Recebi uma enxurrada de e-mails e comentários sobre a coluna que publiquei do Diário Gaúcho, na segunda-feira passada. A maioria dos comentários se dividia em dois perfis: usuários de táxis reforçando a necessidade da qualificação do serviço e, em contrapartida, taxista e familiares criticando o artigo – algumas reclamações, inclusive, rasteiras e destemperadas, o que faz parte do jogo em tempo de redes sociais incendiadas.
Para quem não leu a coluna, aqui vai o link.
Para quem não tem interesse em ler a íntegra, mas quer continuar lendo este texto, faço uma breve contextualização.
Entendo que o Uber se tornou uma realidade em Porto Alegre, entre outras coisas, pela demanda reprimida que há para o transporte individual de passageiros. Ao longo de anos, escutei a mesma versão dos responsáveis pela EPTC ao justificar a não concessão de novas placas: os menos de 4 mil táxis autorizados a funcionar na Capital seriam suficientes para a demanda da cidade. A vida está mostrando que não é bem assim. Tanto é verdade que se estima a existência de 5 mil Uber em funcionamento.
Outro aspecto importante para compreender o sucesso do Uber em terras pampianas é a qualidade do serviço que parte (uma minoria, repito!) dos taxistas oferece. Com frequência, jovens relam comentários grosseiros de condutores fanfarrões. Sem falar em casos, ainda menos frequentes, mas que ocorrem, de motoristas que espicham a corrida para engambelar passageiros incautos.
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De todas as mensagens críticas que recebi, a mais ponderada e consistente é de uma mulher, esposa de taxista. Para dar oportunidade ao outro lado de se manifestar, publico trechos do e-mail, preservando a identidade da leitora.
"Meu marido sempre trabalhou dentro das leis e sempre procurou dar o melhor para os passageiros como segurança, conforto e o bom atendimento, mas agora ele é visto como um bandido, ladrão, trambiqueiro e por aí vai... Por quê? Agora, além de ter que conviver com a incerteza de que vamos ter o suficiente para os gastos do carro e do lar, tenho um marido cheio de psoríase.
Agora, vou contar uma coisa que talvez você não saiba... Tínhamos um carro (ano 2009), que tiramos da praça depois de três anos de uso, pois sempre achamos que carro novo faz a diferença para o passageiro. Pintamos ele na cor original, e ele era usado pelo meu filho. Ficamos com o carro até junho desse ano. Como já estava dando muita manutenção, resolvemos vender. Informamos que já tinha sido usado como táxi e vendemos por um preço bem abaixo da tabela FIPE. Olha, não imaginava que tanta gente interessada em colocar para trabalhar no Uber apareceria! Pois bem, agora, o carro é usado por um motorista de Uber de Porto Alegre. Esse carro nunca passaria em uma vistoria da EPTC nem vai passar por vistoria do GNV. Nem tudo que reluz é ouro! Quantos carros nessa situação estão nas ruas? Pneus trocados como o nosso, de quatro em quatro meses? Manutenção mensal? E tem mais: acho que conhecemos mais ou menos uns cinco, seis ex-taxistas que estão trabalhando no Uber porque foram barrados no táxi com problemas com a Justiça. Então acho, sim, justo poder escolher, mas com igualdade a todos, tanto para o Uber como para o taxista. Senão, desse jeito, vamos entregar o alvará e trabalhar para o tão maravilhoso mundo do Uber.
Só o que peço é que deixem esse povo viver. Se está ruim, a única coisa que a mídia está fazendo é piorar. Vai acontecer é que os taxistas vão trabalhar para o Uber até que eles façam o que já estão fazendo, que é acabar com os próprios colaboradores deles automatizando seus carros, acabando com a concorrência e trazendo mais desemprego ao país...
Só para informar: sempre procuramos dar ao nosso cliente do táxi todo conforto como wi-fi, livros grátis, carregador de celular, carro limpo e perfumado. E também tem balinha! Meu marido sai sempre muito limpo e com camisas lavadas e passadas por mim e exijo do motorista da noite roupa e barba feita. Em breve, se o Uber e a imprensa não nos quebrar de vez, vamos trocar o carro por uma Spin, se Deus quiser!".