexta-feira disse à reportagem que, logo que o filho dela nasceu, precisou de um exame de punção. Ela conta, porém, que demorou mais de um dia para que o procedimento fosse feito, porque não havia equipamentos.
Em uma farmácia em frente ao hospital, funcionários percebem a escassez de medicamentos. Jonathan Eduardo Peter, funcionário do estabelecimento, disse que, com frequência, recebe familiares de pacientes.
– Isso aumentou de uns meses pra cá. Eles vêm comprar de tudo, como paracetamol, lençol para gestantes e luvas para médicos – relatou.
Contraponto
Em entrevista à Rádio Gaúcha na quinta-feira, a secretária de Saúde de Canoas, Rosa Maria Groenwald, confirmou que houve falta de medicamentos, mas garantiu que foram casos pontuais e que os itens foram repostos em poucas horas. Ela destacou também que a prefeitura realiza fiscalização com frequência.
Já o presidente nacional do Gamp, Cássio Santos, rebateu as críticas e disse que não há falta de medicamentos nos hospitais. Ele classificou as denúncias como "infundadas e irresponsáveis" e sustentou que a Organização Social (OS) – modelo usado pelo grupo – é considerada a melhor forma de gestão do Brasil.