Em dezembro de 2015 completa-se 15 anos da definição da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (OBM), criados por diversos governos em acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Então inicia-se uma nova etapa na busca pela melhora de índices sociais, ambientais e econômicos no mundo a partir de janeiro de 2016 com as metas definidas no documento de Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que transformou os oito tópicos iniciais de 2000 em 17 metas para serem contempladas até 2030.
Os 17 ODS estão fundamentados sobre cinco pilares chamados de Pessoas, Prosperidade, Paz, Planeta e Parcerias e envolvem todo a comunidade internacional na intenção de uma melhora na qualidade vida. No Brasil, Haroldo Machado Filho é co-Cordenador da Força Tarefa do Sistema ONU para o Desenvolvimento Sustentável e assessor sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Nesta sexta-feira, Machado estará em um painel do Social Good Brasil, para debater os temas dos ODS. Mas por telefone, antes de embarcar no avião que o trouxe para Florianópolis, Machado adiantou algumas perspectivas sobre o Brasil e alguns pontos mais importantes dessas metas. Confira entrevista.
Como foram definidos os ODS?
Machado - O ODS são um avanço em relação aos OBM. Aqueles oito objetivos iniciais do ano de 2000 tiveram relativo sucesso. Em alguns países foi maior do que outros. Agora houve uma intensificação desse diálogo com a comunidade internacional, que se iniciou na Rio + 20 em 2012. Abrimos um processo de consulta muito amplo para ouvir segmentos de todo o mundo. Sociedade civil, científica, setor privado, organizações não governamentais e a partir disso foram trabalhados os ODS. O maior número de objetivos mostra que eles são mais específicos, com maior ambição de metas e também reflete as próprias mudanças que aconteceram no mundo desde 2000.
Das bases, a busca por parcerias é a mais importante?
Machado - São as cinco grandes áreas de atuação. Mas a gente não tem um ou outro para destacar. O objetivo dessa agenda é que ela seja vista de forma integral. Evitamos destacar um deles, porque é preciso que ocorra sinergia entre todos eles para que eles sejam realizados. O crescimento inclusivo e sustentável é preciso contemplar todos os pilares, não podemos elencar que a Paz é mais importante que Planeta, ou que as Pessoas mais relevante que Prosperidade. É o conjunto que buscamos.
Mas estamos mobilizados para agir de forma conjunta?
Machado - A agenda dos ODS é um grande desafio para todos nós. Ela leva em conta a nossa forma de pensar e agir quando precisamos ser mais coletivos. Vamos levar o exemplo da água onde já mostramos avanços em relação a isso. No início as pessoas relacionam o problema aos entes públicos, depois começam a ter um percepção de de responsabilidade mais pessoal, como parte do consumo e da solução. Essas questão já estão mais transversais.
Isso ocorre sobre todos os assuntos?
Machado - As questões relacionadas ao mar, por exemplo. Alguma pessoas que estão no interior ainda não tem essa preocupação, embora seja uma questão que está interligada. As pessoas costumam buscar solução de questões mais ligadas aos problemas do dia-a-dia. Mas quando há uma percepção que os tópicos são efetivamente globais, como o clima, qualquer pessoas de qualquer lugar é impactado pela ação de todos, há uma consciência de responsabilidade coletiva.
Tu não achas que agimos apenas depois da necessidade?
Machado - Não acho que nos movemos apenas quando a situação ocorre conosco. Quando você percebe a realidade sim, mas não necessariamente é preciso vivenciá-la. Hoje a comunicação e acesso de informações é muito grande. Exemplo disso é a questão da grande migração de pessoas, poucos estão vivendo isso, mas com certeza entendem a importância disso para o mundo todo.
Como tu percebes o Brasil na busca por esses objetivos?
Machado - O Brasil está muito bem posicionado. É reconhecido que o Brasil conseguiu promover crescimento econômico com inclusão e social com respeito ao meio-ambiente. O Brasil ficou muito bem avaliado, principalmente no aspecto de redução da pobreza e da fome. A queda do desmatamento da Amazônia é significativa nos últimos anos. De forma geral o Brasil é visto como um lugar de onde podem vir boas ideias para o cumprimento do ODS.
Esse momento de crise política gera insegurança para seguir o desenvolvimento econômico sustentável?
Machado - Tem que se levar em conta que esses objetivos são avaliados por indicadores econômicos, sociais e ambientais. Esse acompanhamento apura números e no momento esses indicadores não mostram isso. O fechamento dos ODM é em dezembro de 2015 e a avaliação dessa estatística será apresenta bem depois.
Mas que pontos podemos já destacar?
Machado - A questão do crescimento econômico nos últimos anos é significativo durante o processo dos ODM. A inclusão social também houve melhoras e com o reconhecimento dos programas do governo. E a queda do desmatamento da Amazônia também é positiva.
Tu falastes alguns pontos positivos, mas quais são os negativos?
Machado - É mais complicado apontar. Aqui a gente trabalha com soluções, tem um foco um pouco otimista sobre as coisas para buscar as soluções de forma que elas sejam replicadas.
Está em discussão se haverá ou não redução do Bolsa Família, um dos programas de inclusão socioeconômica do Brasil. Tu achas que isso pode dificultar alguma perspectiva de objetivos no país?
Machado - Não observamos essas ações sobe essa perspectiva do debate. Para nós é certo que eles estão funcionando agora e que sim foram importantes para o alcance dos ODM. Mas também novos programas podem surgir e as soluções devem ser buscadas conjuntamente.
Sobre os investimentos em energia hidrelétrica, é um caminho certo para desenvolvimento sustentável?
Machado - Um dos ODS é sobre o desenvolvimento de energia. Uma meta é o acesso universal e no Brasil são poucos os pontos sem energia elétrica. Outra questão é aumentar o nível de produção de energias renováveis e a hidrelétrica é um exemplo disso, mas nesse ponto já estamos bastante a frente e buscamos manter essa matriz limpa. Mas é muito importante para o país é aumentar a eficiência energética. Isso é fazer da energia gerada o seu melhor e maior uso. Isso significa, por exemplo, trocar lâmpadas de maior consumo por lâmpadas de menor consumo.
De forma geral, o busca por esses objetivos mundiais passa essencialmente pelo uso de tecnologia?
Machado - A tecnologia é fundamental para todos os objetivos. Ainda temos que aprender a desenvolver determinados bens com um custo menor. Mas a tecnologia é um ponto em que o setor privado pode participar efetivamente, algo que já vem crescendo. Nós já temos muitos recursos e eles precisam ser melhor difundidos, mas o desenvolvimento deles tem que ser constante.