Chegar em casa após um dia de trabalho e ter alguém com o rabinho balançando esperando na porta é um privilégio de milhões de brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o quarto país no mundo com maior número de animais de estimação, somando 132 milhões. Foi pensando nesta afinidade entre homens e seus amigos peludos que o vereador de Curitiba João Galdino de Souza (PSDB) criou um projeto que prevê um dia de luto para quem perder o bichinho.
- É como se fosse um filho da gente. Um ente querido. Quem ama verdadeiramente o animal entende - comenta Galdino.
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O texto propõe que servidores públicos que possuem cães e gatos possam optar por se ausentar ou não do trabalho um dia após a morte do animal. Para isso, os bichos precisam estar cadastrados na Rede de Proteção Animal do município e possuir um microchip de identificação. Segundo Galdino, a falta ao trabalho serviria tanto para encaminhar o enterro ou cremação, quanto para a recuperação do funcionário:
- Muitas pessoas vão trabalhar normalmente porque não podem faltar e ficam só chorando. Quem ama o animal não vai faltar por faltar.
Para psicóloga Ana Luisa Accorsi, especialista em intervenções assistidas por animais, a ideia de Galdino é uma saída para que os funcionários elaborem melhor o luto. Segundo ela, os vínculos entre humanos e animais, são estreitos porque os bichos oferecem amizade, amor e segurança sem julgamentos:
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- Deve-se perceber que é perfeitamente natural a necessidade de conforto. A morte é um acontecimento que está para além do controle e o sentimento de profunda tristeza é normal, compreensível e comum. O sentimento da perda deve ser transformado, extravasado de forma sadia e não somatizado (se tranform em um problema físico)
A relação entre os animais e seus donos é muito benéfica aos homens, garante Ana Luisa. Por esta razão, a perda é muito dolorosa.
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Ela sugere que pessoas que passem pela perda recebam apoio no ambiente de trabalho e possam ser ouvidas por um profissional, apoiando a proposta de Galdino:
- Não é exagerado, caso se identifique isso como necessário. No entanto, deve-se lembrar que cada pessoa passa por este momento de forma diferente. Talvez para alguns o fato de sair de casa e poder ir para o trabalho, pode até contribuir para reequilibrio emocional.
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O dia de luto tem como objetivo dar espaço para os funcionários passarem pela dor sem sofrer julgamento.
- Ninguém é obrigado a amar os animais, mas devemos respeitar os sentimentos alheios, desacreditando na supremacia do humano em relação aos demais seres vivos - reforça Ana Luisa
O texto tramita na Câmara de Curitiba desde o dia 29 de setembro e seguirá para as comissões competentes para ser votado. Se aprovado, ele alteraria o Estatuto dos Funcionários Públicos Municipais de Curitiba, que prevê falta facultativa de oito dias em caso de falecimento de cônjuges, pais, filhos, avós, netos e irmãos.
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Conhecido por militar pela causa animal, o vereador foi autor de um projeto para por fim no uso de cavalos em veículos de tração e outro para a criação de um hospital público veterinário no município.