A dona de casa Eleci Garcia da Silva, 79 anos, foi apresentada à internet pela tela de um smartphone. Há um ano, ela ganhou o aparelho do filho. Até então, ela nunca havia tido contato com nada parecido, já que não possuía computador em casa, tampouco sinal de rede. Com o novo celular e compartilhando o wi-fi da vizinha, ela rapidamente aprendeu a conversar pelo WhatsApp, postar no Facebook e procurar músicas no YouTube. Agora, não descola mais do celular.
– Passei a usar o celular pra tudo: conversar, ver a previsão do tempo, saber como vão familiares e conhecidos. Antes, com meu celularzinho velho, só telefonava – conta.
Eleci até ganhou um notebook no mês passado, mas a esteira de botões e o tal mouse pareceram muito complicados. Resultado: mesmo em casa, ela passa longe do laptop e navega na internet com o celular na palma da mão.
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Casos como o da dona Eleci ajudam a ilustrar o contexto retratado pelo Suplemento de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem. Em 2014, pela primeira vez, os telefones celulares ultrapassaram os microcomputadores dentre as formas mais utilizadas para acessar a internet dentro de casa.
De acordo com o estudo, 80,4% das residências com conexão usam o smartphone para acessar sites e redes sociais, enquanto o microcomputador está presente em 76,6% dos domicílios.
– É resultado da mudança de comportamento da população, que se acostuma a acessar a internet pelo smartphone na rua e leva o hábito para casa – explica Ivair Rodrigues, diretor da IT Data Consultoria, especializada em tecnologia e conectividade – Com o avanço das funcionalidades dos smartphones, os computadores ficaram em segundo plano, sendo usados mais para trabalho.Ele destaca ainda que este movimento provavelmente se acentuou no ano passado e continuará crescendo em 2016, considerando a fartura na venda de smartphones e a freada nas encomendas por computadores no Brasil.
O Rio Grande do Sul, em sintonia com os outros Estados do Sul, ainda tem proporção inversa: a preferência para surfar na web continua sendo via microcomputadores, com 79,8%, enquanto os celulares são usados em 73,1% dos lares.– O uso dos celulares para acessar a internet é mais forte nas regiões Norte e Nordeste, possivelmente porque a estrutura de banda larga e cabeamento ainda é menos desenvolvida, não deixando tantas opções aos celulares – avalia Helena Monteiro, técnica do IBGE responsável pelo estudo.
Colaborou Julia Burg