"Quer ser o meu herói? Basta doar 5 ml de sangue. Só 5 ml". Assim, iniciava a reportagem publicada em 10 de outubro do ano passado no DC, quando Caio Szerszen Souza, 8 anos, e seus pais Márcia Szerszen e Sandro Souza apareceram nos noticiários das tevês, rádios, jornais, sites e nas redes sociais fazendo um apelo aos corações solidários. O menino precisava urgentemente de um transplante de medula óssea por ser portador de uma doença rara e muito perigosa: a Doença Granulomatosa Crônica (DGC), que surge devido a um defeito hereditário nos glóbulos brancos.
Quem tem essa patologia não produz substâncias que ajudam a combater infecções fúngicas e bacterianas. A enfermidade é tão rara que, na época da descoberta, só existiam 14 crianças com diagnóstico semelhante no Brasil.
Quase nove meses depois, Caio está de volta às manchetes. Desta vez, para anunciar que o transplante foi um sucesso. O período difícil, cheio de altos e baixos, foi vencido graças à persistência da família, à competência dos médicos, à coragem de Caio e, principalmente, à atitude solidária de um doador anônimo, dos Estados Unidos.
Márcia hoje se emociona ao dizer a palavra futuro. Após anos de angústia, a família voltou a fazer planos.
Caio é manezinho, nasceu em 2007, em Florianópolis. Mora com a família – os pais e a irmã, Sophia, de 12 anos – no Norte da Ilha. Desde bem pequeno sofria com infecções e hospitalizações frequentes. Foram mais de cinco anos nessa batalha até receber o diagnóstico de DGC, em 2015. Devido às infecções frequentes teve que retirar parte de um dos pulmões, que acabou necrosando.
Santa Catarina é referência em doação de órgãos no Brasil
Os médicos davam duas opções: ou o transplante de medula ou remédios (fortíssimos) para o resto da vida, isso se o organismo dele resistisse a tantas infecções. O quadro foi um choque para a família e para o pequeno, que mesmo muito novo entendia bem o que se passava. A opção escolhida foi tentar dar a Caio qualidade de vida, com uma nova medula que produzisse anticorpos.
Campanhas estimulam doação de medula óssea em SC
Conseguir uma medula compatível, porém, é algo raro. Para aumentar as chances, amigos e familiares criaram uma grande rede de solidariedade para incentivar a doação de medula. A campanha ganhou as ruas, atravessou fronteiras e se multiplicou nas redes sociais.
Márcia parou de lecionar para se dedicar ao filho e à campanha #juntospelocaio, inclusive com uma página no Facebook, compartilhada milhares de vezes.
No dia 21 de dezembro de 2015 chegou a notícia mais esperada: foi encontrado um doador com medula óssea 100% compatível com a do menino. A família viveu a partir de então um misto de alegria e ansiedade.A negociação com o plano de saúde foi difícil, desgastante e arrastada, mas deu certo.
– Quando fiquei sabendo da existência desse possível doador, um jovem norte-americano de 21 anos, encontrado no registro internacional dos doadores de medula óssea, chorei muito. Era uma chance em 100 mil – conta Márcia.
A localização do doador, porém, ainda tinha outras etapas a serem cumpridas antes de se comemorar plenamente a notícia. Primeiro, era preciso saber se o possível candidato estava vivo. Segundo, se permanecia decidido a fazer a doação. Somente 20 dias depois veio a confirmação, no dia 11 de janeiro deste ano.
O transplante foi realizado nos dias 2 e 3 de março, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. Geralmente este tipo de operação é realizado em um único dia, mas neste caso se optou por dividir o procedimento em duas etapas. A equipe foi coordenada pelo hematologista pediátrico do serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO) da instituição, Lisandro Lima Ribeiro.
Ele explica que por causa da DGC, Caio corria riscos de contrair infecções graves que poderiam trazer complicações e inclusive risco de morte. O tratamento ideal, segundo o especialista, era mesmo o transplante, que daria um novo sistema imunológico ao menino.
Antes de passar pelo transplante Caio precisou fazer quimioterapia para zerar a imunidade e só então receber a nova medula. Depois disso, seriam mais 100 dias de hospitalização até poder voltar para casa, que precisou ser adaptada para receber o menino, que ainda está com a imunidade baixa e precisa de cuidados especiais para reduzir riscos de infecções.
O pior já passou, mas a adaptação do organismo pode levar de seis meses a um ano e exige muito cuidado. No dia 26 de abril Márcia contou nas redes sociais (o Caio tem uma legião de fãs pelo Brasil) que os resultados dos últimos exames foram normais, ou seja, o Caio é um ex-DGC. "Hoje é dia de comemorar", escreveu.