A Operação Inverno, realizada pela prefeitura de Porto Alegre como um reforço na rede pública de atendimento à saúde no período mais frio, neste ano está bem mais modesta do que deveria para o enfrentamento de um inverno tão rigoroso. Uma notícia preocupante em um momento de superlotação das emergências hospitalares da Capital.
De acordo com o secretário da Saúde da Capital, Fernando Ritter, a operação teve início no dia 1º deste mês e prevê a contratação de 70 temporários, entre técnicos de enfermagem, auxiliares de farmácia, enfermeiros e médicos, para atuar nos pronto-atendimentos Cruzeiro, Bom Jesus e Lomba do Pinheiro e no Hospital Presidente Vargas (pediatria) – todos abertos 24 horas.
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Na avaliação dele, o número é 40% menor do que deveria para suprir as necessidades de atendimento. A crise financeira é a principal razão da redução da operação, que vai custar R$ 2,5 milhões e terá duração até 30 de setembro.
Até o momento, apenas 30 profissionais chegaram às unidades de saúde que terão reforço. Os demais devem chegar nas próximas semanas.
Neste ano, como nos mais recentes, não será estendido o horário nas unidades de saúde. Em 103 dos 141 postos da Capital, não há mais fichas de atendimento, mas sim o acolhimento do paciente e a verificação da necessidade de consulta. Por isso, em casos menos graves e durante o dia, a melhor opção é procurar os postos.
De fora da Capital
O frio e o achatamento da operação não são, no entanto, as únicas razões para o momento tão árduo. Conforme o secretário, 45% dos pacientes que procuram as emergências da Capital são oriundos da Região Metropolitana – o tema tem sido debatido entre prefeituras e Secretaria Estadual da Saúde.
Outro motivo apontado seria o grande número de pessoas que perderam seu plano de saúde privado devido à crise econômica. Conforme a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mais de 780 mil pessoas deixaram seu plano de saúde em 2016 no Brasil.
"É um clima de guerra"
Em 20 anos de gestão, o gerente de pacientes externos do Hospital Conceição, João Albino Potrich, diz nunca ter visto uma situação tão difícil como a atual.
– É um clima de guerra o tempo todo – afirma.
O gestor se refere ao quadro constante de superlotação da emergência que, na última terça-feira pela manhã, atendia a 144 pacientes numa estrutura para 64 leitos. Isso provocou a restrição de atendimento a somente casos de risco extremo de morte, medida adotada sempre que o número de pacientes chega a 130.
Potrich também destaca que entre 35% e 40% dos pacientes da emergência do Conceição são da Região Metropolitana.
Complicador
Na emergência do Hospital de Clínicas, o quadro não era diferente: pela manhã, havia 165 pacientes para 41 leitos. Estavam sendo usados, no limite máximo, todos os recursos materiais e humanos disponíveis, para atender a uma demanda quatro vezes maior que a capacidade do serviço de emergência.
Conforme o chefe da emergência do Clínicas, Ricardo Kuchenbecker, a demanda na emergência aumenta entre 15% e 20% por conta de doenças relacionadas ao inverno – bronquiolites virais em crianças, doenças pulmonares em adultos, por exemplo. Como o sistema já opera cotidianamente no limite, o frio mais intenso é um complicador a mais.
Ambos os gestores concordam que a Operação Inverno ajudaria a amenizar a crise.
Upa também é afetada
Sentado numa das cadeiras da sala de espera da Upa Moacyr Scliar, na Zona Norte, o atendente de lanchonete Adrigênio Rodrigues, 72 anos, buscava atendimento na terça-feira pela manhã. Tinha um chiado no peito e tosse encatarrada.
– Estou gripado, há uma semana não durmo à noite. Ano passado, tive a mesma coisa, fui no Clínicas e fiquei baixado 15 dias. Mas agora sabia que estava superlotado e vim para cá – contou.
Conforme a gerente da Upa, Fernanda Zanoto, a superlotação das emergências dos hospitais em breve deverá respingar no pronto-atendimento. Até o final da manhã de terça-feira, tinham passado pela Upa 129 pacientes. Destes, 37 com doenças relacionadas ao frio (30%).