Em meio a uma epidemia de casos de zika no Brasil, a Campanha da Fraternidade de 2016 propõe um debate sobre saneamento. Com o tema "Casa Comum, Nossa Responsabilidade", a iniciativa do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) pretende ajudar a conscientizar a população sobre a importância do saneamento para que as pessoas cobrem ações do poder público em relação ao tema.
Água potável, esgoto sanitário, limpeza urbana, drenagem de águas pluviais e o manejo correto de resíduos, no entendimento do Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, são pontos importantes para barrar a proliferação do Aedes aegypti, transmissor do zika, da dengue e da febre chikungunya. Mas o debate religioso sobre o combate ao problema deve se limitar às questões de saneamento. Medidas como a permissão do aborto de fetos com microcefalia em países onde há zika, como defende a Organização das Nações Unidas (ONU), seguem condenadas pela Igreja Católica.
– Nesse momento, querer colocar em debate a questão do aborto é não enfrentar a questão, que exige a discussão sobre outra realidade, da falta de saneamento. A Igreja jamais vai poder defender o aborto. Ela sempre vai defender a vida, desde a sua concepção até seu fim natural – disse Dom Jaime no lançamento da Campanha da Fraternidade em Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira.
No lançamento da campanha em nível nacional, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Sérgio da Rocha, também criticou o aborto em casos de microcefalia de bebês causada pelo vírus zika. A intensa circulação do vírus no país e a possível associação da infecção em gestantes com casos de microcefalia reacendeu o debate sobre o aborto no Brasil nas últimas semanas.
Durante todo o ano de 2016, a igreja deve formar parcerias com instituições e entidades da sociedade civil para fomentar o debate sobre saneamento. No Rio Grande do Sul, segundo a Igreja, a primeira ação será verificar se estão sendo cumpridos os planos municipais previstos na Lei de Saneamento Básico, de 2007. Para isso, foi fechada uma parceria com o Ministério Público Estadual (MPE), que deverá buscar informações e efetuar eventuais cobranças às prefeituras que não estiverem de acordo com o estipulado pela legislação.
Segundo o Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, também serão disponibilizados materiais didáticos às escolas que quiserem trabalhar o tema da campanha com seus alunos:
– Precisamos trazer a questão à tona. O que não é falado, não é debatido. E o que não é debatido, não traz decisões objetivas – concluiu.
As entidades religiosas também devem se envolver na mobilização nacional contra o mosquito, defendida pela presidente Dilma Rousseff. Representantes do Conic se reuniram com a presidente no Palácio do Planalto nesta quarta-feira.
Em mensagem encaminhada à campanha no Brasil, o papa Francisco defendeu o envolvimento de "governantes e toda a sociedade". "Todos nós temos responsabilidades com nossa casa comum", diz o texto. O lema da campanha deste ano é "Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca".