Julia Tolezano, a Jout Jout, começou a gravar há pouco mais de um ano. Desde o seu mais famoso vídeo sobre relacionamentos abusivos, a carioca de 24 anos se tornou preferida de um público, que até pouco tempo achava que o Youtube não era espaço para um papo mais politizado. Ela fala sobre cocô também, mas tudo com uma orginalidade ímpar e um forte sotaque carioca. Para a entrevista a ZH, Jout Jout trocou mensagens por WhatsApp para combinar o horário da conversa. Falou sobre a vida enquanto buscava uma compra para mãe em Ipanema, uma das poucas coisas que faz ela sair de casa, como ela diz.
Fazer vídeos era um plano ou um sonho antigo?
Eu tentei trabalhar em vários lugares e não conseguia ficar bem dentro de um escritório, sabe? Não ver o sol e os passarinhos. Eu me sinto mal com essa coisa de ter horário para chegar, se chegar um pouquinho atrasado as pessoas te olham esquisito e na hora de embora tem que ser a última a sair para mostrar que você trabalhou. Quando eu desisti de tudo isso, não tinha filhos para criar nem nada do tipo, então eu podia.
Existe aquela coisa: "ah, larga tudo para fazer o que você ama". Eu sei que, às vezes, não se pode largar tudo. Mas eu podia, meus pais tinham como me sustentar naquele momento, eu tinha uma câmera e tempo. A minha vida é muito louca, se um dia todo mundo decidir que odeia a Jout Jout, eu não sei o que fazer. Eu não tenho um currículo de escritório e tem vídeo meu na internet falando de "xereca"...
Quem são os youtubers brasileiros vistos por milhões
Você vem fazendo vídeos que tem rodado muito por quem luta pela igualdade e gêneros. Como você vê essa questão do feminismo na internet?
Na minha vida toda nunca teve essa discussão de feminismo, nem na escola, o que eu acho absurdo. Um dia, eu fiz um monte de vídeos e começaram a apontar isso para mim: "tipo querida, você é feminista". E isso quem diz é a família Jout Jout. Quando eu comecei a ser exposta ao feminismo, pensei: "caraca, é isso mesmo". E mesmo quem é conservador não deixa de gostar dos vídeos. Tem religiosos, conservadoras e mães. Adoro as mães! Sempre vêm falar comigo na rua.
Você fala sobre muita coisa, muitos assuntos mais politizados. Há uma cobrança para você se posicionar sobre alguns assuntos?
Às vezes, exigem muito isso de mim. As pessoas falam: "porra, fala o que você acha sobre o aborto!" ou "fala o que você acha da política". E tem coisas que eu não sei o que acho. Por exemplo: política. Eu não posso falar de política, e eu vou falar um monte de merda se eu falar de política. Sou alienada sobre política, realmente não entendo nada, acompanho de longe. Mas quando eu tenho uma opinião muito formada sobre um assunto ou sei exatamente o que eu quero falar, eu falo. Às vezes, é sobre assédio sexual. Às vezes é uma coisa mais leve. Eu falo de um jeito leve, e é o jeito que eu entendo as coisas. Tem algumas pessoas que são muito mais ativistas do que eu e falam que não é tão simples assim, e eu entendo. Acabo ficando politizada sem querer, e as pessoas que são mega politizadas ficam cobrando uma posição mais forte de mim, mas não é minha proposta. Não sou politizada na vida.
Você tem algum medo da exposição?
Eu já fiz vídeo pelada! Meu maior medo é ferir alguém ou fazer discurso de ódio. Fico muito alerta. Às vezes, a gente fala alguma coisa que acha que é "supertranquila" e tem alguém que fica machucado. Não estou preocupada em me expor se eu estou confortável sobre o que estou falando.
Sente uma pressão para se arrumar ou mudar sua aparência já que você se tornou conhecida?
Claramente, pelos meus vídeos, não. Essa é a beleza do Youtube, você não tem que se preocupar com absolutamente nada a não ser que você queira. Se eu tivesse que parar na frente do espelho, passar um reboco na cara inteira, não ia ter vídeo, eu não ia ter essa paciência.
Quais os seus Youtubers favoritos?
Eu assisto mais Youtubers lá de fora, mas aqui no Brasil eu sou amiga e admiradora intensa do Canal das Bee. Eu adoro o Cauê Moura, mas nunca falei com ele na minha vida. Lá fora, gosto de Jenna Marbles, Hannah Hart e Laci Green.
O que você acha do termo Youtuber?
Eu amo esse termo! Sempre que eu vou preencher qualquer coisinha de médico, eu coloco Youtuber, nunca coloco jornalista. Acho um máximo.
Como é o seu processo de escolha de propagandas?
Isso às vezes as pessoas estranham porque me perguntam: "você não quer fazer um comercial para Coca-Cola?" Não, eu não bebo Coca-Cola. Aí a pessoa fala: "você não quer ser famosa?" E eu aí fico: "não, não é essa a intenção do canal". Não fiz para ser famosa. A repercussão que deu foi uma consequência feliz. Eu presto muita atenção nisso, nos merchans que eu vou fazer, com quem eu vou me relacionar. Se eu tivesse nessa só para aparecer em todos lugares, eu poderia estar em São Paulo. A intenção é fazer conteúdo que inspire as pessoas e que faça eu receber os e-mails que eu recebo.