Depois de tantas dúvidas, reuniões e buscas por patrocínio, o desfile de Carnaval de Florianópolis está confirmado para o sábado. Com menos verba em relação aos anos anteriores, a programação precisou passar por alterações e nesta edição só o grupo especial entra em cena. Seis escolas de samba se apertaram, mas deram um jeito e estão prontas para mostrar um Carnaval profissional.
Os últimos retoques na passarela Nego Quirido vão acontecer nesta semana.
Neste ano, os vencedores do Carnaval não vão ter prêmio em dinheiro por conta da crise financeira da prefeitura – que era a responsável pelo prêmio de cerca de R$ 70 mil ao campeão. Segundo Joel da Costa, da Liga, os vencedores da primeira e segunda posição levarão para casa o troféu e o título. Apesar de todos os contratempos, a Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf) espera lotar a Nego Quirido, com 22 mil pessoas.
Confira o que as seis escolas do grupo especial prepararam para o evento:
CONSULADO
Depois de uma passagem, amarga, pelo Grupo de Acesso, a tradicional Consulado está de volta ao Grupo Especial das escolas de samba de Florianópolis e confirma: ali é seu lugar. O samba-enredo deste ano é justamente sobre suas quatro décadas de história e sua relação com a ilha max quirida do Brasil.
De acordo com o presidente da agremiação, Márcio Machado, os trabalhos no pavilhão ocorrem dia e noite: a customização das fantasias e alegorias estão, agora, em ritmo acelerado. Neste ano, os trabalhos começaram mais tarde por conta do corte de recursos por parte da prefeitura. Mesmo assim, a escola do vermelho e do branco vai sair com duas alegorias (carros), e se der tempo, contou Machado, com mais um carro menor. Serão 22 alas e aproximadamente 1,6 mil pessoas na avenida.
Os ensaios, no entanto, ocorrem com toda força desde o ano passado. O pavilhão, no bairro Saco dos Limões, treme todas as semanas. Bateria, corte, passistas, baianas, mestre-salas e porta-bandeiras. Todos estão ali, pegando junto, para arrancar suspiros, aplausos e porque não muitos gritos na sua volta à elite da Nego Quirido.
Cariocas na Ilha
A Consulado completou em 2016 40 anos de vida. Seus batuques começaram com cariocas que chegaram à Ilha para trabalhar na Eletrosul. As cores vermelho e branco vêm do Salgueiro – escola de samba madrinha da Consulado. Mas a coordenadora de marketing da escola, Giselle Quadros, conta um segredinho: um dos principais apoiadores no início era colorado e ele, como quem não quer nada, deu aquela sugerida que a cor vermelha predominasse no pavilhão. A escola também nasceu como bloco e em 1986 foi fundado o Grêmio Recreativo Escola do Samba Consulado.
PROTEGIDOS DA PRINCESA
Com dezembro e janeiro na indefinição, preocupação com contas e curto tempo, a Protegidos da Princesa, escola de samba mais antiga da Ilha, quase sucumbiu à crise econômica e ao corte de recursos para o Carnaval. Mas é só participar de um ensaio da agremiação e ver a força que este grupo leva no peito: bateria marcante, membros engajados e comunidade presente.
A escola será a segunda a entrar na passarela Nego Quirido no sábado. Como os trabalhos de confecção de fantasias e alegorias começaram há pouco tempo, o grupo faz uma força-tarefa para levar, com todo o requinte, a história de Arapaço, um grupo indígena que vive na Amazônia, e o mito do amor entre uma índia e uma serpente. O samba-enredo está lindíssimo.
Segundo o presidente da escola, Alessandro Padilha, o Leco, este ano o grupo sairá com 15 alas e um carro alegórico apenas. Se entrar mais dinheiro até o dia do desfile, explica, o número pode aumentar. Serão cerca de 1 mil a 1,2 mil pessoas na avenida.
Embora a Protegidos esteja presente nas mais diversas comunidades, é no Morro Mocotó que ela tradicionalmente ganha força. Sua bateria, uma das mais elogiadas e com melhores notas, conta com boa parte de integrantes do morro do Centro. O Groove da Favela, como se chama a bateria da Protegidos, mô quirido, continua na área e vai botar a Nego Quirido para tremer.
A mais antiga
Dá para dizer que a Protegidos da Princesa e o Carnaval de Florianópolis andam lado a lado. A agremiação é a mais antiga da cidade. Fundada em 18 de outubro de 1948 por marinheiros, no ano que vem completará 70 anos de samba e história. A escola possui 26 títulos. A última vez que carregou o posto de campeã foi em 2015, sendo que em 2014 já tinha levado o prêmio para casa.
NAÇÃO GUARANI
Ao chegar no Caminho Novo, em Palhoça, já é possível notar a aglomeração em frente ao ginásio do bairro. O espaço, cedido pela prefeitura, é usado para os ensaios da única escola de samba que não é da Capital e que disputará o Grupo Especial do Carnaval 2017: a Nação Guarani.
Pela primeira vez a escola irá levar para a avenida o seu personagem principal: o índio guarani. No começo da criação do universo, o índio não diferenciava os homens e os animais, explica a carnavalesca da escola, Raphaela Perrut, e isso será levado para a passarela. Também vão levar os deuses guaranis e terminarão o desfile com a terra prometida aos indígenas. Serão dois carros alegóricos e 1.250 componentes.
