É comum ver atores e atrizes, mesmo os mais introspectivos e reclusos, aceitando convites para falar com a imprensa às vésperas do lançamento de um filme ou uma peça de teatro. Muitas vezes, essas são boas oportunidades para desvendar o ser humano que existe por trás das chamadas celebridades. Com a gaúcha Bárbara Paz não foi diferente. Depois de viver a ex-prostituta Edith na novela Amor à Vida, ela desembarca em Porto Alegre para uma rápida temporada do espetáculo Hell. Para divulgar a peça que entra em cartaz em 14 de fevereiro, no Theatro São Pedro, Bárbara topou falar com Donna por e-mail. Respondeu que não falaria sobre vida pessoal diante de perguntas que incluíam o não confirmado (mas dado como certo pelo jornal O Globo) fim do casamento de quase quatro anos com o cineasta Hector Babenco, 30 anos mais velho do que ela, e as lembranças da vida familiar no Rio Grande do Sul. Garantiu que discorreria com o maior prazer sobre assuntos como carreira e beleza, desde que a revista não publicasse nenhuma biografia sua baseada em pesquisas no Google.
#DonnaRetrô: 10 momentos marcantes da carreira de Bárbara Paz
Não chega a ser preciso recorrer ao site de buscas mais acessado do planeta para lembrar de episódios marcantes da carreira e da vida de Bárbara Paz, que completa 40 anos em 17 de outubro.
Caçula de quatro irmãs, filha de um ex-prefeito de Campo Bom, Bárbara perdeu os pais cedo. Diante da ausência das figuras materna e paterna e com as irmãs já casadas, resolveu partir para São Paulo atrás do sonho de ser modelo. Seis meses depois, um acidente de carro deixou como herança duas profundas cicatrizes que marcaram para sempre seu rosto e sua vida. Um resquício delas, minimizadas em incontáveis cirurgias plásticas, ainda podia ser vista em sua primeira aparição na televisão. Em 2001, Bárbara participou do reality show Casa dos Artistas, no SBT. Conquistou o público com sua sinceridade, sagrou-se campeã e, ao final da atração, garantiu o papel de protagonista de Marisol na emissora de Sílvio Santos. Entre uma novela e outra, descobriu o teatro e o cinema. Sempre chamou atenção em cena. Em 2003, ganhou o Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado pelo curta Produto Descartável.
Não demorou para ser convidada a integrar o elenco de estrelas da Rede Globo - com papéis de destaque, como a problemática Renata, de Viver a Vida, que sofria com o alcoolismo e a anorexia nervosa. Edith, de Amor à Vida, catapultou-a à galeria de grandes artistas capazes de se entregar de corpo e alma aos personagens mais complexos e inquietantes - e revelou todo seu potencial dramático em horário nobre. Apesar de funcionar bem na televisão, é no teatro que Bárbara se realiza e se completa. Admite que a amplitude do palco a liberta das cicatrizes e possibilita uma entrega total. É exatamente esta entrega que ela promete agora aos conterrâneos gaúchos.
Em Hell, Bárbara vive uma mulher fútil e consumista, que preenche a vida com sexo, álcool, drogas e roupas de grife. Vem amealhando elogios da crítica desde a estreia. "Não havia dúvida de que o drama Hell seria construído sob medida para o talento de Bárbara Paz. A atriz brilha no palco", escreveu o crítico da revista Veja São Paulo, Dirceu Alves Jr. "Na pele da protagonista, Bárbara aproveita a chance, garante o interesse e justifica a montagem".
"Dirigir a Bárbara é como tentar seguir e acertar um pássaro, pois ela é imprevisível e impossível ao mesmo tempo na forma na qual inventa uma ação e dá vida a ela e depois vem a repetição, o polimento e a consciência da ação representada. Esta é a Bárbara, um bicho teatral."
Hector Babenco
:: Novela
Edith (da novela Amor à Vida) foi um personagem muito marcante, adorável de fazer, cheio de conflitos, relacionamentos, altos e baixos, história de vida. E ser casada com o grande vilão Félix não tem preço. Ele será inesquecível, e eu serei a eterna mulher de Félix. Foi uma experiência incrível repetir essa parceria com Mateus Solano.
:: Teatro
Teatro é a minha casa, o lugar para onde sempre vou retornar. Viver Ella, ser Hell, a menina francesa rica e cheia de vícios, arrogante prepotente e apaixonada é um grande desafio diário. Farei Gata em Teto de Zinco Quente, de Tenesse Williams, com direção de Eduardo Tolentino, com o Grupo Tapa. Este é meu grande sonho e está prestes a se realizar, este ano ou, mais tardar, ano que vem. Estamos à espera de patrocínio.
:: Velhice
Às vezes, o envelhecer me assusta. Mas vou envelhecendo e sinto que vou ficando melhor. Se existe alguma coisa que me dá medo na terceira idade, é a solidão. Mas quero chegar lá escrevendo mais, dirigindo mais e atuando mais.
:: Beleza
Beleza é estar bem comigo mesma, estar de bem com a vida, olhar para dentro de mim e gostar do que vejo. Claro que nem sempre isso acontece, por isso temos que trabalhar a cabeça além do corpo. Beleza de verdade é o conjunto dessas duas coisas. Me alimento muito bem, não como frituras, não bebo refrigerantes, mas muito líquido, sucos orgânicos e nada de lactose. Faço ioga, musculação e funcional - dependendo do dia e do trabalho. Minha pele está sempre protegida com filtro solar e vivo sob cuidados dermatológicos.
:: Fé
Creio naquele Deus que mora dentro de mim. Sou católica de nascimento e budista pela crença. Rezo sempre para todos os deuses que acredito, seja católico, budista ou os meus deuses do teatro. Tenho muita fé. Sem ela não chegaria onde estou. Se acredito em vida após a morte? Às vezes sim, às vezes não. Mas creio que tem algo maior, uma energia maior que é a alma. O corpo morre, mas algo fica.
:: Alma gaúcha
Tomo chimarrão todos os dias. Quando acordo, levo para o Projac; quando pego a estrada, tenho que ter sempre a cuia e a térmica de água quente junto comigo. Sinto falta do cheiro e da beleza dessa terra, das pessoas, de não ter tanta pressa. Tento sempre voltar para visitar meus parentes, mas minha vida é sempre muito corrida. Fico até dois anos sem ir ao Estado, mas, sempre que posso, volto para minhas origens. Se tivesse um dia de folga, passearia na beira do Guaíba.
Bárbara indica
- Invasões bárbaras
- Tudo sobre minha mãe
- Anticristo
- Amores brutos
E justifica...
São filmes de cineastas que amo, como Pedro Almodóvar e Lars Von Trier. Retratam a vida de forma crua e com beleza infindável. Meu maior hobby é ir ao cinema. Sou cinéfila, vou toda semana. Cinema é o meu silêncio, onde entro em outro mundo.
Autores em sua estante
- Fernando Pessoa
- Philip Roth
- Paul Austler
- Miranda July
- Simone de Beauvoir
- Roberto Bolaños
- Daniel Galera
- Mario Quintana