Com o objetivo de reduzir acidentes no trânsito, uma campanha do Ministério dos Transportes despertou reações exaltadas e, como quase tudo que viraliza na internet, também virou piada em redes sociais nesta terça-feira. Puxada pelo slogan "Gente boa também mata", a publicidade divulgada em rádio, TV e em mídias fixas pela rua tenta alertar para o fato de que qualquer um pode provocar um acidente fatal – mesmo pessoas bem intencionadas. Se o mote escolhido pelo governo federal não é difícil de assimilar, a maneira como o tema foi abordado na campanha causou incômodo em algumas pessoas.
As principais críticas recaíram sobre as chamadas publicidades fixas (que podem ser vistas em alguns pontos de ônibus, por exemplo). Diferentemente do que é veiculado no rádio e na TV, onde são mostradas cenas de pessoas fazendo boas ações e, posteriormente, tendo uma conduta ruim no trânsito, os painéis de rua trazem a imagem estática de uma pessoa "gente boa" com frases sobrepostas, como "Quem faz a alegria das crianças pode matar" ou "Quem resgata animais na rua pode matar". Além de postagens de usuários do Facebook e do Twitter que consideraram a abordagem "ofensiva" – também houve quem defendesse a campanha –, as peças deram origens a memes com a imagem do presidente Michel Temer e críticas a outras medidas de governo.
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Especialistas ouvidos pela reportagem divergiram sobre a publicidade controversa. Professor do curso de Publicidade e Propaganda da Unisinos, José Luís Reckziegel acredita que houve um problema na concepção das peças que, fora de contexto, soam agressivas.
– Parece que não houve um cuidado no sentido de criar um elo. As historinhas na TV e no rádio vão construindo a ideia, e trazem um choque que se faz necessário no final. Mas nem todo mundo vê a campanha como um todo. O desmembramento fez com que a mensagem extrapolasse o conceito, e a agressividade dos painéis pareceu gratuita – avalia o professor, que considera que o atual momento político brasileiro, de ânimos acirrados, não é favorável para abordagens mais polêmicas.
Já para Alessandro Souza, diretor do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM-Sul, o governo acertou na abordagem. Ele acredita que, em tempos de superinformação, com muitas mensagens disputando a atenção das pessoas em diversas mídias, uma campanha com um direcionamento menos convencional pode ter mais êxito e propiciar que haja uma discussão sobre o assunto.
– Estamos em um tempo em que as instituições tendem a ser politicamente corretas. Essa campanha arrisca mais, mas esse é um tema que exige isso, porque tem uma matemática social relevante. Ela instiga, e, de certa maneira, incomoda. Mas é um incômodo salutar, porque tira as pessoas da sua zona de conforto – diz.
Responsável pela concepção e pela aprovação do material produzido pela Agência Nova SB, a Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República não se posicionou sobre a polêmica. Procurado pela reportagem, o órgão informou, em nota, que campanha foi dividida em duas etapas: a primeira teria como objetivo "chocar e chamar atenção para as práticas que geram acidentes involuntários por pessoas que não têm perfil de risco". A segunda fase seria mais didática, com exposição de cuidados para prevenir acidentes.
Líder do PSDB na Câmara, o deputado federal Ricardo Tripoli (SP) disse, em sua conta no Twitter, ter pedido a suspensão da campanha lançada pelo Ministério dos Transportes. A campanha foi um dos assuntos mais comentados na rede social, e viralizou com a tag #bolafora.