Uma geringonça acoplada às costas de dois homens despertou a curiosidade de quem passou pelos cânions de Cambará do Sul na semana passada. Criada pela Google para mapear paisagens a serem incorporadas à ferramenta Street View, a engenhoca de 1m20cm, com uma esfera verde no topo, levará, em breve, visitantes virtuais às trilhas dos desfiladeiros do Parque Nacional Aparados da Serra.
Dois operadores da mochila batizada de Trekker, dotada de 15 câmeras que capturam imagens a cada 2,5 segundos, estiveram na região para registrar o visual formado pelos paredões de até 700 metros de altura. A visita é uma etapa da parceria firmada pela empresa americana com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para mapear 30 parques dentre as 320 unidades de conservação administradas pela entidade - a lista foi escolhida para contemplar os diferentes biomas do país. A Google não dá uma estimativa de quando as paisagens gaúchas devem ser disponibilizadas na rede.
O projeto já passou pelas cascatas de Foz do Iguaçu (PR), pela Floresta da Tijuca (RJ), pelas praias de Fernando de Noronha (PE), pela Chapada dos Guimarães (MT), pelo Parque Nacional do Superagui (PR) e pela Estação Ecológica de Guaraqueçaba (PR). Agora, chegou a vez dos cânions, único ponto gaúcho que integra o projeto.
- É mais uma etapa do nosso ambicioso plano de fazer um mapa virtual do mundo. Sou de Caxias do Sul e demorei muito tempo para conhecer Cambará. De repente, se a ferramenta já existisse, poderia ter visto e pensado: "esse lugar é incrível, preciso ir até lá" - conta o engenheiro do Street View para a América Latina, Tomás Nora, que coordena a operação.
Em vídeo, confira o trabalho para registrar as imagens para o Street View:
Pontos mapeados são acessíveis aos visitantes
Outra pretensão é fazer com que quem não possa viajar "vá" até o local por meio de uma tela. Por isso, o Trekker é operado por pessoas - e não robôs - e rastreia apenas pontos acessíveis aos visitantes. Nos Aparados da Serra, estarão disponíveis os passeios pelas trilhas do Cotovelo e do Vértice (no Itaimbezinho) e pela trilha da Pedra do Segredo e da Cachoeira do Trige Negro (no Fortaleza), mas ainda não há previsão para publicação das imagens na ferramenta.
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Da parceria firmada há dois anos, nasceu também o desejo de aliar a navegação online com a preservação ambiental dos parques. O ICMBio entra com o conhecimento, a Google, com a tecnologia.
- Acreditamos, assim como o instituto, que quem conhece cuida. Estamos sempre refletindo sobre o papel que a tecnologia pode desempenhar na conservação e no conhecimento, oferecendo uma experiência bacana e aumentando o grau de consciência sobre essas riquezas - diz a gerente de relações governamentais e políticas públicas da Google, Mariana Macário, responsável pela parceria.
Quatro caminhadas distribuídas em dois dias foram o suficiente para o mapeamento das trilhas do Itaimbezinho e do Fortaleza - trabalho feito entre o final da manhã e o início da tarde para driblar o nevoeiro comum à região no amanhecer.
Na terça-feira seguinte à coleta, ZH acompanhou a equipe já em fase de retoques - como refazer a imagem da entrada do parque onde havia um ônibus estacionado na primeira tentativa, por exemplo. Durante a operação "para valer" do equipamento, nem repórter, nem fotógrafo puderam se aproximar - caso contrário, apareceriam na paisagem. Mas a demonstração já mostra o funcionamento da engenhoca, toda ela desenvolvida pela Google.
- Cheguei até a entrada do parque pelo Google Maps. E agora encontro vocês aqui - divertiu-se o empresário paulista Denis Silva, 30 anos, ao deparar com o aparelho que despertou curiosidade.
Silva acabara de concluir a trilha do Cotovelo. Encantado com os cânions, prometeu uma nova visita in loco - porque a virtual, ele terá garantida daqui a algum tempo.