Cabelos brancos, cadeira de balanço, bengala e quietude. Essa é a imagem que muitos têm quando se fala em idosos. Porém, a terceira idade, que segundo o Estatuto do Idoso passa a ser considerada quando homens ou mulheres atingem os 60 anos, vem mostrando que tem tudo para desconstruir esses estereótipos. Junto disso, vê-se o aumento do número de idosos no Brasil a cada ano.
O censo de 2010 apontou que, só em Santa Maria, são 35.931 pessoas com mais de 60 anos, o que representa 13,76% da população.
E, se por um lado são muitas as opções para usufruir de uma velhice tranquila, por outro, ainda faltam compreensão e informação acerca de doenças mais recorrentes nesta fase da vida. Entre elas, o típico isolamento seguido de depressão, distúrbios do sono e até a gerontofobia (leia mais abaixo).
Segundo Carmen Maria Andrade, fundadora e coordenadora do Núcleo Palotino de Estudos do Envelhecimento Humano, muitas pessoas já crescem com uma imagem preconcebida da velhice:
- Desde pequenos, através da convivência na família, na escola, incorporamos a velhice como algo sem valor, desagradável, descartável. Aprendemos a associar o velho com a finitude e a morte. Temos medo de envelhecer porque pensamos que não teremos mais espaços sociais de reconhecimento e de sobrevivência.
O médico geriatra Antônio Abelin Filho atende cerca de 150 idosos todos os meses. Ele aponta a hipertensão, diabetes, osteoporose e a depressão como as doenças mais recorrentes da terceira idade. Para o especialista, dois fatores são fundamentais para um envelhecer saudável.
- Uma coisa é a prevenção. Recomenda-se que, a partir dos 35 anos, já se iniciem exames periódicos. Outro ponto é o equilíbrio entre o corpo e a mente. Não se pode ficar parado. Cada vez mais focamos na rotina dos idosos, estimulando que eles frequentem grupos, clubes, façam trabalhos voluntários. Nas consultas, é notável a necessidade que eles têm de conversar e ganhar atenção - relata o médico.
Conselho Municipal do Idoso
Em Santa Maria, a Lei Municipal 3914/1995 criou o Fundo Municipal do Idoso e o Conselho Municipal do Idoso (Comid). A cidade também conta com 14 casas geriátricas, três casas asilares no sistema filantrópico, 17 instituições que participam do conselho e cerca de 40 grupos de terceira idade. Idosos podem procurar o Comid para cadastros, participação de projetos sociais e queixas em geral. A entidade fica na Rua Francisco Mariano da Rocha, 133. O telefone é (55) 3921-7267.
GERONTOFOBIA
A gerontofobia refere-se ao medo de envelhecer, ao medo do idoso e ao medo da velhice. Conforme Carmen Andrade, talvez seja essa a condição maior que determina a sociedade na exclusão dos velhos, já que, para muitas pessoas, o processo de envelhecimento pode representar uma "ameaça".
Ela ainda enfatiza que esse medo do futuro pode ser associado à insegurança relativa à possível falta de assistências familiar e social.
Políticas públicas, com serviços de qualidade voltados às pessoas idosas, podem ajudar a evitar esses sentimentos. No entanto, a cultura de que, desde a infância, todas as fases da vida precisam ser respeitadas, acredita a especialista, é a estratégia mais segura contra o medo de envelhecer.
UM AMANTE DA VIDA
Três casamentos, 8 filhos, 17 netos e 7 bisnetos. O ferroviário aposentado Pedro Borges, 88 anos, reinventou-se e refuta a ideia de que velhice é sinônimo de monotonia. Porém, há cerca de cinco anos, quando ficou viúvo da segunda mulher, o pensamento não era exatamente esse. A tristeza, o temor da velhice e até a fragilidade da saúde mudaram sua rotina após a perda. O aposentado precisou da ajuda de amigos para seguir em frente:
- Perdi minha velha e me bateu o desespero. Minha pressão, que sempre foi boa, chegou a 19. Não sabia o que fazer. Até que me aconselharem a frequentar o grupo de idosos Mexe Coração. Um dia, uma da mulheres perguntou se eu estava gostando do grupo, e eu disse: gostei do grupo e de ti, e estou procurando uma namorada. Daí, ela respondeu: então, sou candidata. Aconteceu que, em três meses, eu estava casado de papel passado com a mulher mais nova do Mexe Coração, que tem 30 anos a menos do que eu.
A mulher em questão é a dona de casa Izabeth Pedron, 56 anos. À época, ela estava recém-divorciada e, mesmo não sendo idosa, procurou o grupo para se entreter. Atualmente, eles vivem em uma casa no bairro KM3, em Santa Maria, na companhia de três inseparáveis cães: o Preto, a Jolie e a Tititi.
Disposição e vitalidade
Enquanto ela cuida da casa e é mais reservada, seu Pedro esbanja vitalidade. Izabeth conta, com bom humor, que, em casa, ele pouco fica. Todos os dias, vai até a Praça Saldanha Marinho encontrar amigos e "olhar as moças bonitas".
O marido também está sempre antenado e sabe cada novo estabelecimento que abre na região, já que outro de seus hobbies é sentar nos abrigos de ônibus, acompanhar as obras de duplicação da BR-158 e abanar aos conhecidos que cruzam de carro.
- Ele parece ser bem mais novo do que eu. Está sempre disposto. Viajamos, vamos aos bailinhos do grupo. Ele é o mais dançador e o mais disputado. Eu não me importo, empresto ele para dançar com a mulherada. Nesta altura da vida, só temos é que ser felizes, né? - conclui a dona de casa.
Dicas para um envelhecer saudável e mais feliz
- Mantenha a prática de atividades físicas. Mesmo com o avanço da idade, o corpo precisa estar em movimento.
- Cuide dos hábitos alimentares, incluindo, na dieta, fibras, frutas, legumes, verduras, carnes magras, alimentos integrais e as gorduras boas (peixes, castanhas e óleos vegetais) e beba muita água.
- Mantenha a qualidade do sono. É nesse momento que ocorrem os processos metabólicos que tendem a equilibrar o organismo.
- Faça check-up anual, pois podem ser identificadas doenças em fase inicial, aumentando as chances de tratamento e cura.
- É fundamental não viver isolado. Opte pelo convívio social. Sendo assim, visite os amigos, fique em contato com aqueles que ama, conheça novos lugares, viaje, adote novos hobbies como pintura, leitura ou dança.
- Tenha sempre projetos de futuro. Isso contribui para uma velhice tranquila.