O escritor Fabrício Carpinejar publicou um texto enaltecendo as qualidades de Pernambuco nas redes sociais. A intenção do poeta foi responder um comentário considerado xenófobo do deputado federal eleito Alexandre Frota, que causou polêmica nos últimos dias nas redes sociais. Até o momento, a publicação do cronista tem mais de 340 compartilhamentos.
A confusão iniciou quando Frota disse que o Twitter era "a rede que mais tem professores, estudiosos, cientistas e lacradores culturais". Em resposta, um usuário disse que a rede social "também tem ator pornô que não paga a pensão do filho". Na tréplica, a personalidade disse que a pessoa "só podia ser de Pernambuco".
Na sua publicação, Carpinejar refletiu sobre diversos elementos culturais do Estado nordestino, como João Cabral, os bonecos de Olinda, Chico Science e a pedagogia de Paulo Freire.
Nesta quinta-feira, o deputado federal recém-eleito por Pernambuco e namorado de Fátima Bernardes, o advogado Túlio Gadêlha (PDT), apresentou uma denúncia no Ministério Público Federal daquele Estado contra Frota, por conta da publicação, acusando-o de xenofobia.
Leia na íntegra:
SÓ PODIA SER MESMO DE PERNAMBUCO
Fabrício Carpinejar
Só podia ser de Pernambuco a poesia geométrica de João Cabral, o teatro da vida real, a morte e vida severina. Só podia ser de Pernambuco o frevo, o maracatu, o Galo da Madrugada, a alegria ecumênica. Só podia ser de Pernambuco os bonecos de Olinda, o olhar oceânico do alto das igrejas e dos muros brancos. Só podia ser de Pernambuco a literatura de cordel, o raciocínio rápido do repente, a magia dos violeiros. Só podia ser de Pernambuco Manuel Bandeira e a Estrela da Manhã. Só podia ser de Pernambuco Nelson Rodrigues e o seu carinho pelos vira-latas mancos. Só podia ser de Pernambuco a infância misteriosa de Clarice Lispector, a descoberta da leitura. Só podia ser de Pernambuco Chico Science e o movimento manguebeat. Só podia ser de Pernambuco a cerâmica de Francisco Brennand e seus 1001 dias iluminados de esculturas e azulejos. Só podia ser de Pernambuco o modernismo de Cícero Dias, que já dizia em sua pintura: “Eu vi o mundo... ele começava no Recife”. Só podia ser de Pernambuco a pedagogia de Paulo Freire (do oprimido, da libertação, do compromisso, da autonomia e da solidariedade). Só podia ser de Pernambuco o cinema inovador de Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor” e "Aquarius") e de Cláudio Assis (“Amarelo Manga” e “Febre do Rato”). Só podia ser de Pernambuco a irreverência contagiante de Chacrinha. Só podia ser de Pernambuco a sociologia de Gilberto Freyre, profeta do multiculturalismo. Só podia ser de Pernambuco Vavá, o peito de aço, bicampeão mundial de futebol. Só podia ser de Pernambuco Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Só podia ser de Pernambuco o abolicionista Joaquim Nabuco. Tem razão.
Só podia ser mesmo de Pernambuco