Já passam das quatro da manhã - as paredes da vila ainda tremem, as janelas vibram e os vira-latas se escondem morro abaixo.
É violento o som que escapa do galpão situado em uma ruela de chão batido no Campo da Tuca, comunidade pobre da zona leste de Porto Alegre. Lá dentro, na penumbra do baile funk, o pancadão fica mais nervoso com a profusão de luzes piscantes e com a letra que anuncia: "Vou falar as quatro coisas que toda bandida gosta / Carro, dinheiro, luxo e piroca". Centenas de garotas empinam os glúteos para rebolar.
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Boa parte delas vive ali mesmo ou nos arrabaldes, mas há forasteiras por todo lado - um exemplo é a estudante de Direito de 22 anos que pede para a reportagem ocultar sua identidade. Seu pai, um fazendeiro abastado com quem ela mora em uma casa de quatro pisos na Capital, não sabe que a filha frequenta a festa no meio da vila. No escritório onde estagia, talvez a informação pegue mal.
- O preconceito é enorme, mas entre os jovens isso está mudando. Na faculdade, quando digo que venho aqui, minhas colegas ficam curiosas e me pedem para trazê-las. Tem vindo muita gente de classe alta para cá - conta a garota de olhos azuis, exibindo cabelo e relógio dourados, gritando para ser ouvida enquanto a música proclama: "Hoje minha vida é outra, tô na vida de bacana / Meu dormitório parece boate, mais de 10 minas na cama".
Rico nenhum fica parado
Atraídos pelo embalo do funk, jovens de classe alta frequentam bailes em morros e vilas de Porto Alegre
Do Campo da Tuca ao bairro Mário Quintana, a periferia nunca recebeu tanta gente endinheirada
Paulo Germano
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