A troca de cartas é a marca da busca de famílias pela identidade. Em muitas linhas, o italiano Paolo Rossato convenceu a família a vir ao Brasil em 1885.
Assim que desembarcou em São Sebastião do Caí, em 22 de dezembro de 1883, Paolo, então com 29 anos, escreveu a primeira carta endereçada à família que ficou em Valdagno, na região do Vêneto. Acompanhado da mulher, Rachele Massignani Rossato, 22, tratou de avisar que, ao contrário do que muitos contavam, ele havia encontrado a terra da fartura. Relatou a ajuda do governo brasileiro, as muitas laranjas a serem colhidas e como a paisagem do novo lugar se parecia com a de casa.
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Em 1º de janeiro de 1884, Paolo e Rachele ocuparam a terra em São Marcos da Linha Feijó, na propriedade que pertence hoje ao sobrinho-neto Dirceu Rossato, 60. De lá, enviou outras 18 cartas e, em janeiro do ano seguinte, todos os parentes vieram para Caxias do Sul - "tutti senza denaio" (todos sem dinheiro), como avisaram em uma das correspondências antes de partir.
- Muita coisa se perdeu. Os mais velhos se vão e com eles a história. Essas histórias ficaram porque guardamos as cartas - explica Dirceu, neto de Marcelino, um dos três irmãos de Paolo.
As rodas de carreta de um visionário
Em uma Caxias distante dos principais centros, Paolo tinha noção de que o transporte seria um problema para quem decidisse vender algo para fora da colônia e encomendou ao pai, ainda na Itália, que trouxesse duas rodas de carreta. Foi alvo de sarcasmo dos outros imigrantes, por acreditarem que os Rossato estavam invertendo a lógica - construindo carretas antes de construir estradas.
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Paolo era um visionário. Com a chegada dos irmãos, a família foi a pioneira no comércio e indústria do vinho em Caxias. Em 1888, as rodas importadas levaram vinho a Porto Alegre pela primeira vez, inaugurando o comércio com a cidade. Dirceu mantém a atividade da família, vive em frente à casa de Paolo e guarda com orgulho as cartas do antepassado.