Já aconteceu de você estar dirigindo com "os pensamentos lá longe" e, de repente, chegar em casa sem nem se lembrar do trajeto que fez com o carro? Pois trata-se de exemplo clássico de transe hipnótico. Diferentemente do que os enredos dos filmes de suspense sugerem, a hipnose é um processo natural e pode auxiliar no tratamento de doenças, enfermidades e até a dependência química.
Nos últimos anos, a hipnose passou a ser reconhecida como terapia auxiliar pelos conselhos de psicologia, medicina, odontologia e fisioterapia, e começou a ser praticada em hospitais e consultórios. O terapeuta Fabiano Amorim, hipnólogo habilitado pelo Instituto Brasileiro de Hipnologia e membro da Sociedade Ibero-Americana de Hipnose Condicionativa, explica como funciona o tratamento:
- A hipnose é um estado de atenção focalizada, em que a pessoa fica mais concentrada. Ela se desliga das percepções externas sem perder seu estado de vigília. Por meio de técnicas específicas, o hipnólogo faz com que alguns comandos fiquem gravados na mente do paciente, que servirão para que ele haja de forma diferente diante dos problemas que geraram o tratamento. Isso, com o passar do tempo, acaba se tornando um hábito, que, no tratamento, é sempre sugerido para algo saudável, como uma compensação ao cérebro - explica.
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No último ano, o terapeuta, que possui clínica em Florianópolis, tratou cerca de 15 casos de dependentes químicos. Ele acredita que 80% dos pacientes conseguiram se livrar das drogas.
- Tive um caso, por exemplo, de uma menina de 28 anos que começou a usar drogas com o namorado. Ela usava maconha, depois passou para cocaína. Quando terminou a faculdade e voltou para a casa dos pais, ela se deu conta de que estava dependente da droga e pediu ajuda para a mãe, que foi quem me procurou. Foi um tratamento muito simples, principalmente porque a menina queria acabar com o vício. Em apenas duas sessões, ela já havia parado de usar. Após cerca de seis meses, fizemos mais uma sessão que chamamos de "manutenção" e, mais de um ano depois disso, falei com ela e ela nunca mais havia utilizado droga alguma - conta.
Segundo o especialista, o tratamento utilizado dependerá do resultado de uma avaliação prévia do histórico do paciente.
- Existem inúmeras técnicas, eu trabalho com a Ericksoniana, e PNL que são muito voltadas para a sugestão. Funciona assim: por meio de algumas frases e comandos, você faz com que a pessoa haja de determinada forma diferente alterando seus hábitos. Trabalho também com a condicionativa, outra técnica em que você coloca a pessoa em repouso em um sofá ou um divã, então inicia um processo de relaxamento que vai faz com que a concentração dela vá para outro lugar vai pra outro lugar e ela não fica pensando no que você está falando. Assim, os comandos vão entrando na mente. Tenho obtido ótimos resultados com esse método.
Amorim ressalta ainda que a vontade do dependente em se curar é fundamental para o sucesso do tratamento. O ambiente em que a pessoa se encontra também é muito importante.
- Se ele (o dependente) fizer o tratamento e sair do ambiente que o leva ao uso de drogas, o resultado será ótimo. No entanto, se ele voltar para um círculo social com usuários de drogas ou tiver uma família com problemas, a possibilidade de ter recaídas é grande - afirma.
E, para quem tem medo de ficar hipnotizado para sempre ou revelar seus segredos durante uma sessão, o terapeuta garante:
- O hipnotizado sempre está consciente durante as sessões. Muitas vezes, ele sai lembrando de tudo aquilo que o hipnólogo falou. Como o estado dele é mais focado em uma determinada ação que a gente pede, essas frases têm efeito. Mas existe um estado de vigília que não vai deixar o paciente fazer alguma coisa que vá contra os seus princípios. A pessoa pode sair no momento em que ela quiser. O transe, mesmo que profundo, levará a um estado natural de sono fisiológico, que por sua vez será cessado quando ela assim o quiser ou chegue o momento natural de acordar.