Destinar o que sobra na mesa de um para completar o que falta no prato do outro. Dessa equação simples e pioneira nasceu a fórmula que, desde esta quarta-feira, faz a diferença no jantar de 77 crianças em alfabetização na Capital. Instigados a criar um projeto de impacto social, cinco alunos da Escola Panamericana decidiram destinar o excedente de carne, arroz, feijão e salada para os estudantes de uma escola vizinha a sua - a Escola de Educação Infantil Boa Vista.
Com a ajuda dos pais, os alunos de 10 e 11 anos buscaram apoio e parcerias para fazer a ideia decolar. Reuniram-se por três meses, traçaram metas e foram atrás do objetivo. O incentivo dos pais e a rede de influências e bons contatos permitiu que rapidamente as portas se abrissem: o Banco de Alimentos e empresa de refeições corporativas Puras/Sodexo abraçaram a ideia. Na tarde de ontem, um Termo de Compromisso de Doação foi assinado para doar o excedente à vizinhança menos favorecida.
Escola de Porto Alegre elimina balas e refrigerantes do cardápio
Todos os dias, cerca de 40 refeições serão colocadas em uma caixa de 100 litros e percorrerão cerca de cinco quilômetros de uma escola para a outra. Para acondicionar a boia, um recipiente com isolamento térmico - o hotbox - foi adquirido. Uma nutricionista se encarrega de analisar a qualidade dos alimentos, antes e depois do transporte.
Coordenadora pedagógica da escola Boa Vista, Juliana Brito afirma que a doação vai ajudar a aumentar a saciedade das crianças, que ultimamente, comiam bolo, sanduíche e achocolatado na janta.
- A mudança ajudará a reforçar a aprendizagem - afirma Juliana.
Mantida com recursos do convênio com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, a escola atende filhos de moradores do Quilombo Silva e das vilas Caddie e Resvalo, além de filhos de domésticas, porteiros e zeladores dos prédios do entorno da instituição. Pai de Antônia, 11 anos, o advogado Rodrigo Fischer diz que a escolha do local partiu dos próprios estudantes.
- A gente fez questão que elas participassem em todas as pontas. É muito bom saber que estamos semeando uma ideia que pode se multiplicar pelo Brasil.
Porto Alegre está entre as capitais com maior índice de sobrepeso
Paulo Renê Bernhard, presidente da Rede de Bancos de Alimentos do Rio Grande do Sul, destaca que são produzidos por ano 4 bilhões de toneladas de comida no mundo, mas metade deste volume vai fora.
- O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos. Esse processo começa na lavoura, desde o plantio, passa pela colheita e armazenamento, depois transporte, industrialização e comercialização. Se boa parte das empresas pudesse destinar seus excedentes, essa realidade começaria a mudar - diz.