A conversa animada dentro do carro é interrompida quando a dupla de detetives avista, a meia quadra de distância, a moça deixando o prédio. No resguardo da película escura que recobre os vidros, Aline e Rodrigo se preparam para partir, deixando que a jovem arranque primeiro, guardando uma distância segura. Permitem que outro veículo ingresse antes na via e sirva de anteparo a uma eventual desconfiança da investigada. Sentada no banco do carona, Aline envia o primeiro boletim ao cliente, em uma mensagem de áudio pelo aplicativo WhatsApp:
– São 15h40min. Ela acabou de sair de casa.
Com fotos e vídeos, as atualizações são repassadas em tempo real. O contratante, um marido suspeitoso da alegação de que a mulher teria uma consulta médica no meio da tarde, aguarda a informação sobre o destino final da parceira para ir rumo ao flagrante do que imagina ser um encontro extraconjugal. Em um bairro vizinho, ela estaciona, mas não desce.
– Está esperando alguém – aposta a detetive, minutos antes de se iniciar uma perseguição eletrizante pelas ruas da Capital.
Aline habita o imaginário dos porto-alegrenses graças à presença ostensiva de cartazes ofertando seus serviços pelos postes da cidade. Na atividade há 17 anos, a loira de 1m75cm comanda um time hoje composto por 18 detetives particulares que percorrem as ruas da Região Metropolitana, do interior do Rio Grande do Sul e até de outros Estados no encalço de quem tem algo a esconder. À exceção de alguns casos envolvendo fraudes empresariais, pais separados que temem que os filhos sofram maus-tratos dos ex-cônjuges e até animais de estimação desaparecidos, o grosso da demanda se refere à suspeita de traição nas relações amorosas. Aline, 43 anos, trabalha ao lado do marido, Rodrigo, 32, parceiro nas campanas de longas horas em carro ou moto.
– Não tem como trair aqui – diverte-se ela.
Sob a condição de que seu rosto e seu nome verdadeiro não fossem revelados, Aline autorizou a reportagem a acompanhá-la por três dias. Interrompida a todo momento pelo toque dos celulares – são quatro linhas em dois aparelhos –, ela relembrou as investigações mais marcantes, os desfechos inesperados, as cenas inusitadas de uma trajetória que por vezes se assemelha a enredos de ficção.
A carreira teve início na urgência imposta por um drama pessoal: viúva aos 25 anos, Aline enxergou na função exercida pelo tio uma forma de sustentar os três filhos de então (ela teria o quarto filho em um relacionamento posterior) – a caçula contava apenas 37 dias quando o pai da criança morreu de infarto, dormindo. O codinome que traria fama surgiu de repente, quando a novata teve de atender ao primeiro telefonema no escritório. Sem muito refletir, e não querendo se aproveitar do nome de algum familiar ou amigo próximo, pensou em uma vizinha. Batizou-se: Aline.
O curso de Direito foi abandonado antes da metade, quando ela percebeu que ganharia muito mais se dedicando às diligências furtivas. Não se arrepende: surge pelo menos um novo caso por dia. É possível contratar um investigador para uma missão específica (R$ 500 a diária) ou solicitar um pacote de sete dias, partindo de R$ 2,4 mil – metade paga antecipadamente, o restante ao final. Compromissos ou características do comportamento do investigado podem encarecer a fatura. Se a pessoa dirige perigosamente, desrespeitando limites de velocidade, ou frequenta restaurantes, obrigando a equipe a se posicionar em uma mesa próxima para ouvir a conversa ou fotografar beijos e afagos trocados durante a refeição, o cliente gasta mais. A variedade e a quantidade de histórias que Aline coleciona lhe apuraram o faro para antever com alto índice de acerto, já no primeiro encontro com o contratante, se as suspeitas têm fundamento ou não.
– Vocês não têm mais relações sexuais? Ela está mais vaidosa? Começou a fazer academia? Fica irritada ao seu lado? – pergunta ela aos aflitos.
Aline responde sem titubear: com base em sua clientela, as mulheres traem mais – e disfarçam muito melhor –, tendência que parece estar sofrendo mudanças de uns tempos para cá, quando mais homens têm se aventurado para além dos limites do lar. Na parcela masculina, quem costuma manter romances em surdina, segundo Aline, geralmente são os mais velhos.
