Nos poucos instantes em que esteve longe do alcance da visão dos pais, Juliane Azevedo Soares, 10 meses, pôs na boca uma pilha em formato de moeda e ficou engasgada. O acidente aconteceu na noite de sábado, em Caxias do Sul. mas o drama da família Azevedo Soares deve durar até amanhã, quando a menina terá alta do Hospital do Círculo. O caso serve de alerta aos pais para a importância de prevenir acidentes domésticos.
Ao voltar para o quarto depois de ter ido até a cozinha para tomar água, Caroline Azevedo, 25 anos, viu a filha caçula com dificuldade para respirar.
Eram 23h30min. Começava ali o desespero da família para salvar a menina. O pai, Oxilei Soares, 25, que estava dormindo no momento do acidente, foi acordado e tentou ajuda pelo 190 (número da Brigada Militar). Pelo telefone, ele repassava as manobras indicadas por uma policial para que o objeto ingerido fosse expelido. Porém, em razão do nervosismo, eles não conseguiam executar as orientações, e não sabiam o que o bebê havia engolido.
- Chamamos atendimento médico de urgência e fomos para o hospital. Pelo raio X, deu para ver que tinha um objeto preso, mas não sabíamos o que era. Parecia uma moeda. Somente às 11h de domingo o objeto foi retirado, daí vimos que era uma pilha, possivelmente de um brinquedo - conta Soares.
A pilha era redonda, do tamanho de uma moeda de 10 centavos. O objeto estava preso na entrada do esôfago da menina. Juliane deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ontem.
Conforme o médico gastroenterologista pediátrico Charles Angeli, também secretário do Departamento de Pediatria da Associação Médica de Caxias do Sul (Amecs), a ingestão de pilha por crianças é menos comum do que de moeda, mas a retirada de pilha deve ocorrer em um intervalo de, no máximo, quatro horas. Isso por causa do risco do vazamento de elementos químicos que podem provocar queimaduras.
Angeli alerta:
- Muitos pais recompensam os filhos com moedas por terem comido tal coisa, por ter ido ao médico. Orientamos que não sejam dadas moedas para menores de 10 anos. As crianças colocam na boca por curiosidade ou brincadeiras - explica.
Moedas são um perigo
Em Caxias, de acordo com o médico Charles Angeli, há uma média de 10 casos por mês de crianças que ingerem moedas.
A prevenção é a melhor forma de se evitar acidentes. Até os dois anos, quando os pequenos estão na fase oral, em que tendem a colocar tudo o que pegam na boca, os cuidados devem ser redobrados.
- A vigilância das famílias deve ser constante. As crianças não podem ficar sozinhas. E não se pode deixar objetos pequenos ao redor. Elas (as crianças) são muito rápidas, da mão vai para a boca. Quando começam a engatinhar, é preciso ter certeza de que não há nenhum objeto pequeno por perto - aconselha o médico.
Tampinhas, joaninhas, alfinetes e pregos também representam riscos de serem engolidos. Até prendedores de cabelos que as mães usam para enfeitar a cabeça das meninas são perigosos.
Quando o corpo estranho se aloja no aparelho digestivo, a gravidade depende do caso. A não ser que seja um prego, que possa perfurar algum órgão, ou, como no caso de Juliane, uma pilha.
Angeli desaconselha manobras, como tapinhas nas costas, para a retirada de objetos.
- Se a criança engoliu um objeto e ele estiver na entrada do esôfago, quando for feita a manobra, a criança pode aspirar e o corpo estranho ir para as vias aéreas - explica.
- Não deixe ao alcance das crianças objetos pequenos, como tampas de garrafa, peças de brinquedo, alfinetes, pregos, moedas e pilhas
- Somente tente retirar objeto que a criança colocou na boca se o material ainda estiver na boca. Se não estiver mais, leve-a para um hospital
- Não realize manobras em casa para retirar objetos. Elas são válidas mais quando a criança se engasga com líquidos. Nesse caso, podem ser dados tapinhas nas costa, a criança pode ser virada de cabeça para baixo e de bruços.
- Observe se a criança está com falta de ar, tosse, se ao respirar há ruído, se estiver roxa. Nestes casos, o corpo estranho pode ter sido aspirado para as vias aéreas. Procure imediatamente um hospital.
Cuidados
Observe as especificações das faixas etárias indicadas nas caixas de brinquedos ou outros produtos. Eles devem ser grandes para não serem engolidos e resistentes para não quebrarem.
Fonte: gastroenterologista pediátrico e secretário do Departamento de Pediatria da Associação Médica de Caxias do Sul (Amecs), Charles Angeli.