No Rio de Janeiro, o ingresso mais barato para um baile funk na Favela da Rocinha custa R$ 150 - quem vive na comunidade, portanto, não tem dinheiro para entrar. Promovido e frequentado pela elite carioca, o Baile da Favorita recebe figurões e celebridades do país inteiro. Alguns chegam à cidade de jatinho, saracoteiam a noite inteira no barracão na entrada do morro e só no dia seguinte voltam para casa.
Desde que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram instaladas, desbaratando a soberania dos traficantes, as favelas do Rio vivem uma transformação insólita. No topo do Morro do Vidigal, onde a vista é paradisíaca, um hotel cinco estrelas e um albergue com restaurante e clube de jazz estão em construção. O artista plástico Vik Muniz e o empresário Rene Abi Jaoudi compraram casas na favela, que já conta com bons restaurantes para atender turistas.
- É o turismo do exótico, que abrange inclusive frequentar um baile funk no morro. Estar em um local que antes era inacessível, presenciar rotinas e pessoas diferentes daquelas com que você convive, tudo isso provoca nas pessoas uma curiosidade histórica. Na época das Grandes Navegações (entre os séculos 15 e 17), os europeus ficaram encantados com outras formas de organização social - diz a antropologa Ilana Strozenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Desde o início do ano, grande parte dos hotéis do Rio oferece gratuitamente o Guia das Favelas, uma publicação de 88 páginas - em português e inglês - com sugestões de programas culturais e gastronômicos em 11 comunidades pacificadas.
- No Rio, muitas favelas estão bem próximas de zonas nobres da cidade, ao contrário do que ocorre em Porto Alegre e São Paulo. Isso sempre permitiu um contato mais constante entre pessoas de diferentes segmentos sociais - analisa o historiador Micael Herschmann. - De um modo geral, não acho negativa a aproximação que ocorre hoje. Me parece um pequeno passo em um processo de integração social muito bem-vindo.