A internet se tornou aliada de quem quer desafogar o guarda-roupas ou o sótão e faturar uma graninha extra. A popularização de sites de compra e venda de usados tem aproximado quem quer se desfazer de um acessório de quem quer pagar menos na compra - sem burocracia e muitas vezes nem custo adicional.
- Em razão do momento econômico, muita gente passou a procurar a internet para vender produtos com uso, mas em ótimo estado. Para quem compra é vantajoso, pois o valor dos usados pode ser de 40% a 70% mais baixo que um novo - afirma Adriana Maia, gerente de marketing da OLX, portal que registra 37 mil vendas por dia.
Conforme um estudo do Ibope encomendado pela empresa, cada brasileiro tem R$ 1,8 mil, em média, em acessórios que não utiliza. É um mercado farto: dos brasileiros com acesso à internet, 43% fazem compras online, conforme uma pesquisa da agência de inteligência de mercado Mintel.
A oferta de plataformas que possibilitam negócios é abundante, embora o funcionamento varie. Na OLX, por exemplo, compradores contatam diretamente os vendedores e combinam a forma de entrega. No Enjoei, há uma cobrança de 20% sobre o valor do negócio. Já no Mercado Livre, a forma mais comum é efetuar o pagamento por uma ferramenta própria do site, e a entrega é feita pelos Correios. Grupos no Facebook têm surgido para que usuários troquem ideias e propostas por mercadorias.
A oferta de produtos é ampla. CDs antigos, roupas, calçados, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, produtos para bebê, enfeites para casa e até carros estão à disposição de boas propostas. Para quem procura, vira uma tentação e, por isso, especialistas em segurança na web reforçam alguns cuidados.
- Nunca clique em links ou baixe arquivos de e-mails desconhecidos. Os internautas também devem comprar em sites confiáveis e pesquisar sobre a página em endereços eletrônicos como Google, Reclame Aqui, E-bit e Procon - diz o especialista em e-commerce e CEO da Rebellion Digital, Fernando Mansano.
Segundo o consultor, é importante verificar se a empresa realmente existe e o que dizem dela. Na dúvida, o melhor é não comprar. Sobre a forma de pagamento, é preferível usar opções que assegurem a compra ou devolvam o dinheiro se o produto não for entregue no prazo, alerta Mansano.
Para quem vende, as sugestões miram a exposição do produto. A primeira dica é fazer uma pesquisa prévia sobre o preço dos usados na web e colocar a oferta no mesmo valor ou 10% mais barata - depende da pressa que se tem em fechar acordo e as condições do produto.
Sites que aproximam negociantes geralmente oferecem opções para dar mais visibilidade ao anúncio - é uma saída paga, mas que pode ser levada em conta. Especialistas também batem na tecla da imagem. É importante lançar uma foto clara, com fundo neutro, para destacar o item, e evite copiar imagens da internet, pois pode trazer uma frustração a quem comprar.
Até casco de cerveja vira negócio
Para Isadora Diehl, comprar um produto na loja, usá-lo e vendê-lo na internet faz parte de um ciclo. Anunciar um item em site de negócios se torna uma forma de reembolso de algo que a designer de 25 anos comprou e aproveitou.
- O melhor de tudo é poder anular seus gastos. Eu não ganho dinheiro com isso, só deixo de gastar e limpo um pouco a consciência para fazer todo o processo de compra de novo - explica.
Sua experiência com negócios na internet vem desde os tempos em que frequentava blogs de brechó, quando tinha 15 anos. Isadora já vendeu entre 10 e 15 produtos usados, na maioria, peças de roupas. Em sua loja virtual no site Enjoei, a designer anunciou itens variados como brincos, sapatos, bolsas, garrafa vazia de cerveja, um notebook e até um calção de boxe - comprado para começar a praticar o esporte, o que não ocorreu.
- Diversas coisas que eu não imaginava que se vendia eu consigo vender, como casco de cerveja artesanal. Sempre tem alguém que se interessa - ressalta a designer.
Há vezes em que Isadora compra um produto e já o coloca em anúncio para venda, mesmo que ainda esteja o utilizando.
- Nesses casos, eu coloco que é usado, mas é praticamente novo.
A última bolsa que vendi, que eu gostava bastante, comprei ela por 50% de seu valor em uma promoção. Mas pensei que se quisessem me comprar, eu venderia. Coloquei o anúncio no site com 75% do valor original e consegui vender.
Segundo Isadora, um preço adequado com uma boa imagem do item no site ajudam a atrair o comprador.
- Tem muita gente que anuncia com imagens muito feias. As fotos têm de ser bem tiradas, bonitinhas - aconselha.
Isadora não ganha dinheiro com venda de usados, mas anula gastos.
FOTO: Andréa Graiz
Bike garantiu três meses de aluguel
Há cerca de um ano e meio, Pedro Appel percebeu que em seu armário estavam sobrando roupas que já não o agradavam. Essa constatação ocorreu na mesma época em que o estudante de Relações Públicas da UFRGS estava saindo da casa da mãe para dividir um apartamento com os amigos. Assim, ele resolveu vender na internet o que não precisava mais.
- Meu primeiro aluguel foi pago todo com dinheiro de roupas vendidas online - conta o músico de 23 anos.
Em suas transações, Pedro comercializou desde camisetas básicas até casacos e tênis mais caros. Para as suas vendas, utiliza o site Enjoei e grupos segmentados em redes sociais. Depois das roupas, seu mais recente objetivo era vender uma bicicleta, que ele comprou por meio de um anúncio no Facebook. Fechou negócio na semana passada.
- Comprei a bicicleta para substituir a minha, mas não consegui me acostumar com o tamanho. Se tiver sucesso, ela vai me garantir três meses de aluguel, uma folguinha bem interessante para qualquer um - relata o músico, que conseguiu acertar a venda da bike em uma ligação que recebeu durante a entrevista.
Apesar de costumar vender seus produtos usados na internet, Pedro também vai às compras. Em uma dessas negociações, algo não saiu como o planejado.
- Uma vez vi um tênis anunciado muito abaixo do valor em um grupo do Facebook. Quando fui me encontrar com o vendedor, vi que o produto era falsificado. Falei que não iria comprar, e ele ficou bravo. Tomei o cuidado de marcar o encontro em um lugar movimentado, pois precaução nunca é demais. Então o cara só foi embora irritado mesmo - relata.
Veja todas as já publicadas no calendário abaixo:
Pedro vende itens, mas também vai às compras, sempre precavido.
FOTO: Andréa Graiz
SITES DE USADOS MAIS CONHECIDOS
Foco em produtos de segunda mão. No site, é possível vender e comprar itens que o usuário "enjoou". O portal fica com 20% de comissão.
Classificados online que permite anunciar produtos e serviços, sem comissões. Negócios feitos diretamente entre os usuários por mensagem ou telefone.
Opera em 13 países. Possibilita que pessoas e empresas anunciem produtos e serviços. Em abril, o site extinguiu a comissão para produtos usados.
*Colaborou William Mansque
O repórter Erik Farina produzirá as matérias da série Encare a Crise.