Faz uma década, minha esposa e eu construímos um jardim absurdamente ambicioso que envolvia cercas feitas em casa, uma latada de taquara e corda para o feijão e, para mim, cerca de 10 horas extenuantes atrás de uma capinadeira.
Enquanto plantávamos, um vizinho caminhando a passos largos brincou:
- Plantando comida para veados?
Hilário!
Semanas mais tarde, com nossa pequena granja se aproximando de uma grande colheita, acordamos e vimos a cerca derrubada, a latada esmagada e não havia mais as hortaliças.
Foi o "granjagedom". Ou o inferno.
Desde então, tenho evitado a horticultura e não apenas por causa do veado. Cirurgias no joelho e no cotovelo mataram o pouco entusiasmo que eu tinha para cavar e me ajoelhar, assim limito minhas atividades de colheita ao canteiro de hortifrútis.
Nos últimos anos, no entanto, escutei falarem tanto nas virtudes das ferramentas de jardinagem ergonômicas que pensei que valeria a pena tentar novamente. Porém, em primeiro lugar, falei com um trio de especialistas em jardinagem: Barbara Pleasant, autora sobre o tema e editora colaboradora de "Mother Earth News", Pam Ruch, que administrou os jardins laboratório da revista "Organic Gardening" e Bruce Butterfield, diretor de pesquisa da Associação de Jardinagem dos Estados Unidos.
Minha pergunta: o zum-zum-zum a respeito das ferramentas de jardinagem ergonômicas não passa de barulho ou realmente aconteceram inovações legítimas nos últimos tempos? As respostas podem colocar hortifrútis fresquinhos na mesa da minha família (se o veado não entrar na minha nova horta antes).
- Quando entrei na área 30 anos atrás, as ferramentas manuais tinham cabos de madeira que apodreciam e soltavam cavaco, e as únicas enxadas disponíveis eram feitas para capinar algodão. As ferramentas leves de hoje em dia com cabos fáceis de segurar são melhores? São, sim - disse Pleasant.
Segundo meus entrevistados e outras pessoas, boa parte dessa melhoria aconteceu nos últimos anos, quando os varejistas se afastaram da abordagem "um tamanho serve para tudo".
A primeira dessas ferramentas que vale a pena ser mencionada é a única que o trio elogiou sem reservas: a sachola e capinadeira Cobrahead, fabricada em Cambridge, Wisconsin. A ponta útil da ferramenta parece um gancho de estivador, mas achatada, lembrando uma naja. O artigo tem duas versões, para trabalho próximo ou em pé.
Pleasant disse ter "ficado meio viciada nela".
Para Butterfield, trata-se da ferramenta mais eficiente para tirar pragas.
- E ela é feita como um caminhão basculante russo, então não quebra - completou.
Ruch admitiu que o cabo convencional não é lá muito "ergonômico" na era dos instrumentos moldados revestidos de borracha.
- Contudo, é a melhor ferramenta universal para a horta ou jardim porque não é preciso girar. Você meio que perfura o solo, então emprega os músculos do braço e não o punho, uma área de real vulnerabilidade.
Floricultores e paisagistas também a conhecem bem, principalmente quem já passou o dia com um conjunto ruim de podadores.
Ruch prefere a tesoura de poda clássica ao modelo com bigorna pela facilidade de uso.
- E todo mundo adora os podadores da Felco. Dá para comprar peças de reposição para elas, o que é ótimo. Já as tesouras de poda da Bahco ficam afiadas mais tempo, e nunca perdi uma peça delas. Eu posso trocar minha lealdade.
Bahco e Fiskars vendem podadores com cabos que rodam para frente quando apertados, reduzindo ainda mais a força da mão e do punho. (Experimentei a Professional PXR-M2, da Bahco, e a PowerGear da Fiskars.) No ano passado, a Fiskars acrescentou um revestimento de gel à tesoura de poda para conferir conforto superior, e ainda pesa menos do que a PXR-M2, da Bahco.
Pus a PowerGear da Fiskars nas mãos da minha esposa, responsável pelas podas na nossa casa, e os olhos dela se iluminaram.
