Assim que desembarca no aeroporto em São Paulo, Luana Novelli de Lima, 11 anos, liga para a mãe, Viviane, para avisar que chegou ao destino. Uma ligação também foi feita ao entrar no avião, ainda em Florianópolis. Os contatos por celular fazem parte de um acordo que deixa a mãe mais tranquila quando a pequena viaja sozinha. Além disso, o pagamento de uma taxa extra obrigatória garante que ela seja supervisionada por um comissário de bordo. O voo solo não é novidade para as duas: a menina passa as férias com os avós desde os sete anos, já que a mãe não consegue folga do trabalho nesta época.
O recesso de julho é um bom período para as crianças visitarem aquela avó ou tia que moram longe e, de quebra, conquistarem mais autonomia, pois boa parte dos responsáveis segue com a rotina normal de trabalho e não consegue acompanhá-los. Mas especialistas fazem um importante alerta: os pais não devem transferir as responsabilidades e devem sempre respeitar a vontade dos pequenos. Para a psicóloga Giselle Dechen, é preciso estimular a independência dos filhos, mas ao mesmo tempo ficar de olho:
– Mostrar que confia em seu filho é fundamental para ele criar autonomia. Independência é uma habilidade essencial para ser um adulto saudável e bem-sucedido. Os pais têm o papel de orientar seus pequenos para voarem livremente, por mais angustiante que isso seja.
Sobre a idade em que os pais devem começar a soltar mais os pequenos, não há consenso e depende muito de cada caso. Para a professora do curso de Pedagogia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Maria Fernanda D’Ávila Coelho, o primeiro passo é conversar com a criança e saber se ela realmente quer isso. Além disso, os pais devem conhecer os filhos para saber o momento de deixá-los viajar sozinhos. Ela acredita que se eles estão acostumados a ficar com outras pessoas e viajar, a partir de sete anos já é possível fazer algumas experiências. Após os 10, pode-se estabelecer regras, inclusive sobre o comportamento a distância.
– Acredito que além da idade cronológica, deve-se avaliar o grau de autonomia, considerar para onde é a viagem também é importante. Em viagens mais longas é melhor autorizar crianças acima de 10 anos – acrescenta Giselle.
Caso seja bem planejado e acordado com os pequenos, a professora da Univali defende que a aventura solitária pode representar ganhos no desenvolvimento integral da criança, pois ela sai da rotina, conhece novos lugares e viaja. A representante de vendas Viviane Novelli comprova isso nas férias da filha Luana:
– Cada vez que ela vai, volta mais adulta, mais independente.