De acordo com Raphaela, há muita economia sendo feita para o desfile deste ano, por conta do corte de recursos da prefeitura e pela falta de patrocínios.
A mais novinha das escolas
Entre as escolas de samba do Grupo Especial, a Nação é a mais jovem: foi fundada em 2008, quando o então carnavalesco da Os Protegidos da Princesa e atual presidente da Nação, Márcio Schutz, desenvolveram um samba-enredo sobre a cidade de Palhoça. Os blocos da cidade, em torno de oito, se reuniram e fundaram uma nova agremiação. Nasceu a Nação Guarani.
COPA LORD
A Embaixada Copa Lord, a escola de samba do Morro da Caixa, vai voltar quase 20 anos no tempo para levar um pouco de sua história e de sua comunidade para a passarela. Vai falar sobre a África, a histórias dos negros, Zumbi e de orixás.
– O tema afro identifica a nossa comunidade. Nunca perdemos um Carnaval quando falamos de nossas raízes. E fomos vencedores em 1996 com este enredo – contou o presidente interino da agremiação, Josué Costa, que é mais conhecido como Jô. Ele foi criado no Monte Serrat e desde criança desfila pela Copa.
Em ritmo acelerado no pavilhão, os integrantes correm contra o tempo para deixar as fantasias e alegorias prontas para semana que vem. A comunidade em peso está ajudando nos trabalhos. A escola sairá com cerca de 20 alas – contando comissão de frente – e levará para avenida dois carros alegóricos. Segundo Jô, serão em torno de 1,5 mil componentes desfilando.
Entre eles, estará uma presença ilustre, que tem a cara do samba de Florianópolis: Lídio Augusto Costa, o famoso seu Lidinho. Quem costuma ir aos sábados no Canto do Noel, no samba do Mercado Público e nos ensaios da Copa, conhece esse carismático passista de 76 anos.
Tradicional e do povo
A Embaixada Copa Lord foi fundada em 25 de fevereiro de 1955 e suas cores são amarelo, vermelho (com mais destaque) e o branco. Entre os fundadores, estavam Abelardo Blumemberg, Jorge Ferminiano Costa, Valdomiro José da Silva e Juventino João Machado, o próprio Nego Quirido, que mais tarde, deu nome à passarela da Capital. O grupo, anteriormente, se chamava Os Garotos do Ritmo.
Logo no ano de sua estreia, a Copa já arrematou o título de campeã, fato conquistado ainda outras 17 vezes. O último título foi conquistado no ano de 2010.
COLONINHA
Vitoriosa no ano passado, a Unidos da Coloninha se prepara para mais um Carnaval de força. Com a pretensão de levar cerca de 2,2 mil componentes para a Nego Quirido, a agremiação falará sobre o mundo da tecnologia e das invenções. Trará desde a criação da roda até os apetrechos mais cobiçados atualmente.
– Vamos falar de toda a era da tecnologia e de suas mentes brilhantes também – avisa o presidente da escola, Sérgio Roberto da Cunha.
O samba-enredo já dá a dica que talvez os mestres inventores do avião e do rádio estarão presentes na avenida.
A escola terá 24 alas, cada uma com cerca de 50 componentes, menos a bateria – a Batucada da Unidos – que desfilará com 200 músicos, além de dois carros alegóricos.
Escola tradicional
A Unidos da Coloninha já é uma senhora escola de samba. Foi fundada em 10 de janeiro de 1962, como um bloco de crianças no Estreito, na área continental de Florianópolis. No ano seguinte, deixou a folia e ficou afastada por 20 anos da festa. Até que na década de 80, foi criada a escola de samba com o mesmo nome do bloco infantil. As cores do pavilhão são azul, verde e branco.
DASCUIA
A cultura manezinha, suas bruxas e personagens mágicos serão levados para a passarela Nego Quirido pela escola de samba Dascuia, agremiação do Morro do Céu. A representante verde e rosa levará cerca de 1,6 mil pessoas para fazer a festa na avenida.
Tradicionalmente familiar, a Dascuia desfilará pela terceira vez pelo Grupo Especial e está em ritmo acelerado. Família, amigos, componentes: todos juntos confeccionando as fantasias e deixando tudo tinindo para a avenida. Para driblar a crise financeira, o grupo tem reutilizado materiais e roupas do ano passado. Mesmo assim, sairá com três carros alegóricos e 23 alas.
O samba-enredo, que sempre traz uma conotação regional, desta vez homenageará a Ilha. A música dá uma cutucada no manezinho que não valoriza a própria cultura.
Jovem da turma
A Dascuia é uma agremiação relativamente nova. Surgiu a partir da ideia e da vontade de fazer festa da família de Altamiro José dos Anjos, o seu Dascuia, do Morro do Céu. Em 2004, em torno de 100 pessoas da família e amigos foram para as ruas do entorno da Praça XV de Novembro para o Bloco dos Sujos. O grupo fez tanto sucesso que foi convidado a desfilar na Nego Quirido – como bloco – com mais de 500 pessoas.
Em 2011, criaram estatuto e formalizaram a denominação de escola de samba. Desfilou em 2012 pelo Grupo de Acesso, sendo a vice-campeã. Como em 2013 não teve desfile, em 2014, levantou a taça de vitoriosa do Acesso e em 2015, desfilou pela primeira vez no Grupo Especial.
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