– Os guris estão fracos para o sexo – diz.
SEXTA E SEGUNDA: DIAS DE ADULTÉRIO
Entre as 9h e o meio-dia de uma segunda-feira, Aline e Rodrigo têm na pauta dois casos de infidelidade: um na Grande Porto Alegre, o outro em um bairro nobre da Capital.
– Dias maravilhosos para nós: segunda e sexta-feira. É quando dá adultério.
Aline explica: na sexta-feira, os amantes costumam se encontrar para suprir com antecedência a saudade que será nutrida ao longo do final de semana, quando estarão apartados por força da rotina conjugal "oficial" de pelo menos um deles. Na segunda-feira, sucumbem à sofreguidão pelo reencontro. A detetive mostra, no celular, a foto do perfil do Facebook da primeira investigada da manhã. Com base no que ouviu do cliente no contato inicial, tem certeza de que não vai flagrar nenhuma escapadela da moça:
– Eles estão há anos juntos, ela nunca aprontou nada. Só que esse casamento começou numa traição, quando ela era casada. Aí ele fica pirado para o resto da vida.
Feitas algumas fotos mostrando que o carro da mulher está na garagem, a detetive convoca outros membros do time para que assumam o posto – a troca dos observadores é procedimento comum, para evitar que um mesmo veículo parado em um local por muito tempo chame a atenção da vizinhança. Aline e Rodrigo preferem acompanhar os casos que tendem a ser mais emocionantes, terceirizando os demais. Já é hora de voltar à Capital, onde a contratante da vez acredita que o marido não tenha rompido, conforme alegou, o relacionamento com a amante. Aline forneceu à cliente um aparelho de GPS, fixado embaixo do banco do carro do investigado. O dispositivo dispõe de um chip de celular acoplado, e os detetives acionam, a distância, uma escuta ambiente. Acreditando estar seguro dentro do veículo para telefonar à companheira extraoficial, o homem acabou entregando aos investigadores seus planos inconfessados para aquele dia: sairia de casa por volta das 11h para um almoço às escondidas.
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Enquanto espera, Aline conversa. Uma lembrança puxa outra, e ela ressalta que, além de detetive, também improvisa como psicóloga. Certa vez, procurou-a um homem com dificuldades para se convencer de que a mulher atuava, de fato, em um salão de beleza.
– Ela ganha muito dinheiro – inquietava-se ele.
Aline começou a seguir a suposta cabeleireira. Não demorou para vê-la entrando em um prédio sem qualquer placa que sinalizasse a existência de uma estética.
– Olha, salão não é – adiantou ao cliente durante o trabalho de campo.
Uma consulta ao Google revelou o ramo de atividade daquele endereço: tratava-se de uma casa de massagem. No site, a investigada de vida dupla se exibia até com foto e codinome. A partir daí, o marido emergiu das sombras e, dissimulando, marcou hora com a própria mulher. Após ouvir que a amada estava disposta a abandonar o emprego, ele telefonou para Aline em busca de um conselho:
– Fico com ela ou não?
Pausa nas rememorações: o homem aguardado naquela manhã abre a porta de casa. Aline e Rodrigo têm a garantia de que não perderão o investigado de vista, observando na tela do celular a rota descrita pelo GPS plantado no carro. Depois de quatro quilômetros, ele apanha a namorada oculta na portaria do condomínio, e logo fica clara uma mudança nos planos.
Em uma avenida da Zona Norte, surge à frente uma placa com letras chamativas.
– Olha só onde eles vão entrar – indica Aline.
Rodrigo para o carro na via, liga o pisca-alerta e saca a câmera fotográfica para um registro do casal entrando em um motel.
– Esse foi barbadinha – diz Rodrigo. – Tem uns que ficam dando volta na quadra, achando que estão sendo seguidos.
À cliente, a detetive repassa orientações para o flagrante.
– Tô indo lá. Vou pegar esse sem-vergonha. E vai ser hoje – responde a mulher.
Devido a incidentes passados, Aline hoje evita estar presente nessas ocasiões. Um dia, a mulher que resolveu aparecer de surpresa no motel onde o marido estava com a amante acabou sendo agredida e pedindo ajuda, aos gritos de "socorro, detetive!".
