Mulheres das gerações X (30 a 45 anos), Y (20 a 29 anos) e Z (nascidas na década de 1990) dividem cada vez mais o mesmo ambiente corporativo e, aos poucos, vão aprendendo a lidar com os conflitos do dia a dia. Uma pesquisa da Bridge Research, realizada com trabalhadoras das classes A e B da Grande São Paulo, mostra que a maneira como elas lidam com a profissão ou elegem prioridades na vida pessoal difere da dos homens e já influencia o mercado. Este avanço feminino no mundo do trabalho expõe conflitos e características comportamentais próprios.
Nascidas ou criadas em meio ao avanço digital, as mulheres classificadas nessas três categorias experimentaram conquistas graduais de liberdade e de autonomia ao longo do tempo. No estudo Convivência no mercado de trabalho, é possível verificar que homens e mulheres encaram as disputas, as desavenças e os consensos profissionais cada um a seu modo. O coordenador da pesquisa e presidente da Bridge Research, Renato Trindade, explica que, com as mulheres, isso é percebido até mesmo dentro da mesma geração.
- Os conflitos no mercado masculino também existem, mas são por questões de reconhecimento financeiro. No caso feminino, os conflitos são comportamentais e em relação à posição na hierarquia - reforça.
De acordo com o estudo, o ponto primordial para explicar essas diferenças está na forma como elas veem o trabalho. A mulher da geração X coloca o emprego em primeiro lugar e se dedicou exaustivamente durante toda a vida para chegar a um patamar que considera adequado. A mulher Y, por sua vez, almeja conquistas profissionais importantes, mas não quer repetir os erros da anterior, acredita no acaso, mas investe em cursos fora do país, além de buscar um equilíbrio maior na vida pessoal. As representantes da Z, porém, não aprenderam a esperar, percebem o trabalho como um mal necessário e, mesmo assim, desejam reconhecimento.
Apesar das particularidades, todas elas escolheram a carreira muito jovens e não planejaram a trajetória profissional, o que impede um plano maduro para sua posição no mercado. A economista e pesquisadora de gênero nas organizações Tânia Fontenele diz que tanto as mulheres da geração X como as da Y têm a percepção de que podem ser o que quiserem. Segundo ela, são mais flexíveis e exigentes em relação à satisfação pessoal.
- Muitas vezes elas têm total capacidade de ocupar cargos de gestão, mas não o fazem por escolha. Essa é uma visão que a mulher da geração anterior não tem. Elas queriam esses cargos mais que tudo. São conexões diferentes - compara.
A convivência entre trabalhadoras dessas faixas etárias se torna difícil porque, conforme o pesquisador Renato Trindade, elas não têm consciência clara das características de cada uma.
- Para que, no ambiente profissional, elas sejam mais produtivas, têm que entender como cada uma é. A mulher X tem que baixar a guarda, porque ao contrário do que ela pensa, a Y não quer roubar o lugar dela, mas só não vê lógica em hierarquia. A Y tem que questionar menos e respeitar o esforço que a X faz pelo trabalho. E a Z tem que ser menos ansiosa, ter mais calma porque o seu momento ainda vai chegar - justifica.
Critérios
A pesquisa da Bridge Research identifica que elas usam critérios distintos para escolher os personagens que servem de modelo para a carreira. A X elege alguém que admira e tem empatia, alguém próximo que a ajuda a tomar decisões, um chefe que se torna referência. No caso da Y, a influência é uma figura de maior destaque e, algumas vezes, inatingível, como um executivo de uma grande corporação mundial ou um estadista: Steve Jobs ou Bill Clinton, por exemplo. No caso da Z, a referência está associada a um protetor, uma figura paterna que pacientemente ensina, protege e prepara a jovem profissional para a dura realidade.
Conforme o levantamento, essas características foram moldadas de acordo com as ferramentas tecnológicas a que cada uma das gerações teve acesso, como explica Renato Trindade, coordenador do trabalho:
- A geração X nasceu com o computador; a Y, com a internet; e a Z, com os ambientes virtuais. Tudo isso está disponível em todo o mundo. Então podemos identificar essas características em todo o país e também em todo o mundo com pequenas singularidades e desníveis.
Competição
A pesquisa integra um módulo do estudo "Geração Y" desenvolvido pela Bridge Research em novembro passado, baseado em entrevistas com uma amostra de 672 pessoas na Grande São Paulo, no Grande Rio de Janeiro e na Grande Porto Alegre.
A convencional substituição de uma geração de executivos por outra, que deveria transcorrer na mais perfeita tranquilidade, teve o curso alterado por uma nova disputa de poder. Questionadores e com pressa para ascender na carreira, integrantes da geração Y passaram a disputar cargos com o profissional X.
A pesquisa sobre a geração Y foi feita para tentar entender se o mercado de trabalho está preparado para receber esses profissionais. Eles têm novos valores e comportamentos desenvolvidos a partir da integração da tecnologia ao cotidiano. No ambiente de trabalho, crescer e ganhar dinheiro é a mola propulsora da Y. Trata-se de uma geração altamente ligada ao modelo de negócios atual.
Características de cada geração
Geração X
Para a mulher dessa geração, a carreira é prioridade. A família e os amigos ficam em segundo plano. Todos os relacionamentos estão, de certa forma, permeados pela esfera profissional e, ao mesmo tempo, limitados. O trabalho é fonte de realização e status para ela. Profissionalmente, a mulher é assertiva. A chefe X costuma ser objetiva, comprometida com resultados, competitiva e responsável. Preza pela hierarquia e pela formalidade.
Geração Y
É o começo do movimento de ascensão da carreira, mas a mulher ainda procura equilibrar o tempo. Deseja manter uma vida social ativa. Família e amigos são importantes, mas a profissional Y tenta dividir bem as tarefas. O trabalho, para ela, é a afirmação da maturidade perante a sociedade. A mulher Y apresenta a faceta mais humana do ambiente coorporativo, mostrando-se acessível, bem informada, flexível e adaptável. Gosta do trabalho em equipe.
Geração Z
É uma profissional muito infantilizada e ingênua. Sua vida gira em torno dos pais, sua principal referência. Para a mulher dessa geração, trabalho e estudo são um mal necessário. A vida é uma festa. A estagiária Z é a profissional com mais energia em estado bruto. Ansiosa por conhecimento, quer encontrar um caminho na carreira logo (e se possível) nas primeiras experiências profissionais.