Ao decidirem vender planos limitados de banda larga – com o aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que proclamou "o fim da era da internet ilimitada" –, operadoras de telefonia causaram alvoroço nas redes sociais e colocaram de lados opostos especialistas do setor de telecomunicações. Há divergência sobre a necessidade de as empresas adotarem modelo de franquias como condição para melhorar e expandir a rede. Para alguns, a regra já vem tarde. Outros dizem que é uma forma fácil de as empresas lucrarem.
João Paulo Bruder, coordenador de pesquisas de telecom da consultoria IDC Brasil, está no primeiro grupo. Para ele, o acesso limitado poderá melhorar o planejamento das operadoras quanto a onde investir em rede e cabeamento, não desperdiçando recursos que poderiam bancar a ampliação da cobertura.
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– Hoje, a operadora vende uma quantidade ilimitada de dados, mas não tem como saber de quanto o usuário efetivamente precisará. Com isso, às vezes gasta muito para manter uma rede pouco utilizada, ou deixa sobrecarregar outras – afirma.
Bruder explica que as empresas não gastam para gerar a capacidade de dados (o que as diferencia de fornecedoras de luz ou água, por exemplo, que trabalham com um recurso limitado), mas gastam ao transmitir esses dados. Portanto, usuários que utilizam muito a internet, assistindo vídeos em HD ou jogando online, por exemplo, custam mais às operadoras.
– As empresas acabam cobrando o mesmo preço para todos usuários, tanto para a senhorinha que só usa a internet para curtir as fotos dos netos no facebook, quanto para o cara que passa o dia em streaming ou jogando. O modelo atual não é o mais justo.
Professor da faculdade da Informática da PUCRS, Avelino Zorzo tem visão diferente: mesmo que as operadoras saibam o tamanho exato e a localização da demanda, não reverterão, necessariamente, essa informação em velocidade, qualidade do sinal ou ampliação da cobertura.
– As operadoras passaram a vender cada vez mais banda larga sem ampliar a infraestrutura, mesmo que elas saibam que a demanda aumentou – afirma Zorzo – O que muitas empresas pretendem é manter a mesma rede e limitar o tráfego de dados para cobrar por acesso adicional. Não há garantia que a qualidade vai melhorar.
Na análise de Zorzo, a decisão de limitar a banda larga é uma reação ao Marco Civil da Internet, que determinou que as empresas tenham de entregar pelo menos 20% da velocidade contratada (em vez de 10%) e as proibiu de restringir algum tipo de conteúdo – a chamada neutralidade da rede –, como vídeos ou download de músicas:
– As operadoras não podem controlar o tráfego, então querem controlar o volume de dados.
O especialista afirma que países que estão em melhor caminho para democratizar a internet, como Estados Unidos e Inglaterra, mantêm a venda de banda larga ilimitada, a mais popular nas residências ou em cafés e lojas que disponibilizam wi-fi gratuito para clientes. A internet por franquia é pontual, para quem fica pouco em casa e precisa utilizar a internet esporadicamente, pagando menos.
Zorzo e Bruder concordam em uma coisa: a Anatel precisará ser ativa para impedir abuso das operadoras. Bruder diz que a agência reguladora terá de impedir um modelo de cobrança que gere mais dinheiro para as operadoras mas entregue uma quantidade menor de dados. Ele afirma que seria importante o órgão regulador avaliar qual a geração total de dados no país, observar a distribuição e a rentabilidade, e então criar regras claras para os novos pacotes.