Com o caso encerrado, é hora de uma pausa para o almoço antes de retomar as andanças.
A agenda está cheia.
– Graças a Deus, não teve crise (econômica) para nós – comemora Aline.
INVESTIGANDO A PRIVACIDADE ALHEIA
Os detetives particulares brasileiros invocam com frequência um texto antigo, de quase 60 anos atrás, como prova da legitimidade do ofício que exercem. A lei 3.099 de 24/2/1957 prevê o funcionamento de "estabelecimentos de informações reservadas ou confidenciais, comerciais ou particulares". Está em fase final de tramitação no Congresso Nacional o projeto de lei 106/2014, de autoria do deputado federal licenciado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), atual ministro do Trabalho e Emprego, que regulamenta a profissão. Esse PL complementa a lei anterior, implementando uma série de pré-requisitos para a atuação do detetive, entre eles a obrigatoriedade da realização de um curso de no mínimo 600 horas/aula, com currículo baseado em conhecimentos de Direito, exigência que desagrada a grande parte da categoria. De acordo com o advogado trabalhista Gustavo Juchem, o PL coloca restrições à atuação do profissional, o que significa dar mais garantias para quem contrata o serviço, mas peca por não estabelecer um órgão fiscalizador (a criação de um conselho federal está prevista em outro PL). Pelo país, existem hoje diversas entidades que reúnem detetives e promovem cursos de formação, alguns totalmente online, mas não há uma como referência.
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Segundo especialistas, uma linha tênue separa o direito das pessoas de terem sua privacidade preservada e o direito dos detetives de trabalhar. O decreto que regulamentou a lei atualmente em vigor diz que as empresas de investigação "deverão exercer sua atividade abstendo-se de atentar contra a inviolabilidade ou recato dos lares, a vida privada ou a boa fama das pessoas". Para o advogado César Peres, presidente da Associação dos Criminalistas do Rio Grande do Sul, o ato de observar, seguir e fotografar pessoas pelas ruas, ainda que essas imagens sejam remetidas a terceiros, não representa, por si só, uma invasão de privacidade, conceito abstrato que carece de detalhamento na legislação. Quem está em um espaço público assume o "risco" de ser observado, e personalidades conhecidas devem ter uma tolerância ainda maior quanto a isso, por despertarem o interesse dos demais. Já quanto a fornecer ou implantar um dispositivo de navegação por satélite, por exemplo, não se trata de um crime. O ato poderia ser enquadrado como uma contravenção penal – neste caso, perturbação da tranquilidade –, sujeita à prisão de 15 dias a dois meses. Para tanto, seria necessário que o investigado fizesse uma denúncia. Como os detetives costumam atender a demandas da esfera íntima dos envolvidos, acaba sendo pouco provável que alguém procure a polícia ou um advogado, expondo-se ainda mais.
– É uma cifra negra, uma ilicitude que não vem a público. Há uma espiral do silêncio em torno disso. Sabe-se que acontece, mas e a prova? O ofendido teria que se manifestar. Mas as pessoas geralmente não fazem isso, por desconhecimento da lei, medo ou vergonha – afirma Peres.
Aline relata ter sido processada uma única vez, por um adúltero. Segundo ela, "não deu em nada". A detetive, que chegou a ser requisitada até por uma delegada que suspeitava do marido, diz não ter medo de possíveis complicações e justifica sua atuação:
– Tudo depende dos olhos de quem vê a situação. Tem muitas pessoas que ficam sacaneando seus companheiros, e acho que eles têm o direito de saber. Se um detetive não puder fazer isso, não puder fazer aquilo, então é melhor não trabalhar.
DOSSIÊ MONTADO PELA AMANTE
Mais numerosas no cotidiano de Aline, as demandas do âmbito amoroso nem sempre se referem a clientes que querem surpreender os consortes em pleno delito. Há tramas de configuração bem mais complexa. Certa vez, um homem, ciente de que a mulher mantinha um relacionamento paralelo com outro, quis flagrar o concorrente sendo infiel. Ou seja: o marido enganado desejava provar à cônjuge que o traía que o amante dela não era confiável.
