Dos 769 novos pedidos de Financiamento Estudantil (Fies) que cinco das sete faculdades particulares de Santa Maria receberam neste ano _ uma não informou os dados e outra não teve verba liberada pelo governo federal para financiamentos _, 336 (43,7%) não conseguiram o benefício ou por problemas no site do Ministério da Educação (MEC) ou por não aprovação dos pedidos depois da inscrição.
Um grupo de estudantes do primeiro semestre do curso de Direito da Faculdade Palotina (Fapas) chegou a fazer a inscrição pelo site, mas não conseguiu efetivar o financiamento na fase seguinte, de aprovação. Eles vão entrar na Justiça para tentar garantir o acesso ao Fies no próximo semestre. É o caso dos colegas Felipe Lustosa, 27 anos, e Anderson Alfaro, 32. Eles precisavam de um crédito de cerca de R$ 6 mil no semestre, mas o sistema do MEC só liberou aproximadamente R$ 3,7 mil. Eles até tentaram reduzir o número de cadeiras, mas o sistema do MEC sempre baixava o valor a ser liberado, mantendo sempre em torno de 55% de desconto.
_ A parte que cabia ao aluno, que é a inscrição no sistema, conseguimos concluir. Tínhamos a certeza de 100% de aprovação. Mas o que o sistema liberava era 55%. Colegas que iriam fazer com esse desconto também não conseguiram _ relata Anderson.
Para Felipe, essa teria sido uma estratégia do governo que não teria verba para atender a todos os pedidos, o que, de fato, acabou se confirmando. Na segunda-feira, o ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, disse, em coletiva, que o MEC conseguiu "atender um a cada dois pedidos". Os R$ 2,5 bilhões destinados a novas vagas do Fies no semestre atenderão a 252,4 mil solicitações.
_ Essa seleção do MEC era roleta russa, aleatória. De toda minha turma, apenas um colega conseguiu _ lamenta Felipe.
O problema que deixou a estudante Aline Pavão, que cursa 7º semestre de Direito no Centro Universitário Franciscano (Unifra), sem financiamento foi outro. Ela passou manhãs, tardes e virou madrugadas tentando, mas não conseguiu sequer fazer a inscrição no site do MEC.
_ Quando tentava fazer a inscrição, aparecia no sistema: a instituição de ensino já esgotou o número de bolsas. Mas a Unifra nos disse que não tinha chegado nem na metade. O governo anunciou que, a partir de abril, com a entrada das novas regras, o sistema iria melhorar. Que nada, piorou _ conta Aline.
Para os estudantes, a solução é tentar negociar os valores referentes ao primeiro semestre com as faculdades. Algumas oferecem outro tipo de financiamento. Mas, há uma esperança para o futuro. Segundo Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe), a Federação dos Sindicatos do Ensino Privado está buscando junto à iniciativa privada oferecer um crédito educativo aos alunos, nos moldes do Fies, porém, com taxas de juros mais altas. Isso deve ocorrer antes do segundo semestre.
_ Se o governo não quer apostar na educação, as instituições de ensino particular querem. Vamos buscar parcerias em fundos de investimento para que possamos criar um financiamento estudantil. Já recebemos algumas propostas _ antecipa Eizerik.
Entenda a novela do Fies
- O Ministério da Educação (MEC) recebeu 500 mil pedidos para o Financiamento Estudantil (Fies). R$ 2,5 bilhões foram destinados a novas vagas, atendendo 252,4 mil estudantes que tiveram o pedido aprovado. O governo garantiu não ter dinheiro para outras vagas e deve recorrer da decisão da Justiça que determina reabertura das inscrições
- A prioridade no atendimento seriam para cursos com nota 5 na última avaliação do MEC
- Quem já tem o benefício, pode fazer a renovação até o dia 29 de maio. O MEC garantiu 100% para renovação, que envolve cerca de R$ 12,5 bilhões e 1,9 milhão de estudantes
- No começo do ano, o MEC bloqueou o crédito para instituições que aumentaram as mensalidades em mais de 4,5%, mas voltou atrás. Além disso, as dificuldades no site, tanto para inscrição ou renovação do benefício, frustraram estudantes que tiveram problemas para concluir o processo
- A segunda edição do benefício, na metade do ano, não está garantida. Ela dependerá da liberação de mais recursos do governo federal