A pílula anticoncepcional é o método preferido de 61% das brasileiras que, de alguma forma, previnem-se de uma gravidez indesejada, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A escolha deve-se, principalmente, pela taxa de eficácia da contracepção oral, que pode chegar a 99,7%, conforme a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Mas o que a maioria das mulheres desconhece é que as falhas só estão majoritariamente descartadas (não totalmente porque não há método 100% eficiente) se os comprimidos forem ingeridos estritamente no mesmo horário ou se a mulher não fizer uso de outro medicamento como um antibiótico ao mesmo tempo. Por esse motivo, existe a taxa de eficácia em uso típico. Pouco divulgado, esse índice cai para 92% quando a mulher não segue religiosamente as instruções médicas ou previstas na bula da pílula.
Tal diferença estatística, entre o uso perfeito e o uso típico, não contempla os métodos contraceptivos reversíveis de longa duração, já que essas modalidades independem da intervenção da mulher e do parceiro para fazer efeito. Conhecidos por LARCs (Long Acting Reversible Contraception), o dispositivo intrauterino de cobre (DIU), o DIU hormonal (também conhecido por SIU) e o implante subcutâneo estão sendo altamente recomendados – tanto pela Febrasgo, quanto pelo próprio Ministério da Saúde, por meio do programa de Planejamento Reprodutivo e Familiar.
Médico da Universidade de São Paulo (USP), o ginecologista Sílvio Franceschini explica a recomendação ao lembrar que, no comparativo com a pílula, esses métodos ainda não são tão utilizados, apesar da taxa de eficácia elevada (99,4% para o DIU de cobre, 99,8% para o DIU hormonal e 99,9% para o implante) e do longo período de ação (de cinco a 10 anos).
– O uso perfeito e o uso típico são muito parecidos porque não dependem da usuária esquecer, não recomeçar e, com isso, ter falha. Os métodos de longa ação independem porque estão dentro do útero [DIU de cobre e DIU de progesterona] ou do braço [implante]. Se você oferece e explica o método, as mais jovens vão preferir métodos de longa ação – garante o membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
Há diferenciação dos índices de uso típico e uso perfeito somente se a mulher não fizer o exame de controle dos DIUs (ultrassom) e do implante (raio-X), cuja periodicidade varia conforme o método. Professora de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a obstetra Cristina Guazzelli justifica a baixa adesão aos LARCs frente aos benefícios apontados.
– Geralmente, o médico não tem experiência na utilização desses métodos. São fáceis, mas precisa de capacitação. Se eu não sei utilizar, coloco dificuldade para inserir. A Febrasgo está preocupada em relação a isso, para divulgar, capacitar e ampliar a utilização desses métodos – diz.
Atualmente, no Sistema Único de Saúde, o DIU de cobre é o único dos três LARcs disponíveis. Para fazer uso, a paciente precisa ir até um posto de saúde, agendar uma consulta, realizar alguns exames prévios (como a ultrassom transvaginal, que fornece as dimensões do útero, no caso dos DIUs) e, em alguns casos, participar de algumas sessões do programa de Planejamento Reprodutivo e Familiar do governo federal.
– A nossa briga é para que o SUS possa oferecer outros LARCs. O ideal é que a mulher tenha outras opções para escolher o que faz sentido para vida dela em determinado momento: adolescência, climatério, aleitamento, menopausa. Não existe contraceptivo ideal. Existe ideal naquele momento de vida e a mulher pode ter vários ideais ao longo dos anos.
Outro motivo para as entidades médicas recomendarem os contraceptivos de longa ação está relacionado a uma possível menor contra-indicação desses métodos. Enquanto a pílula hormonal não é aconselhada às pacientes obesas, fumantes ou com histórico familiar de trombose, por exemplo, os LARCs que contêm progesterona podem ter efeitos colaterais menores. Isso acontece porque eles têm ação restrita ao local onde se encontram, e não em toda a corrente sanguínea, como acontece no anticoncepcional oral.
Por fim e não menos importante, vem o custo/benefício dos LARCs. Eles podem até ser mais caros quando comparados a uma cartela de anticoncepcional, mas se a análise for feita em cima do período de duração, é fácil perceber que eles valem bastante a pena. O DIU de cobra custa cerca de R$ 100 (10 anos de duração), o DIU hormonal é vendido de R$ 700 a R$ 900 e o implante subcutâneo tem preço médio de R$ 1,2 mil. Todos eles envolvem valor adicional de colocação cobrado pelos médicos.
CONHEÇA OS LARCs (Long Acting Reversible Contraception)
Diu de cobre
O dispositivo intrauterino (DIU) é um aparelho pequeno e flexível, em formato de T, que é colocado dentro do útero em procedimento no consultório médico. Atua em diferentes etapas do processo reprodutivo: desde tornar difícil a passagem do espermatozoide até prevenir a implantação do óvulo na parede uterina.
Vantagens: utilizado por cerca de 100 milhões de mulheres no mundo, seus efeitos duram cerca de 10 anos. Não necessita de manutenção mensal, apenas visitas periódicas à ginecologista e ecografia após a inserção para avaliar se está adequadamente posicionado. Tem taxa de gravidez extremamente baixa: no primeiro ano de uso, é de 0,4 a 0,8%, mantendo-se em 0,8% nos anos seguintes.
Desvantagens: pode causar alterações no ciclo, principalmente nos primeiros três meses. São comuns relatos de fluxo aumentado, sangramento nos intervalos entre as menstruações e cólicas mais intensas, variando de mulher para mulher.
DIU hormonal
Também conhecido como SIU (sistema intrauterino), libera hormônios no organismo, impedindo que o espermatozoide encontre o óvulo. Assim como o DIU de cobre, precisa ser colocado no consultório médico.
Vantagens: por ser hormonal, há diminuição de fluxo e duração das menstruações. A taxa de eficácia é alta, semelhante a de métodos contraceptivos, como a ligadura de trompas, o DIU de cobre e os implantes subdérmicos. Dura até cinco anos.
Desvantagens: assim como o DIU de cobre, há casos raros de perfuração da parede do útero ou de deslocamentos.
Implante subcutâneo
Uma cápsula com hormônio é inserida sob a pele do braço. No Brasil, é permitido apenas o Implanon.
Vantagens: Tem funcionamento de até três anos. É composta somente de progestagênio (ou seja, não contém estrogênio), e por isso pode ser empregado quando a pílula está contraindicada. Após a remoção, há rápido retorno ao ciclo menstrual e às taxas de fertilidade. Risco de gravidez próximo a zero.
Desvantagens: pode haver sangramentos. A aplicação deve ser feita por um profissional capacitado.
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