Nessa linha, um serviço recente chamou a atenção da investigadora pela ousadia e obstinação da contratante. Apaixonada, a jovem pediu para ter seus encontros com um homem comprometido registrados em fotos e vídeos, com o intuito de produzir um dossiê a ser enviado para a companheira número um. O casal foi fotografado em um restaurante, entrando no motel e durante minutos ardentes dentro do carro (era essencial que a placa ficasse nítida para dar consistência à documentação).
Aline e Rodrigo utilizam muito os telefones celulares para captar imagens. Em situações mais delicadas, ainda que o resultado fique devendo em qualidade, disparam as câmeras embutidas nos óculos dela ou no relógio de pulso dele – canetas com lentes camufladas já não são mais utilizadas por terem se tornado muito manjadas. Para uma das missões contratadas pela garota disposta a dedurar o parceiro casado, os investigadores partiram com a orientação de que as fotos daquela tarde deveriam ser produzidas com a câmera grande. A cliente já dispunha de um arsenal de imagens de potencial demolidor, mas, perfeccionista, exigiu mais: queria o rosto do rapaz estampado em ótima resolução.
– Elas são terríveis – comenta Aline sobre a impetuosidade das amantes, especialmente as de determinado ramo profissional. – De que adianta? Depois eles vão aprontar para elas.
A dupla para próximo a um parque, repleto de famílias tomando chimarrão e crianças brincando, e tenta localizar a jovem, que passou uma descrição da roupa que está vestindo para facilitar sua localização. Sentada em um banco, onde é facilmente alcançada pelo zoom, ela aguarda a chegada do desavisado. Mesmo quando está à beira do clímax de uma campana, como agora, Aline não pode abandonar os demais clientes que clamam por notícias – é preciso atender o telefone que toca ao som da trilha de Missão Impossível, série de filmes de ação e espionagem estrelada por Tom Cruise no papel do agente Ethan Hunt.
– Tô achando que é alguém de dentro do bloco – fala o interlocutor, supondo que, na ausência de evidências a céu aberto, a mulher esteja mantendo um romance com um vizinho.
Aline dá um suspiro ruidoso ao encerrar a chamada. Tem certeza de que o homem está em delírio, atormentado por histórias imaginadas. Logo entra a mensagem da garota que está a postos a poucos metros dali: o rapaz não poderá comparecer, escreve ela, marcando nova investida para o dia seguinte. Para a detetive, não há tempo desperdiçado: estão garantidos os R$ 500 da diária.
O destino agora é uma unidade do Detran, onde os detetives vão tentar identificar o proprietário de um veículo – uma prostituta está apaixonada por um homem que prometera, além de filhos, tirá-la "dessa vida". Ela intuiu estar sendo iludida quando encontrou, com a ajuda de Aline, o perfil da mulher dele no Facebook.
– Desgraçado, só queria transar sem camisinha – desabafou.
A garota, que repassou à detetive o número da placa, acredita que ele tenha inventado até mesmo o próprio nome. Não quer ficar com essa dúvida.
FLAGRANTES E PERDÕES
Numa quinta-feira de sol, Aline e Rodrigo estão no caso descrito na abertura desta reportagem – querem saber se a jovem que saiu de casa à tarde vai mesmo a um consultório médico. A investigada aguarda por alguns minutos no carro, até que um rapaz de mochila entra. Eles partem.
Perto de um cruzamento com sinaleira, o pior dos cenários se materializa: o automóvel que está sendo seguido avança, enquanto os detetives têm de frear diante da luz vermelha.
– Que merda mesmo! – pragueja Aline. – Mete a sirene! – ordena ao marido.
Rodrigo aciona um comando próximo ao volante, e ouve-se o barulho característico das viaturas de polícia e ambulâncias que necessitam abrir caminho a qualquer custo em nome das emergências. Ele apela também para a buzina. Aline abre o vidro e gesticula:
– Dá o ladinho, faz favor!
O condutor imediatamente à frente resiste, mas acaba liberando a passagem. Rodrigo acelera, reduzindo a velocidade ao passar por esquinas, procurando, nas ruas transversais, o modelo popular da investigada. Quatro quadras adiante, os suspeitos enfim são avistados.
– Pelo amor de Deus, não perde eles, fica na cola deles – suplica, por celular, o marido que contratou o serviço. – Como é que está a situação?