A tesoura de poda de 1,9 centímetro ComfortGel, da Corona, destinada a trabalhos menores do que os modelos da Fiskars e Bahco por mim testados, era mais leve do que ambas e, embora o cabo da ComfortGel não girasse, era muito confortável de segurar.
Para funções de plantar e cavar que não machucam as juntas, as ferramentas curvas estão se tornando mais comuns. Elas permitem que os usuários alinhem os pulsos de acordo com a preferência.
Pleasant e Ruch recomendaram a Transplanter Pro, da Radius, similar a uma pá e que conta com cabo circular e lâmina mais estreita. A Radius também faz uma linha de ferramentas de mão para o jardim, incluindo pá, sachola, transplantadora, capinadeira e espátula, todos com cabo curvo.
Talvez nenhuma outra ferramenta represente a velha abordagem de "um tamanho serve para tudo" no caso de jardinagem e horticultura do que a pá. Ruch disse ter ouvido coisas boas a respeito, mas que ainda não havia testado a HERShovel, criada para mulheres.
A HERShovel foi desenvolvida pela Green Heron Tools, empresa iniciante com sede na Pensilvânia e comandada por duas mulheres que pediram a ajuda de pesquisadores de ergonomia e agricultoras. O resultado é uma pá com pegador em formato da letra D, cabo mais curto e lâmina curva com área maior para colocação do pé. Segundo os fabricantes, o design se vale do fato de as mulheres recorrerem mais à força da parte de baixo do corpo ao usar a ferramenta.
A pá pesa apenas 1,8 quilo e vem em três tamanhos. A versão maior funcionou bem para mim; gostei do cabo tanto quanto a do Transplanter Pro, e as duas se mostraram consideravelmente melhores do que minha velha pá da Idade da Pedra.
Eu as utilizei enquanto experimentava um novo método de horticultura ergonômica, chamada de elevada. A ideia é bastante simples: quando o canteiro fica em uma plataforma, não é necessário se curvar.
Logicamente, você não precisa de pá para começar a não ser que, como eu, precise limpar um trecho de três metros de forsítias para abrir espaço. O serrote japonês 396 JT, da Bahco, e, especialmente, o aparador PowerGear, Fiskars, recomendado por Ruch, funcionaram bem nos galhos mais grossos das forsítias. Tentei um novo par de tesouras de podar da concorrência vendida para paisagistas profissionais e, consideravelmente, precisei de menos esforço para cortar os galhos grossos.
Depois de arrastar duas lonas enormes cheias de galhos de forsítia e um carrinho lotado com quase 35 quilos de raízes, montei o canteiro elevado (da Gardener's Supply) em cerca de meia hora.
De acordo com o vendedor da Gardener's Supply, eu deveria evitar o uso de terra nesse tipo de canteiro porque existe a tendência de comprimir demais. Em vez disso, a empresa recomenda fibra de coco, feito com as cascas descartadas de coco e que dura de três a quatro colheitas.
Se você escolher o canteiro elevado por questões ergonômicas, tenha em mente que a fibra de coco vem em tijolos que devem ser molhados e quebrados antes da utilização. No meu caso, tive de molhar 35 tijolos, cada um com 600 gramas. Isso antes de acrescentar o peso da água (cerca de três quilos por tijolo). Para o meu jardim elevado, transportei quase 130 quilos de material, em vários lotes, ao longo de duas horas.
A menos que você possua uma pia gigante na altura da cintura, ou convoque os filhos adolescentes para o serviço, é aconselhável terceirizar essa etapa do projeto.
Para o transporte, Butterfield sugeriu o carrinho de mão True Temper Total Control, lançado pela Ames em 2010 e que também conta com cabo redondo. Fiquei em dúvida até que vi minhas mãos ocupando a maior parte da superfície do cabo ao transportar e descarregar. Depois, estava convencido.
Eu plantei tomate, pimenta, beterraba, cenoura e alface (sim, eu sei que já passou a época) e adorei o fato de que mal precisei me curvar para plantar, e mal terei de me encurvar para colher.
Pensando bem, nem o veado.