A queima de cerca de 300 pneus na praia de Arroio do Sal, no Litoral Norte, provocou dano ambiental e impediu a reciclagem dos resíduos, o que causou revolta na população. Os metais que restaram do incêndio, ocorrido no sábado, foram recolhidos na manhã desta segunda-feira e serão encaminhados a um aterro sanitário.
Caso não fossem queimados, os pneus seriam encaminhados para reciclagem, explicou o secretário de Meio Ambiente do município, Maicon Bauer Schardosim. Segundo ele, a prefeitura ficou sabendo do caso no sábado pela manhã, assim como a Brigada Militar, que registou ocorrência. Os órgãos foram avisados por moradores.
Prefeitura e BM acreditam que o descarte irregular dos pneus tenha sido feito à noite, provavelmente com auxílio de um caminhão. Isso porque o local é de fácil visibilidade. Se o material tivesse sido descartado durante o dia, provavelmente algum morador teria visto a ação.
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– Como não tinha expediente, as pessoas começaram a ligar para o meu celular avisando sobre os pneus. Isso causou revolta na população, porque a praia é nosso cartão-postal – afirmou Schardosim.
Embora os turistas encontrados pela reportagem na praia não soubessem dos pneus, moradores que estavam em um bar da cidade mostraram indignação com o descarte irregular.
– Isso é um absurdo. Agora, até colocaram fogo nos pneus – disse um deles, que preferiu não se identificar.
No sábado, a prefeitura agendou a retirada dos resíduos para "a primeira hora de segunda-feira", segundo o secretário, "porque os motoristas não trabalham nos finais de semana". Os pneus seriam encaminhados para a empresa Reciclanip, de São Paulo, montada pelas fabricantes de pneus do país para cumprir a exigência legal da logística reversa – destinar corretamente o produto que fabricam. A companhia é a mesma que reciclou os mais de 100 mil pneus encontrados a céu aberto em uma propriedade rural de Ernestina, no norte do Estado, em fevereiro. O material recolhido foi triturado e usado na indústria de cimento.
É o que ocorreria com os pneus caso não fossem queimados. Por causa do incêndio, os resíduos metálicos que restaram tiveram de ser encaminhados para um aterro sanitário, conforme Schardosim. A prefeitura abrirá um processo administrativo para tentar identificar o autor do descarte irregular, que pode ter de pagar uma multa. Já a BM disse que deve encaminhar nesta semana o caso para investigação da Polícia Civil. Procurado pela reportagem, o Ministério Público não havia se pronunciado sobre o caso até o horário de publicação.
Ação liberou gases tóxicos na atmosfera
Além de impossibilitar a reciclagem, a queima dos pneus liberou gases tóxicos para a atmosfera, explica o professor de Engenharia Química da PUCRS Claudio Luis Frankenberg. O engenheiro químico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) Renato das Chagas e Silva reconhece que o incêndio dos pneus causou poluição do ar, mas disse que, pelo recolhimento do material ter sido feito nesta segunda-feira, "não houve danos ao solo e à água".
Por causa do aumento constante da frota de veículos, o professor de Biologia da Unisinos Jackson Müller alerta para a responsabilidade do poder público em fiscalizar a logística reversa, para evitar que casos como de Ernestina e Arroio do Sal se repitam. Segundo a Fepam, há 84 pontos de recolhimento de pneus no Estado, sendo três deles no Litoral: em Osório, Capão da Canoa e Tramandaí.
– A logística reversa é algo que funciona no Estado. Não tem mais justificativa fazer esse descarte irregular, não levar para um ponto de coleta. O cidadão que fez isso é mal-educado – afirmou Renato das Chagas e Silva, engenheiro químico do órgão.
Para fiscalizar a ação de fabricantes, revendedores e borracharias, as prefeituras têm obrigação legal de possuir um Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, que em Arroio do Sal começou a ser elaborado no início do ano. A previsão da prefeitura é que ele seja finalizado em 2017.