No ano em que Porto Alegre e Região Metropolitana amargaram uma elevação sem precedentes do desemprego, a faixa etária entre 50 e 59 anos foi a que obteve o maior aumento no percentual de pessoas fora do mercado de trabalho, segundo o levantamento da Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Em relação ao total de pessoas ativas que podem integrar o mercado de trabalho, a taxa de cinquentões desempregados subiu de 2,4% em 2014 para 4,5% em 2015. Um aumento de 87,5%, o maior da série histórica do levantamento, realizado desde 1993. Bem mais alto do que o próprio aumento da taxa de desemprego somando todas as faixas etárias, que foi de 47% - passando de 5,9% para 8,7%.
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Em todo Estado, são 206.158 trabalhadores com mais de 50 anos estão com o cadastro ativo no sistema Mais Emprego, da FGTAS, em busca de uma vaga. O pedreiro Gilberto Pereira da Silva, 57 anos, sabe o quanto é difícil fazer parte desta estatística. Morador de Viamão, está batalhando há um ano por uma vaga com carteira assinada. Na madrugada de segunda-feira passada, chegou às 3h30min na fila do Sine da José Montaury, no Centro de Porto Alegre, e foi surpreendido por uma fila de quase 30 pessoas. Quando o Sine abriu, às 8h, a fila já chegava próxima à Rua dos Andradas.
- Cheguei e me assustei. Está muito ruim para quem quer assinar carteira - conta ele, que vive de pequenos bicos na construção civil, mas desde dezembro não consegue nem este quebra-galho.
Com tanto tempo fora do mercado formal, ele oferece serviços até pelas redes sociais. Diz que que faz do alicerce ao telhado, além de soldar e pintar.
A coordenadora do MBA de Gestão em Recursos Humanos da Unisinos, Elenise Martins da Rocha, reconhece que sempre houve um preconceito com pessoas mais velhas que buscam emprego. No mercado, não há vagas específicas voltadas para esta faixa etária, o que faz com que os candidatos com mais de 50 anos disputem o mesmo espaço com os das demais faixas etárias.
Para ser valorizado, ela defende que o candidato procure evidenciar o que tem de melhor, que é a experiência, e que esteja disposto a voltar a aprender.
- Ele precisa transmitir essa experiência e o valor que ela pode ter para a empresa. Isso é o ponto principal - avalia Elenise.
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É a experiência a grande fonte de otimismo de Ivone Silveira Rodrigues, 53 anos. No mercado de trabalho desde os 16 anos, vive seus primeiros dias sem um emprego. Demitida há duas semanas, já tem um cronograma de locais da Capital que pretende visitar para deixar currículo.
- Estou confiante, mesmo assim. Não vou desistir fácil - garante Ivone.
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As vantagens da idade
Entre as vantagens de contratar profissionais mais experientes, aponta o gerente de Recursos Humanos das Lojas Tumelero, Augusto Amaral, está a possibilidade de ter profissionais que já viveram mais o mercado e não anseiam resultados imediatos. Eles têm a consciência de que existe um tempo para aprender e dominar os processos da empresa para então buscar alguma promoção.
- Esta é uma diferença que ele tem do profissional mais jovem, que entra e, em seis meses, quer virar chefe de setor - explica.
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Desde a metade do ano passado, Augusto tem percebido o maior procura desta faixa etária por trabalho. O que, para ele, também tem vantagens:
- Muitos têm um bom domínio e sabem trabalhar melhor com o cliente, principalmente em uma negociação que demanda mais tempo. Neste momento, a paciência e a experiência contam mais.
Para a diretora Capital Humano do Walmart Brasil, Lorena Terrei, qualquer profissional pode ser realocado no mercado de trabalho se tiver as características que os empregadores julgam como essenciais, como comprometimento, transparência e interesse em aprender.
- Idade não pode ser um elemento que pode fazer a pessoa ter ou não o emprego -considera.
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Gilberto chegou às 3h30 na fila do Sine da Montaury e foi atendido ao meio dia
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS