Sempre ouvi falar que toda a unanimidade é burra, mas ouço vozes correntes, (e já fui uma delas), de que é válido tentar de tudo para fazer o seu filho feliz. Outro dia, li um texto de uma mulher incomodada com essa preocupação excessiva dos pais com a felicidade perene de sua prole. Nesse momento, caiu a ficha. Estava seguindo a mesma corrente. Sobre qualquer tema, pensava, o importante é que sejam felizes. Ficava muito orgulhosa quando ouvia algo do tipo: "como seus filhos são crianças felizes". É impossível ser feliz o tempo todo, e se não houvesse tristeza ou frutração, arrisco afirmar que não daríamos valor aos momentos alegres.
Essa busca incesante dos pais em proporionar a tal felicidade a seus filhos, o tempo todo, a qualquer custo, no fim das contas pode resultar em uma frustração geral da família. Fazer o seu filho feliz não necessariamente significa proporcionar uma agenda lotada de atividades extraescolares, investir alto em um brinquedo da moda ou em uma viagem inesquecível. Percebo que, muitas vezes - e me coloco no rol dos pais iludidos - ficava mais empolgada com o presente do que a minha própria filha. Parcelava o tal brinquedo da moda em nem tão suaves prestações, e, em muitas vezes, quando entregava o objeto de desejo (meu, no caso), não percebia toda a empolgação imaginada.
"Com o passar do tempo, percebi que essa era uma reação natural dela e de boa parte dos pequenos que são presenteados com frequência"
O pai se frustra com a reação do filho. E a alegria, geralmente, tem prazo curto de validade para a criança. É o tempo de expor para os amiguinhos ou brincar meia dúzia de vezes, e o brinquedo cai no esquecimento, e vira depósito de poeira. Com o passar do tempo, percebi que essa era uma reação natural dela e de boa parte dos pequenos que são presenteados com frequência. Há casos ainda mais complexos e frustrantes, o de pais que fazem de tudo para proporcionar a viagem dos sonhos dos filhos, (ou que imaginam ser). Um dos destinos mais procurados são os parques da Disney, em Orlando, nos Estados Unidos. Obsessivos com essa meta, alguns concluem que, quanto mais cedo conseguirem alcança-la, garatem a carteirinha eterna de bom pai.
"Procure recordar o que o seu pai fazia e o deixava feliz quando era criança"
Porém, a viagem dos sonhos pode virar um pesadelo ou cair no esquecimento. Explico: o pai que fez tanto esforço para proporcionar a felicidade mágica do mundo encantado da Disney, não entende a irritação da criança após horas esperando numa fila ou reclamando de dor nos pés depois de horas caminhando. A surpresa desagradável pode vir mais tarde, quando o pai fica infeliz ao ouvir o filho relatar que não recorda quase nada da viagem inesquecível, afinal, ela foi feita quando ele tinha menos de seis, sete anos. Lembre-se: há pequenos esforços que resultam em momentos inesquecíveis de alegria para o seu filho. Outro dia, percebi que faço a minha filha feliz quando esquento suas pernas na hora de dormir, quando leio um livro, quando fico junto rindo de um desenho bobo ou se danço desengonçada pela sala com o pequeno no colo.
Procure recordar o que o seu pai fazia e o deixava feliz quando era criança. Simplesmente pare tudo para escutar seus filhos por alguns instantes, sem interrompê-los com perguntas sem sentido. Avalie se ficar em casa não pode ser mais divertido do que fazer uma maratona de atividades no parque ou no shopping.
Ticiana Fontana