Quando Lisa Mastramico precisou de alívio para Little Kitty, sua gata malhada doente, recorreu a uma fonte improvável: maconha.
Aos 12 anos de idade, a gata tem artrite. Por muito tempo, Little Kitty passou seus dias escondida em um armário, onde Lisa construiu para ela uma cama de cobertores fofinhos. Depois de tentar vários suplementos que se provaram ineficazes, Lisa foi a um encontro do Women Grow, um grupo da indústria de empreendedores de cannabis. Ela não aceitou a ideia rapidamente.
– Minha preocupação era de que não é o meu papel deixar minha gata louca – conta Lisa, diretora de uma rede de televisão pública em Long Beach, na Califórnia.
Mas, como Little Kitty estava ficando cada vez mais isolada, chegou a hora de tentar. Lisa conseguiu um cartão de maconha medicinal e comprou dois óleos comestíveis, feitos para bichos de estimação e derivados de cannabis, que ela espirra na boca do animal. Little Kitty não se esconde mais. Na verdade, está mais parecida com o que era antes: toma sol no carpete da sala e brinca com a outra gata de Lisa, Valentina.
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– Nas vezes em que tomou o óleo, nunca pareceu louca: caindo de boca na tigela de comida, devorando tudo. Ela socializa, quer ficar no colo, quer ser acariciada. É uma diferença muito grande.
Outros amantes dos animais que recorreram a produtos que têm a cannabis como base para aliviar várias doenças de seus bichos, entre elas convulsões, inflamações, ansiedade e dor, estão tendo resultados parecidos.
Cate Norton, de 36 anos, que mora em Springfield, Vermont, e trabalha em um centro de resgate de animais, diz que leva seus dois rottweilers, Ruby e Leia, a um veterinário em Hanover, New Hampshire, onde a maconha medicinal é permitida.
– Meu veterinário gostaria de fazer isso, mas legalmente não pode nem tocar nela – conta.
Cate dá a Leia, de três anos, um produto à base de cânhamo chamado Canna-Pet para convulsões e ansiedade. Nos oito meses de tratamento, "houve uma grande redução na gravidade das convulsões", afirma ela.
Para entender o efeito da cannabis nos animais, é bom conhecer um pouco de ciência. A planta contém dezenas de canabinoides, entre eles o THC (tetraidrocanabinol) e o CBC (canabidiol). O THC tem as propriedades psicoativas que fazem com que as pessoas fiquem loucas, mas que são tóxicas para animais.
O CBC, por outro lado, oferece os benefícios sem os efeitos. O cânhamo industrial, usado para fazer tecidos e papel, é utilizado também nos produtos para os animais porque seus níveis de THC são desprezíveis.
– Os cachorros são muito sensíveis aos efeitos do THC – conta o doutor Steve Blauvelt, veterinário de Bend, no Oregon. Com a recente legalização da maconha em alguns estados americanos, mais animais de estimação acabaram nos hospitais veterinários ofegantes e correndo perigo depois de fuçar nos esconderijos de seus donos ou furtar um biscoito de maconha do balcão.
– A maioria dos donos que trazem os animais negam – conta Blauvelt. Mas no final, explica, "acabam abrindo o jogo e dizendo que o cachorro comeu um de seus brownies".
Pallas Weber, de 53 anos, editora de vídeo de Los Angeles, estava cética quanto a dar cannabis a Emmett, seu cão de 12 anos, uma mistura de pastor com chow chow que foi diagnosticado com câncer nos ossos em 2012, o que levou à amputação da pata da frente esquerda. Mas o analgésico que sua veterinária prescreveu o deixava muito tonto para aguentar seus quase 35 quilos sobre as outras patas.
Então, em junho, Pallas comprou para Emmett uma tintura à base de cannabis chamada VETCBC, vendida em farmácias da Califórnia. Quatro meses depois, Pallas diminuiu os analgésicos, e Emmett recuperou um pouco de gingado orgulhoso. Ela também usa o remédio para a ansiedade do cão, dando-lhe uma dose extra no feriado de quatro de julho para evitar que ele se enfie no armário. – Os fogos o deixam realmente apavorado – conta.
Donos de animais de estimação da Califórnia, onde a maconha medicinal é legal há duas décadas, estão na vanguarda da tendência. Rachel Martin, de 32 anos, treinadora de cachorros, usa o VETCBC para vários dos problemas de seus cães.
– Todos eles possuem questões médicas muito complexas e detalhadas – explica. O Jack Russel Shadow passou por várias cirurgias; Sophie, uma rat terrier, foi diagnosticada com câncer; e o chihuahua-mix Petri sofre de ansiedade por causa de medo.
Pallas precisou de um cartão de maconha medicinal para comprar os produtos para seu cachorro. Isso fez com que tivesse uma conversa estranha com um médico que só prescreve maconha medicinal para pessoas.
– Fui a esse médico e disse: "Preciso de um cartão para conseguir maconha medicinal para meu cachorro que teve câncer" – conta Pallas, que diz que não fuma maconha nem bebe.
– Ele disse: "Não tenho como resolver esse problema". Então, falei para ele que tinha insônia.
Por Laura M. Holson