A perseguição chega a um shopping.
– É melhor você já começar a se deslocar – sugere Aline ao cliente.
– Preciso saber quem é esse rapaz, me manda uma foto, preciso saber qualquer coisa – angustia-se ele.
Aline se acomoda em uma mesa da praça de alimentação enquanto os jovens aguardam na fila de uma lanchonete. Terminada a refeição, eles se dirigem ao guichê para pagar o tíquete do estacionamento. É nesse trajeto que toda dúvida se dissolve: o homem passa o braço sobre os ombros da garota e a beija. Sentindo-se aparentemente desconfortável com a carícia explícita, ela se desvencilha. Alguns passos atrás, a detetive captura a cena com a câmera inserida na armação dos óculos. O cliente já sabe de quem se trata.
– É um colega dela – conta o marido que acaba de se confirmar traído, o desalento evidente na voz. – Tu vê, né? – acrescenta, encerrando a intervenção via WhatsApp.
Silêncio no carro, já de volta ao fluxo de uma das avenidas mais movimentadas da Capital, outra vez atrás do casal. Rodrigo, olhar atento ao trânsito, replica para o interlocutor que não pode ouvi-lo:
– Tu vê...
Aline emenda:
– Eu não me surpreendo com mais nada.
Os amantes rodam em direção à Zona Sul, entrando em um motel. O contratante da investigação já deixou o trabalho e está a caminho. Para Aline, a experiência de quase duas décadas às voltas com escapulidas em matrimônios permite uma conclusão: a descoberta dos relacionamentos escusos quase nunca resulta em separação. A detetive lembra a vez em que ficou parada no congestionamento de uma avenida – estava observando um homem que iniciava uma viagem com a amante, ambos dentro de um carro alguns metros à frente. A mulher do investigado, impaciente, pedia coordenadas a Aline, querendo testemunhar a infidelidade. Na tranqueira do trânsito, a cliente não se conteve: desceu do táxi, ziguezagueou entre os veículos e grudou-se na janela do marido, sobressaltando o casal que se preparava para o idílio fora da cidade.
– Ele deixou ela no meio da rua e inventou uma desculpa depois: "Dei carona para uma amiga". E passou o final de semana fora – recorda Aline. – Eles seguiram casados – destaca.
Sobre o caso atual, recém-concluído, Aline vislumbra os próximos capítulos com base no abatimento do jovem marido: sim, ele está claramente abalado, constata ela, mas não se trata do fim do casamento.
– Agora eles vão conversar, vão ver qual foi o erro, com certeza ela não vai querer se separar, ele vai perdoá-la e eles vão acabar juntos. Mas depois ele vai querer ver se ela está traindo de novo – prevê. – Tem uns que ficam com vergonha e contratam outro detetive depois, mas tem os que não têm vergonha e retornam para nós.
Rodrigo remata:
– Quem paga (pelo serviço de investigação) geralmente é aquele que perdoa. O que não perdoa não gasta dinheiro com isso.
A noite se aproxima, e o último compromisso do dia é receber um pagamento na Zona Norte. É provável que o trabalho continue em casa – fora a atenção exigida pelos filhos (dois deles já se ensaiam como detetives), o celular não dá descanso. Até alguns anos atrás, Aline mantinha o aparelho ligado de madrugada. Agora não mais, principalmente devido à importunação por parte dos interessados em outros serviços – até hoje, há quem acredite que os cartazes espalhados pela cidade, com a imagem de uma garota (filha de Aline) com o rosto encoberto por uma câmera fotográfica, são uma mensagem cifrada de prostitutas ou clínicas de aborto. Aline mostra, na tela do telefone, a mensagem que um sujeito de braço musculoso e tatuado acaba de mandar: "Oi, queria informações sobre o seu programa, valor, local e fotos".
– Sabe como é que a gente corta isso? – indaga Rodrigo. – Eu mando um áudio. Daí eles pensam: "Bah, é um homem!".
Na despedida, ao ser questionada se é feliz na atividade que escolheu, Aline garante que sim, "100%".
– Depois que você acostuma com essa adrenalina, não larga mais. Não tem dia igual – diz a detetive. – Pode existir rotina no casamento, mas no trabalho não.