Sitandra Clair de Lima Vargas tem oito anos e sonha em ser bailarina. Costuma abrir um sorriso largo toda vez que assiste àquelas mulheres rodopiarem na ponta dos pés na TV. O fato de nunca ter caminhado, por ter uma deficiência física, não a impediu de desejar ser uma delas.
Na noite desta segunda-feira, em Lajeado, a pequena realizou parte de seu sonho. Vestida com um collant rosa bordado com pérolas e uma saia de tule branco, a pequena foi a modelo que abriu o Desfile de Moda Inclusiva, realizado no teatro da Univates. Entrou na passarela de cadeira de rodas, erguendo os braços em círculo, como uma bailarina. Quem a conduziu foi a estudante de Design de Moda da universidade Amanda Kappler de Moura, 20 anos, que confeccionou a roupa.
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– Fui até a casa dela para a conhecer melhor, e ela me contou que não tinha nenhum sonho. Quando insisti, revelou que era ser bailarina – relatou a acadêmica.
Por causa de uma cirurgia feita no mês passado, a modelo quase não desfilou. A mãe Fabiana de Lima, 45 anos, conta que a menina passou por um procedimento para deixar a perna direita mais reta, o que exigiu a colocação de pinos.
– Ela estava com vergonha de desfilar com esses ferros na perna, mas depois aceitou. Foi muito emocionante.
A reparação fará a menina ter mais força na perna para poder ficar em pé. Com fisioterapia, poderá caminhar e, quem sabe, dançar balé.
O desfile foi feito para promover a moda inclusiva, pensada para ser a acessível a pessoas com deficiência. Cada um dos 16 modelos contou para as estudantes seus sonhos, que serviram de inspiração para as peças.
Fã de super-heróis, em especial do super-homem, Adriel da Silva Machado, 14 anos, que tem síndrome de down, virou o Super-Adriel na passarela. Desfilou com com braço para cima, voando como o Clark Kent.
– Eles já são super-heróis, por enfrentarem dificuldades todos os dias e se superarem – contou Maizi de Borba, 23 anos, estudante que confeccionou o uniforme do superpoderoso: calça e moletom com as cores azul e amarelo e uma capa vermelha.
Fã de Pokémon, Everton Gabriel Borges, oito anos, entrou na passarela em sua cadeira de rodas, vestido de Pikachu. Com síndrome de down, Sara Quetlin Gabe, 34 anos, desfilou com um vestido de prenda azul, ilustrando sua paixão pela dança gaúcha.
Com deficiência visual, Suzana das Graças Amaro, 31 anos, desfilou um traje de gala, com a frase "vestido longo verde água feito sob medida" bordado em braile nas costas, com pérolas. Emanuele Rodrigues Castro, seis anos, entrou na passarela com um vestido de princesa azul, inspirado na personagem protagonista de Frozen.
– Fiquei muito emocionado quando me contaram do desfile, foi uma ideia muito boa para a inclusão – contou o pai da menina, que teve paralisia cerebral, Norberto Castro.
O evento foi realizado em parceria da Univates com a empresa Mercur. Antes do desfile, houve uma conversa sobre moda e inclusão, seguida por apresentações de dança protagonizadas por alunos das Apaes da região.
Após o desfile, nos camarins, o que mais se via eram pais chorando com os filhos sorridentes nos braços.
– Também quero ser modelo – disse Sitandra para a mãe, revelando que o coração de bailarina abriu espaço para a passarela.