É comum a todos os futuros papais, principalmente nos de primeira viagem, uma mistura de emoções ao se defrontar com a paternidade. Trata-se de uma situação totalmente nova. Com a mulher é um pouco diferente. Assim que se descobre grávida, ela já se sente mãe. O homem precisa de um tempo para digerir a novidade e sentir-se parte desta família que está se formando.
- O fato de tornar-se pai desperta, em muitos homens, um senso de responsabilidade que traz muitas ansiedades, muitas dúvidas. Ele se pergunta se será capaz de desempenhar este papel pelo menos de forma razoável - explica o psicólogo e psicanalista Rubens de Aguiar Maciel. Professor na Universidade de São Paulo (USP), é considerado um dos poucos especialistas do país na questão da paternidade.
Ele diz que, quando se trata do primeiro filho, os pais não sabem o que os espera.
- Eles têm dúvidas se serão capazes de prover os filhos, de manter o emprego, de ser amorosos, de dar bons exemplos. Muitos não concordam com a educação que receberam de seus pais, esperam ser diferentes, mas não sabem se têm capacidade e flexibilidade para se modificar - explica.
O psicólogo afirma que, apesar de todas as dúvidas, o fato é que o pai tem uma função muito importante na formação da personalidade e no aspecto emocional da criança que está chegando.
O papel do pai na história
- O papel do pai passou por mudanças no decorrer dos tempos. Houve épocas em que ele era um ditador de regras e normas a serem obedecidas.
- Historicamente, o pai nunca foi uma presença muito constante no cotidiano doméstico. Sempre coube ao homem o papel de prover o sustento da família. À mulher, pelo menos até algumas décadas atrás, cabia o cuidado com a casa e a educação dos filhos.
- No início do século passado, o pai ainda desempenhava, essencialmente, uma função educadora e disciplinadora, frequentemente rígida e muito repressiva.
- Depois da II Guerra Mundial e em consequência de alterações profundas que se deram na sociedade ocidental (ambos os pais empregados e as dificuldades econômicas), o pai foi se tornando cada vez mais participativo.
- A partir do momento em que a mulher foi para o mercado de trabalho, o homem passou a sentir-se mais responsável pelo que acontece em sua casa e com os seus filhos.
- Para a grande maioria dos pais, o maior desafio tem sido o de assumir esse papel de participante ativo do quotidiano familiar, de acompanhar a escola e as conquistas das crianças e de ser a fonte de apoio quando os filhos precisam de segurança.
- O pai foi invadindo, progressivamente, o território anteriormente propriedade quase exclusiva da mãe e tornou-se tão competente no trato com os filhos que as diferenças entre pai e mãe são cada vez mais individuais do que de gênero.
Fonte: Psicólogo Luiz Castanheiras
"Uma emoção danada"
Baseado inteiramente em fatos reais, escrito com humor sincero e apaixonado, o jornalista Renato Kaufmann conta no livro Diário de um Grávido como é atrapalhada e emocionante a gravidez do ponto de vista masculino e o processo de tornar-se pai. Ele fala sobre esse novo desafio, desde o pânico do dia da "fatídica" notícia até alguns dias após o nascimento de sua filha, Lúcia.
O livro foi inspirado no blog de mesmo nome (www.diariogravido.com.br), que alcançou uma legião de fãs e se tornou referência de uma nova geração de pais ativos e participantes.
Em um dos textos, o jornalista conta como foi o tão esperado nascimento da filha:
"Lúcia nasceu no sábado, às 18h19min. Não tive tempo nem de tomar cachaça. Assisti à cesariana e não desmaiei. Mãe e filha passam bem. Já o pai passa mal de tanta emoção. Nunca fui tão feliz", revela.
Ao concluir o livro, Renato conta sobre o orgulho de ser pai e da felicidade de compartilhar a vida da filha.
Nesta entrevista ao Diário Catarinense, ele relata, sempre com seu humor peculiar, um pouco da emoção da paternidade.
DC - Como foi saber que sua namorada estava grávida? Você ficou muito assustado?
Renato Kaufmann - Para mim, foram três os momentos-chaves. Se, para as mulheres, a gravidez é um processo, literalmente, de dentro pra fora, no homem é o contrário, de fora pra dentro. Momentos de pânico até na mais planejada gravidez. O segundo momento-chave foi o primeiro ultrassom. É o impacto visual, tem um feijão na tela que dizem ser seu descendente. E no meio do feijão tem uns pixels piscando, e você descobre que é o coração do seu feto. É quando você confirma de vez o que está acontecendo na sua vida. O meu terceiro momento foi quando minha mãe trouxe a primeira roupa de bebê, um macacãozinho amarelo. É quando a ideia toma corpo, já que seu feto vai crescer até preencher o espaço daquela roupinha. É uma emoção danada!
DC - Nos nove meses da gestação, estes sentimentos passaram por mudanças?
Renato Kaufmann - Bom, o amor só aumenta, e começa a rolar uma preocupação, se está tudo bem, se o bebê é saudável, como será a carinha de joelho dele... Se vai parecer o joelho do pai ou o da mãe... Ou o do leiteiro.
DC - E após o nascimento do bebê?
Renato Kaufmann - O nascimento do bebê é um alívio para o pai, primeiro pra confirmar que está tudo bem, que são 20 dedos distribuídos em grupos de cinco. E até esse momento a atenção ao bebê passava pelo corpo da mãe. Quando nasce, começa uma relação pessoal entre pai e filho. Mas no começo é difícil, primeiro, porque o bebê tem esse elo magnífico com a mãe, uma intimidade ímpar, e o pai precisa se apresentar.
DC - Em algum momento da gravidez e dos primeiros meses de vida da filha você se sentiu meio excluído da família?
Renato Kaufmann - Não me senti excluído, até porque participei de tudo, fralda, banhos, madrugadas. A atenção da mãe se volta pro bebê, mas a do pai também. É um momento delicado pro casal, mas que faz parte. Tem que ter paciência, já que, a princípio, isso passa.